Lino Tavares
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Certa vez, na faculdade de jornalismo, eu questionei meu professor de técnica de redação acerca da tese defendida por ele de que o bom comunicador é aquele que procura falar a linguagem das camadas menos cultas da população. Era uma época em que a gíria ganhava espaço na música, nos textos de livros e jornais e, de certo modo, até nas escolas através dos professores alinhados mais à esquerda, que faziam proselitismo em sala de aula contra o Governo dos Militares, que se tornara uma barreira intransponível contra os projetos de comunizar o Brasil, defendidos pelos lacaios tupiniquins de Moscou.
Na discussão com o mestre, argumentei que o idioma que herdamos do povo luso é um dos mais completos do mundo e por isso deveria ser repassado na íntegra, de todas as formas possíveis, aos que pouco conhecem seu vasto vocabulário e suas complexas mas eficientes regras ortográficas e gramaticais. Observei então que não seria deixando de empregar o Português na plenitude que iríamos consolidá-lo com nossa efetiva língua pátria.
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Quis dizer, em síntese, que não éramos nós os comunicadores que deveríamos aderir à linguagem coloquial das camadas menos instruídas e sim elas é que deveriam se familiarizar com o vernáculo oficial do Brasil. O que não poderíamos e não deveríamos, observei, era deixar de grifar com entre-aspas as expressões populares, sempre que fosse preciso utiliza-las, para que fossem entendidas como exceção na forma de comunicar e não como elemento integrante do padrão linguístico oficial da nacionalidade. Afinal, concluí, não é falando errado que vamos ensinar nossos ouvintes a falarem corretamente. Depois desse debate, o bom e saudoso mestre declinou: na verdade você tem uma boa dose de razão nessa forma de raciocínio, por isso vou propor com os meus pares do corpo docente incluir sua teoria no currículo da Faculdade.
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Lembro que quando eu assistia ao programa Record em Notícias, o ancora do jornal, Hélio Ansaldo, fazia com frequência citações em latim e citações de trechos de grandes clássicos da literatura, utilizava termos da língua culta e formulava frases com termos hoje conhecidos apenas nos meios acadêmicos. Eu com frequência recorria a dicionários e aos poucos fui me familiarizando com os termos, e em determinadas situações cheguei até a utilizar alguns deles. Fui crescendo meu vocabulário com o contato diário da equipe da bancada deste jornal. Além de Hélio Ansaldo, também participavam Arnaldo Faria de Sá, José Luis Menegatti, Murilo Antunes Alves, João Mellão Neto e Maurício Loureiro Gama, José Serra, Maria Lydia Flândoli, Wilson Fittipaldi.
Lembro também de ter sido neste programa que eu fiquei sabendo da existência do jurista e filósofo Clóvis Beviláqua e de seu trabalho, pois era comum ser citado assim como também eram comuns as citações a Epicuro de Samos, Santo Agostinho, René Descartes, Platão, Sócrates, Aristóteles.
Ou seja, acompanhar os debates cultos destas pessoas me despertou a curiosidade, em um momento que eu estava em minha adolescência, fase ótima para ter este tipo de curiosidade alimentada.
A cultura brasileira de tentar nivelar tudo por baixo é péssima para toda a sociedade, pois gera uma banalização da pobreza intelectual e da cultura. Hoje alguém que gosta de estudar é literalmente hostilizado, enquanto que os mais vagabundos são reverenciados.
Fui em 2014 dar uma palestra para alunos de jornalismo em uma das unidades da Universidade Paulista, UNIP, e os alunos de JORNALISMO, não sabiam qual era o plural de degrau, não sabiam me dar um exemplo de uma frase com sujeito oculto, só para se ter uma ideia do preparo dos alunos que passaram em um vestibular e se aglomeravam para tentar entender o que os professores tentavam ensinar.
Lino, mais uma vez, você foi certeiro ao citar a necessidade que temos de subir o nível para tentar puxar para cima tantos quanto for possível.