Denke auf denke 03
Denke auf denke 03

Paulo Coruja Gouvea

Olhe só este diálogo:

“- Qué fé? (Quer café?)

– Qué!! (Quero!)

– Pó pô pó? (Posso por o pó?)

– Pó!!”.  (Pode!)

Este diálogo acima nos dá a brejeirice e a graça da “mitologia” mineira, cheia de maneirismos e silêncios. Num falar quase “prá dentro”, chegando a ser parcialmente cifrado (não por acaso, as principais companhias de segurança e cifragem virtual estão sediadas na capital mineira, é sério!), temos a caricatura de uma sociedade e como ela se realciona.

Agora veja esta frase:

“Donde vc tc?” (De onde você está teclando?)

Isso saiu de uma antiga sala de “bate-papo” de algum portal web mais antigo (os mais famosos foram os do UOL, BOL e Mandic – atual IG; ). Depois vieram ainda mais maneirismos criando pseudo-dialétos para justificar que estávamos falando coloquialmente, um verbalizar pelos vãos dos dedos, que passaram a um batuque frenético nos teclados, para compensar a lingua que estava parada.

Das antigas salas de bate-papo do final da década de 90, passamos por evoluções de interfaces virtuais; como o ICQ e o MSN na conversação em “real time” ou síncrona, passando pela revolução das redes sociais como o quase falido Myspace, passando pelo fenômeno local do Orkut e finalmente o viciante partilhador de relações e valores sociais: o Facebook.

Mas e aí? Aonde vamos chegar?

Cada vez que os meios sociais evoluiram, deixaram um legado comportamental muito marcante no nosso meio social real… É a netiqueta se tornando a etiqueta padrão, a referência do real. Está implicita  e contida no virtual.

Hoje não é mais necessário conhecer alguém pessoalmente… Porque isto não é mais tão relevante. Se alguém de adiciona como amigo num meio social virtual e não te cumprimenta no mundo real, isso não se torna irrelevante. Porém ao contrário, o ato se torna permissivo e digno de censura e reprovação. Portanto se os valores sociais estão intrinsecamente conectados, a linguagem, por sua vez seguirá pela mesma tendência.

“Language is a virus!”, como bem propalava Laurie Anderson nos idos de 80. Todo conteúdo de valor mítico e icônico, ganha valor moral. E assim agregando, passa a ter valor de status quo, revisado e plenamente adaptado ao meio, excluindo quem dele se separa ou critica. Assim como um vírus que se propaga de forma parasitária e quase suicida (sim, ele mata o hospedeiro e mata a si próprio logo consequentemente).

Tudo em nome de uma metamorfose de consumo de valores sociais e de auto-estima, cada vez mais veloz como se vê nestas redes. É um gerador de obrigações e valores: ” Se você é (algo de valor social) Curta!” Esse algo de valor social é apelativo e na forma imperativa da obrigação moral e até cívica, como numa propaganda eleitoral. Passa ainda pelo sentimento filial, esportivo, caridoso e que é retirado do seu conceito real e deslocado de forma brusca na sua “linha do tempo…” seja lá de onde vc esteja plugado.

Tornamo-nos “couched potatos” sociais, onde normalmente somos omissos ou falhos no mundo real e passamos a ser ativistas ferozes no virtual. Tudo ao alcance de um clique do mouse que purga, que remedia e que trata de todos os males do mundo real tranquilizando a consciência desta “batata de sofá”.

Enfim, chega-se ao ponto do mundo das redes sociais invadir a linguagem e o comportamento do real e, ao contrário, este real fornece material quase “prozaquiano” para as mesmas redes virtuais… A neurose da troca de identificação do indivíduo social e sua inconsciente necrose pela falha.

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Paulo “Coruja” Gouvea é editor de pós-produção e videografista de profissão e fotógrafo amador por opção. Formado em comunicações com ênfase em Rádio e Tv pela FAAP, e pós-graduado em análise de sistemas também pela FAAP

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2 thoughts on “Sociabilização Real Para uma Sociedade Virtual – Denke auf Denke 03

  1. André Theuer says:

    Olá Paulo,
    que diria Goethe sobre o excesso de volume e a falta de qualidade que são a nossa realidade?
    Sei que estou fugindo um pouco do assunto, mas foi dificil te encontrar.
    Numa das minhas pesquisas anteriores encontrei apenas uma foto do seu cão (cadela?) mas ela não me levou até ti.
    Estou em Sampa de férias, meu correio encontras no Linked in.

    Abraços
    André Theuer

    • Paulo says:

      Goethe, as essas alturas do campeonato, deve estar se revirando na cova possivelmente. E a cadelinha Lia tb não teria como me localizar, já que ela não me vê há uns bons 3 anos. De qquer forma, já captei seu email… Nos falamos, sempre bom te rever.
      abraços
      Paulo

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