(*) Nelson Valente
Antes de começar a desenvolver tudo o que se refere a esse artigo, sinto-me tentado a citar a conhecida frase de Freud, quando se referiu às três profissões “impossíveis”: analisar, educar e governar.
O Acadêmico Arnaldo Niskier, têm razão ao afirmar que a educação brasileira é a “pior do mundo” e propõe mudanças radicais e possíveis ao sistema educacional brasileiro.
Entre as reformas preconizadas para o Brasil e a educação brasileira, seria originalíssimo pensar numa estratégia de marketing que valorizasse a vontade política do país, no sentido de dar à educação a precedência que lhe é devida.
Só assim, viveríamos novos tempos de esperança, no setor que é fundamental para o nosso crescimento rápido e auto-sustentado. Em nome de uma pedagogia – construtivismo – alfabetizamos nossas crianças, nossos jovens, nossos velhos em nome de um modismo educacional em regime falimentar, pelo excesso do paradigma psicológico.
O Brasil não tem uma pedagogia. Tem várias, sobrepostas muitas vezes sem conexão umas com as outras.
A história da pedagogia brasileira é uma espécie de colagem de modelos importados, que resulta em um quadro sem seqüência bem definida. Não existe uma pedagogia “pura”, ou seja, sem influência de outras pedagogias ou do contexto social em que se desenvolve.
Última moda é o construtivismo, que nem é método pedagógico, mas sim um conjunto de teorias psicológicas sobre as estratégias utilizadas pelo ser humano para construir o seu conhecimento.
Afinal de contas, o que é construtivismo?
Mais do que uma pedagogia. É uma teoria psicológica que busca explicar como se modificam as estratégias de conhecimento do indivíduo no decorrer de sua vida.
Surgiu a partir do trabalho do pesquisador suíço Jean Piaget (1896-1980), que mostrou que o ser humano é ativo na construção de seu conhecimento (daí o termo construtivismo) e não uma “massa disforme”, a ser moldada pelo professor.
No Brasil essa teoria é também muito influenciada pela Argentina Emília Ferreiro ( que estudou como as crianças constroem o conhecimento da leitura e da escrita) e do russo L.S.Vygotsky ( que ressalta a influência dos outros e da cultura no processo de construção do conhecimento).
Essas teorias mais recentes costumam ser agrupadas sob a denominação Construtivismo Pós-piagetiano.
Derruba a noção clássica do erro, pois demonstra que criança formula hipóteses sobre o objeto de conhecimento e vai “ajustar” essas hipóteses durante a aprendizagem – portanto o erro é inerente a esse processo.
No Brasil, o termo é muitas vezes usado de forma incorreta.
A universidade sempre teve como objetivo cultivar e transmitir o saber.
Depois, sob o impacto determinado por novas exigências, constatou-se a necessidade de ampliar os conhecimentos, produzir novos saberes, e o meio privilegiado foi a pesquisa.
Tomemos, a título de ilustrações a questão da linguagem, que muitas vezes é o elemento responsável pela não divulgação ou, o que é equivalente, pela não compreensão das pesquisas.
Inúmeras delas vêm involucrudas numa linguagem hermética e fechada, acessível apenas ao pequeno grupo de iniciados.
A linguagem, ao invés de tornar transparente e acessível, obscuresse e esconde.
É necessário que a divulgação ultrapasse a barreira acadêmica e, no caso da pesquisa educacional, atinja as redes do Ensino Fundamental e Médio, os pais, os alunos e a comunidade.
De todas as atividades da sociedade, o magistério foi a que mais sofreu deteriorações.
O professor foi vítima da falta de compreensão, por parte das autoridades governamentais, do papel que desempenha na sociedade.
Ensinar quer dizer guiar, estimular e orientar o processo de aprendizagem.
A transmissão do ensino não pode ser conformista e acomodada.
Deve ser um esforço pessoal e técnico, competente no seu trabalho específico.
O ensino deve despertar o interesse pelo conhecimento e estimular o impulso natural de aprender.
O problema da formação do professor do Ensino Fundamental e Ensino Médio é da maior seriedade.
Os professores das séries iniciais têm seus conhecimentos pedagógicos prejudicados porque os cursos de Pedagogia e o Normal Superior, de acordo com Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,Lei nº 9394/96, não são ministrados com a necessária profundidade e atualização.
Com isso, o aprendizado ficou comprometido e a escola tornou-se passiva e enfadonha.
As fontes de motivação dos alunos e dos professores foram aos poucos minguando.
