José Antonio Karacek
Quando se fala em tráfico e/ou consumo de drogas, a primeira coisa que se diz, é que a droga deveria ser liberada no Brasil, pois assim, o governo arrecadaria mais com os impostos sobre ela e o tráfico deixaria de existir, já que o preço cairia muito, por ser um produto legalizado e de fácil acesso.
Na América Latina – maior polo produtora de cocaína e maconha do mundo – debate-se a descriminalização, ou seja, não se configura crime o uso e o porte de certa quantidade, considerada para uso próprio.
Mas digamos, que a solução para o tráfico seja a legalização. Alguém acredita que os perigosos traficantes passarão, assim, num piscar de olhos, de criminosos a honestos comerciantes, pagando seus impostos em dia e trabalhando na legalidade como cidadãos de bens?
Claro que não!
Criminosos vivem da ilicitude. Se as drogas forem liberadas e a oferta derrubar os preços, os traficantes abandonarão este comércio e partirão para outras atividades ilícitas e mais rentáveis.
O Estado está sem saída, restando apenas tratar os dependentes, vítimas das ilicitudes dos criminosos.
Caro senhor,
precisamos considerar a realidade de que o usuário de droga não o é por uma condição genética que não lhe coube determinar e para a qual não contribuiu. Não é assim, O usuário de droga é viciado porque optou por sê-lo, porque quis sentir o prazer que outros dizem ser tão formidável. Pagou pelo risco. Traduzindo em miúdos, o problema original do viciado é psicológico, é de carência afetiva, e não de caráter policial, por exemplo, como depois passa a sê-lo. Por que o crack causa tanta celeuma na mídia e na população? Porque não só atingiu a classe média como também a classe privilegiada, a dos mais abastados. Enquanto permaneceu entre os pobres e miseráveis, a sociedade não se mexeu. Agora, querem consertar o pau que nasceu torto. É claro que fica muito difícil reverter esta situação . A legalização resolveria? Como saber? É claro que os traficantes mudarão as suas estratégias , passando a atuar mais nos assaltos a bancos, nos tráficos de órgãos e de pessoas e por aí vai. E poderia ser diferente? Parece-me que a solução a longo prazo (não vislumbro uma solução a curto prazo) passa pela não comercialização do ensino (acabar com a venda de títulos) e pela popularização do conhecimento e da cultura.
Os governos sempre procuraram manter o povo na escuridão porque assim pode dominá-los. Parece-me que chegou o momento de reverter esta situação. Alguns povos conseguem fazer esta reversão por meio de revolução, mas agora me parece que a própria sociedade está ávida por uma solução, de caráter social e não revolucionário. Não adianta ficarmos sentados esperando por um determinismo histórico que virá sabe-se lá quando resolver o problema. É preciso começar a resolver o problema hoje e não esperar que seja resolvido amanhã. A solução definitiva para este problema (se houver)só virá depois de amanhã! É preciso pelo menos começar a tentar!