José Antônio Karacek
Andei brigando com a vida, tempos atrás. Andava me queixando, que a grana é pouca, o trabalho é muito, e nem é bem o que eu gostaria de fazer. Os amigos estão muito chatos, os inimigos estão muito burros e eu devo estar mais. A cidade dorme, de dia e à noite. De manhã, acordar cedo, para ficar mais tempo tentando melhorar a vida… Daí, pensei em fazer um movimento contra a vida, de tanta raiva dela. Ir ao galho, não, que daí acabava muito rápido, dava nada. A vida é chata, sempre a mesma coisa: nasce, cresce, fica burro, casa (ou não), tem filhos, envelhece e morre. E sempre a mesma coisa, para todo mundo. Tem coisa mais chata? A gente ainda fica aí, fazendo poesia, dizendo que a vida é bela… Aqui, ó! A vida é aquilo que resolve ser – e nem põe Deus no meio, que a vida é a vida, e ponto! Se Deus deu, obrigado, Senhor, tá dada, não é mais dele.
A tal de vida poderia ser, por exemplo, tipo um casaco. Você tira quando tá quente ou põe para sair no frio. Se você não estivesse usando, ela que continuasse levando a vidinha dela, enquanto seu dono ia à praia, ou caia na gandaia, ou ia pra casa, dormir, ou cuidar dos bichos e das plantas. Pouquíssimo criativa, essa vida. Ela que leva a gente, mas a gente pensa que é ao contrário. A gente pensa que faz o que quer da vida. Mas é ela quem faz o que quer da gente. Se ela resolver “cair” um tijolo na sua cabeça, quando você passa num prédio em construção, quem ataca o tijolo? Só a vida mesmo. Ou tu vais atravessar a rua, vem uma bala perdida e te acerta bem no meio da testa? Coisas da vida… Esse movimento contra a vida pegaria por aí…
Aí a conclusão é que temos que fazer a vida mudar de vida! A gente tem nada que mudar a gente mesmo. A gente “estamos” certos, e tem nada que mudar a gente. Quem tem que mudar é a vida, elazinha mesma. O bicho-homem inventa tudo, literalmente, até computador, menos a vida. Essa ele vai demorar para inventar. É ela quem inventou a gente, e ainda não conseguimos dar a volta nela. E inventar a vida, a nossa vida.
Tem jeito não, É curtir a viajem e deixar rolar. Pode interagir, e conduzir sua vida para lá e para cá, mas ao final de cada dia, pergunte se você se divertiu. Se não então replaneje a rota, e siga em frente. No meio do caminho seja e faça feliz.