O diretor e ator Milton Gonçalves, que partiu no último dia 30, deixando-nos órfãos de um dos mais expressivos profissionais das artes cênicas brasileiras
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Lino Tavares
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Qualquer ser humano que desencarna torna-se alvo de sentimento de perda irreparável entre os que lhe são próximos.
Quanto se trata de pessoas que desfrutam de notoriedade, logicamente esse sentimento é ainda maior do ponto de vista quantitativo.
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Mas, se a notoriedade daquele que partiu é emoldurada pela bênção divina de possuir um talento raro, essa sensação de perda torna-se ainda mais acentuada, uma vez que se trata de uma ausência sentida além do plano da família e dos amigos, estendendo-se destarte ao contexto da sociedade como um todo.
Este é o caso do diretor e ator Milton Gonçalves, que partiu no último dia 30, deixando-nos órfãos de um dos mais expressivos profissionais das artes cênicas brasileiras, tendo brilhado intensamente, atuando ao longo de décadas no cinema, no teatro e notadamente nos anos dourados da televisão, na qual iniciou nos primórdios de 1960, fazendo participação especial em O Vigilante Rodoviário, na TV Tupi, cujo ator principal era Carlos Miranda, a quem tive a honra de entrevistar, como se vê no link a seguir:
Carlos Miranda, Um Exemplo Clássico de Vida que Imitou a Arte – Entrevista Exclusiva a Lino Tavares
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A partir dessa estreia, seu talento aflorou de forma nítida, abrindo-lhe as portas do sucesso para brilhar nas diversas formas de manifestações da dramaturgia brasileira.
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Em seu vasto currículo artístico, figuram papéis importantes como os de Braz Canoeiro na novela Irmãos Coragem, veiculada na Rede Globo, na década de 1970, além de outras participações de realce em que viveu personagens inesquecíveis, como Caldas, em Bandeira 2, Zelão das Asas, em O Bem-Amado, Nonô, em O Espigão, Filó, em Gabriela, Paulo Honório, em Roque Santeiro, Percival, em Pecado Capital, bem como outros desempenhos notáveis que protagonizou nos palcos teatrais e nas grandes produções televisivas e cinematográficas.
A par de ter se revelado um ator e produtor de primeira grandeza, Milton Gonçalves foi um ferrenho defensor dos direitos humanos, desbravando caminhos para que as camadas sociais submetidas à indiferença decorrente do preconceito de gênero, de raça e de situação econômica conseguissem superar as adversidades e realizar seus sonhos e projetos de vida, tal como ele conseguiu, não obstante sua afrodescendência, rompendo barreiras com o enorme talento que Deus lhe deu.