Lino Tavares
Não sabemos que fenômeno acontece no Brasil de hoje que faz com que a renovação de nosso potencial humano aconteça, via de regra, de forma regressiva. Isso corresponde dizer que os nossos grandes e médios talentos de ontem, até mesmo de passado ainda recente, não encontram similares à altura nos que hoje afloram em todos os ramos de atividade deste país. Eu poderia me aprofundar a respeito disso, colocando em questão temas como o futebol, até hoje sem um novo Pelé; a política, no presente sem líderes carismáticos como Getúlio Vargas e JK, e tantos outros que se notabilizaram na segunda metade do século passado. Mas vou traçar esse paralelo apenas em relação à musica brasileira. E nem vou me reportar acerca do primeiro escalão da MPB, onde figuram nomes como Francisco Alves, Carmem Miranda, Ari Barroso, Elis Regina, Chico Buarque e outros de igual nível . Tomarei apenas como exemplo dessa perda de qualidade duas calouras de televisão, que interpretaram a mesma música, em épocas diferentes, separadas por um espaço de tempo de aproximadamente nove anos.
A primeira delas – a que cantou primeiro – chama-se Bruna Braga, a meu juízo uma das mais lindas vozes deste país, que passou pelo Programa Raul Gil, então veiculado na TV Record, em 2004, interpretando com raro brilho clássicos da MPB, do repertório de Cazuza, Gonzaguinha, João Bosco e outros cantores e compositores de primeira linha da música brasileira. Dentre suas várias interpretações, a que mais impressionou – ela própria admitiu isso numa entrevista concedida a mim – foi a música Chão de Giz, de Zé Ramalho.
Depois dessa passagem brilhante pelo programa de calouros, Bruna tornou-se parceira de outra ex-caloura, Keyla Vilaça, formando com ela a Dupla Bruna & Keyla, ora em fase de lançamento do primeiro CD gravado na Sony Music, mediante assinatura de contrato decorrente da vitória alcançada, ano passado, no Quadro Mulheres que Brilham, do Programa Raul Gil, levado ao ar no SBT.
Sábado último, na temporada deste ano do Quadro Mulheres que Brilham, uma jovem caloura de nome Mara Rúbia cantou Chão de Giz, cerca de nove anos depois de Bruna Braga tê-lo cantado de forma magistral, encantando o Brasil, como se fosse, já naquela época, uma expressão artística da música brasileira e não uma simples caloura. Sem a menor tentativa de querer menosprezar a interpretação dessa candidata do “Mulheres que Brilham de 2013”, que aliás não comprometeu em nenhum aspecto, ficou claro para mim e para muitos dos que assistiram a ambas as interpretações, que esta última – a de Mara Rúbia – não alcançou o nível daquela em que Bruna Braga levantou a plateia, arrancou elogios do júri e entusiasmou milhões de telespectadores, cantando de forma ímpar esse clássico brasileiro intitulado Chão de Giz.
Existe um provérbio que diz “Matar a cobra e mostrar o pau”. Inspirado nele, coloco à disposição do leitor os links das duas interpretações acima referenciadas, para que assista a ambas as apresentações e tire sua conclusão a respeito da comparação que coloco em xeque, como forma de demostrar que neste país a evolução do tempo tem significado, com relativa frequência, perda de qualidade nos diversos campos de atuação, notadamente na política, no esporte e na música.
Bruna Braga – Chão de Giz – “Quem Sabe Canta, quem não sabe dança” – Raul Gil – Record – 2004
Mara Rúbia – Chão de Giz – Mulheres que Brilham” – Raul Gil – SBT – 2013
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