(*) Nelson Valente
Há uma relação inequívoca entre pobre e falta de educação, podendo com isso gerar o fenômeno da violência. Os exemplos existem em nossos bolsões de atraso, infelizmente ainda bastante numerosos no Brasil.
A educação brasileira é um grande mosaico, formado por uma grande e dinâmica diversificação. Temos sistemas avançados, principalmente no Sul do país, convivendo com esquemas atrasados, sobretudo no Norte e Nordeste.
A educação brasileira precisa ser urgentemente repensada, no bojo de uma grande reforma social. Mas enquanto as questões mais simples não forem devidamente resolvidas pela “burocracia governamental” parece que continuamos na firme disposição de enfrentar os grandes problemas educacionais através do discurso bonito, inflamado, sem consistência. É por isso que a educação brasileira continua a ser um triste pesadelo em todo o território nacional. Educação de péssima qualidade em todos os níveis.
O ensino superior é tratado como uma imensa salada de frutas, ficando pouco claro de que maneira se fará a defesa da qualidade do ensino. Com boas frases ou intenções de natureza lírica não se chegará a bom termo, no esforço de renovação de nossa educação.
Uns afirmam que o Brasil, apesar de tudo, está progredindo. E eu direi que não é o país que está progredindo, mas alguns cavalheiros que estão prosperando à custa do Brasil.
A mentira política tem uma trajetória tão longa quanto a história das civilizações e suas intrincadas relações. Tais interações implicam sempre a presença do elemento psicológico na arquitetura do Estado e, portanto, caracterizam a inseparabilidade, nessa organização social, dos fenômenos subjetivos que integram sua composição. A mentira vista assim não é simplesmente uma carta no jogo político usada bem ou mal pelo governante ao sabor das razões de Estado, mas uma função tanto do psiquismo humano quanto da política.
Os próprios governantes brasileiros reconhecem que, em virtude da incidência de muitos crimes, os governos são obrigados a dedicar grandes somas às polícia e ao sistema judiciário. Melhor fariam, é claro, se pudessem colocar esses recursos para melhorar o atendimento educacional, oferecendo uma solução de raiz, que falta ao Brasil.
Nos dias de hoje, há uma descrença generalizada. Os escândalos no Congresso, as falcatruas no governo, a falta de lisura em alguns membros do Judiciário, tudo isso faz crer que a ética está em pane, promovendo a prevalência da tristemente famosa “Lei de Gerson” (a vida é dos espertos). E se o Governo não cumpre adequadamente as suas funções, o jeito é substitui-lo, por intermédio de eleições democráticas, como as que estão programadas para o mês de outubro deste ano.
Enquanto as rãs coaxam, assiste-se à discussão pública em segurança em torno da implantação de penitenciárias de segurança máxima, em vários pontos do país. Enquanto se pensa na segurança máxima, a preocupação com a educação é mínima, reduzida a questões burocráticas.
Enquanto isso, não há uma solução à vista para a crise de menores carentes, que são 3 milhões em São Paulo. Pior ainda é a situação dos menores abandonados, cerca de 230 mil.
O que se pode esperar desses meninos de rua? O assistencialismo oficial protege meia dúzia deles, mas o número é impressionante e a falta de perspectivas é total. Não há escolas suficientes, não há empregos em nível intermediário, não há valores familiares a cultuar, só resta a marginalidade, com todo o seu séquito de problemas a serem enfrentados pela nossa assustada sociedade.
Um jornal de São Paulo deu-se o luxo de fotografar, durante dias seguidos, a operação de alguns desses meninos num movimentado trecho dos Jardins. Eles se constituem em bando, onde sempre aparece um maior para orientar os roubos ou furtos, vitimando distraídos motoristas em plena Avenida Brasil.
Conversei com uma autoridade policial e a explicação veio com muita objetividade: não adianta prender, pois eles são “de menor”, e logo serão soltos para reiniciar a sua faina. Detalhe apavorante: têm a média de 10 anos e, nas conversas, revelam um precoce e triste desprezo pela vida humana.