A parte mais nobre e fundamental da educação, que é o contato direto e íntimo com a criança, foi desvalorizada.
Não é menos verdade que os professores aceitaram com relativa passividade a degradação da qualidade do ensino, da sua renda e prestígio social, assim como não demonstraram interesse em desenvolver suas aptidões e capacidades. Por outro lado, o educador é sempre movido pelo ideal de servir.
Este artigo visa conscientizar o educador da grandeza de sua profissão para que atue como incentivador de idéias.
Para o professor consciente de seu papel de protagonista no processo educacional, leva à reflexão sobre a importância de colocar suas habilidades em prol do aluno.
Chegou o momento de compreender que é preciso dar tratamento de choque à nossa educação, resolver o problema do analfabetismo no país e melhorar as condições de ensino, do ponto de vista qualitativo e quantitativo, para professores e alunos.
Merenda ou computador?
Há pessoas que entendem, de modo equivocado, que na educação brasileira é preciso escolher entre merenda e computador. Considero isso uma simplificação exagerada.
O que os nossos educadores defendem é a existência de uma ampla alimentação escolar, oferecida a todas as crianças carentes, ao lado de uma oferta de acesso a modernas tecnologias, de que o computador é a maior expressão. Só assim será possível melhorar a qualidade de ensino.
Não podemos oferecer às nossas crianças uma educação de segunda categoria, com o binômio ensino/aprendizagem circunscrito ao quadro negro (quando esse existe) ou aos poucos livros didáticos oferecidos às crianças carentes pelo programa FAE/MEC.
Os alunos carentes da rede pública devem ter acesso aos bens culturais, para que não se formem com esse abismo. Não há dúvida de que a valorizaçãoda nossa cultura passa necessariamente pelo processo de ler mais.
Voltando ao nosso tema, é preciso reiterar que a meranda é essencial. Mas isso não deve impedir que se deseje igualmente o acesso ao computador, um símbolo da educação do futuro.
O drama do analfatismo no Brasil
No mundo inteiro, o Brasil ocupa uma das posições mais negativas em matéria de analfabetismo. Em termos de adultos, temos algo em termo de 30 milhões de analfabetos. Se agregarmos a esse número, que já não pequeno, aqueles que são semianalfabetos, talvez cheguemos a um recorde internacional, alcançando quase 100 milhões de brasileiros.
Por aí se vê que meios e modos convencionais de tratar o problema do analfabetismo jamais podem surtir efeito. É preciso que haja, na verdade, um tratamento de choque. Defendi outro dia, numa conferência feita na Uniítalo, a utilização e o pleno emprego de tecnologias educacionais em nossa relação ensino/aprendizagem. O uso mais adequado do rádio, do cinema, da televisão e do computador. Temos um satélite doméstico de telecomunicações, que não está utilizando a sua capacidade ociosa para servir a educação, o que é profundamente lamentável.
Um outro satélite, o Brasilsat, lançado a um custo de 750 milhões de dólares. Sabemos que os 48 canais que compõe o conjunto dos dois satélites, também têm espaços ociosos.
Chegou o momento de compreender que é preciso dar tratamento de choque à nossa educação, não apenas para resolver o analfabetismo a que fiz referência, mas, de um modo geral, melhorar as condições de ensino, do ponto de vista qualitativo e quantitativo.
Nos dois últimos governos inventaram índices, condições de oferta, Sinaes, Conaes, IGCs, CPCs, CCs AIEs (Avaliação Institucional Externa), produziram especiosos e detalhistas, senão ineficazes, instrumentos de avaliações, além de Enade, Enem, provinhas e provões, decretos-pontes, reformas universitárias, dilúvios de portarias ministeriais, micro (ou nano) regulatórias, enfim, uma parafernália de mudanças.
Tudo muito bonito, mas efetivamente inócuo.
(*) é professor universitário, jornalista, escritor e inestimável amigo
Cada governo que entra quer deixar apenas a sua marca com projetos copiados de outros países em que há uma certa, ainda que meio torta, um planejamento educacional organizado. E o povo brasileiro, por falta de cultura geral, desinteresse pela leitura, dá importância apenas por carnaval, BBB, A Fazenda, Copa 2014, Olimpíadas 2016, programas de adolescentes que incentivam o sexo precoce, achando que esses itens são suficientes para o progresso do país. É super lamentável isso. E cada vez mais nascem juventude que nem sabem argumentar os problemas pelas quais o país passa.