Os assaltos são sucessivos, não se tem garantia de nada, mata-se por qualquer bobagem. A droga comanda as ações desses celerados. Vivemos num país com enormes desigualdades sociais, com altos índices de desemprego e não se espere que não tenhamos um preço a pagar por isso.
Não pode haver indiferença do Estado, enquanto cresce essa lamentável criminalidade. Se o cidadão fica responsável pela sua própria defesa, fazendo justiça por conta própria, com a privatização do poder de polícia, corremos o risco de uma guerra civil. Não é isso que se deseja – e certamente a solução passa por uma educação de boa qualidade estendida a todos.
Uma das realidades mais tristes do nosso país é a verificação de que se trata mesmo de uma nação de muitos contrastes. Cidades desenvolvidas e com um nível de vida apreciável convivem com outras, totalmente desassistidas, onde a pobreza, a ignorância, a violência e a miséria fazem parte de seu cotidiano.
Gostaria de voltar à prioridade de recursos para a atenuação dos graves problemas sociais que enfrentamos. Ninguém pode condenar a idéia de se ter penitenciárias com o rigor desejado, nesse eufemismo da “segurança máxima” – a fim de que não se tenha de chorar a impiedosa ação dos marginais, hoje os verdadeiros donos das ruas e favelas das nossas grandes metrópoles.
Estão fazendo vestibular para se tornar os grandes assaltantes de amanhã. Sob as vistas complacentes das autoridades e até mesmo de muita gente fina da nossa melhor sociedade, que acha tudo isso natural numa democracia.
Um aspecto que é preciso enfatizar: a grande maioria dos delinquentes infantojuvenis provém de lares desfeitos ou que jamais se constituíram como tal. Quando se luta para que a educação seja dada no lar e na escola, como tantas leis determinaram, o que se vê na prática é a ruptura desse princípio – e os resultados são rigorosamente catastróficos.
Gostaria de voltar à prioridade de recursos para a atenuação dos graves problemas sociais que enfrentamos.
Ninguém pode condenar a ideia de se ter penitenciárias com o rigor desejado, nesse eufemismo da “segurança máxima”. O que pleiteiam os educadores e os homens de bom senso é a solução de base, ou seja, escola para todos – educação máxima – a fim de que não se tenha de chorar a impiedosa ação dos marginais, hoje os verdadeiros donos das ruas e favelas das nossas grandes metrópoles.
Se é verdade que o homem só se torna homem pela educação, todos devemos estar empenhados na sua melhoria. É preciso privilegiar a leitura em todos os níveis, fazendo nascer uma política do livro.
O clima político educacional no Brasil é tão ruim, que não há bola de cristal que não esteja embaçada.
Está na hora de mudar isso. A educação é o caminho, antes que o país afunde de vez na ignorância, miséria e violência.
(*) é professor universitário, jornalista e escritor
A educação vai mal das pernas, porque os governantes fecham os olhos para esse problema. Os filhos deles estudam em escolas privadas ou no exterior. Ninguém quer melhorar a educação pública. Para eles é melhor ter um povo burro e que não saiba seus direitos, do que alguém politizado que vai brigar pela justiça. Abraço.
Parabéns pelo texto.
É inaceitável a existência política por trás da educação, elaboram falsas estatíticas pra enganar o povo. Na década de 40 o Senhor Mário algusto fundador do IBGE.Propôs que, em vez de aumentar as escolas,o governo deveria melhorar as existentes primeiro.FOI DEMITIDO.
E até hoje os governantes constrói escolas para empreiteiras e pra ganhar votos.Jamais os governantes pensam no povo.
Caro amigo, é com desolação que leio seu post porque é a mais pura e cruel realidade da educação (ou falta dela) no nosso país. Vou contar-lhe um segredinho: sou professora formada mas abandonei o cargo porque não me adaptei ao modelo de educação que me apresentaram. Até tentei, mas a frustração era muito grande e decidi por mudar de profissão. Hoje a educação é isso que vemos. Lamento muito por todos, mas tudo anda nos moldes dos interesses politicos.
Parabéns pelo post.
Um abraço
Gessy