De volta ao "lar da impunidade" 3

(*) Por: Lino Tavares



Quando um candidato a senador, deputado ou vereador pede o meu voto, diretamente ou através da propaganda eleitoral, devo acreditar que o postulante a uma cadeira no legislativo federal, estadual ou municipal está me dizendo que, uma vez eleito, assume o compromisso de me representar numa dessas esferas do poder, pelo tempo de duração do mandato que lhe for outorgado pelos que, como eu, nele votarem.


Se é assim, qualquer descumprimento nesse sentido, por parte do eleito, representará a quebra de um acordo tácito implícito na democracia, que é por definição um regime essencialmente representativo. Exceto – é claro – se esse mandato for interrompido por motivo de saúde, morte ou cassação do parlamentar em causa.
Afora isso, qualquer forma de afastamento de um representante do povo do lugar onde deve estar, ainda que com o respaldo da lei, não passa de um golpe aplicado no eleitor a quem representa, o que é no mínimo uma falta de respeito para com aquele que, em tais circunstâncias, terá feito ‘papel de palhaço’, comparecendo à urna para escolher alguém cuja representatividade parlamentar lhe poderá ser ‘surrupiada’ ao sabor de um casuísmo qualquer.


O casuísmo a que me refiro outro não é, à luz da razão, senão a nomeação de senadores, deputados e vereadores para os cargos em comissão do poder executivo, notadamente os de ministro, secretário de estado e secretário municipal. Como considerar justo e ético o fato de o presidente da República, o governador e o prefeito poderem “roubar” de milhares de eleitores aquele cidadão que assumiu o compromisso de lhes representar nas esferas do poder legislativo ?


É verdade que o parlamentar que aceita o cargo de governo que lhe é oferecido também tem sua parcela de culpa nessa zombaria oficializada contra aqueles que votam. Mas temos de convir que ele tem boas razões para isso. A principal delas é que, um vez atuando no poder executivo, poderá usar o cargo para objetivos inconfessáveis, tendo como “porto seguro”, se demitido pelo ato ilícito, à volta ao parlamento, onde a imunidade parlamentar – mãe generosa da impunidade – lhe aguarda de braços abertos.


Não deve ter sido por outro motivo que o ex-ministro demissionário dos Transportes, Alfredo Nascimento, de volta ao Senado, estufou o peito, dizendo em plenário que foi como “pedir a instalação de uma CPI contra si mesmo” o fato de haver colocado à disposição da Procuradoria-Geral da Republica – a mesma que se negou a denunciar o já esquecido Antônio Palocci – o seu sigilo fiscal e bancário, subestimando à nossa inteligência ao tentar fazer crer que dinheiro mal havido vai parar em conta bancária do país e é lançado nos ativos financeiros da Declaração do Imposto de Renda.



(*) Lino Tavares é jornalista diplomado, colunista na mídia gaúcha e catarinense, integrante da equipe de comentaristas do Portal Terceiro Tempo da Rede Bandeirantes de Televisão, além de poeta e compositor.

4 thoughts on “De volta ao "lar da impunidade"

  1. psicologia de gaveta says:

    O Brasil é o país da piada pronta, e os palhaços não parecem fazer muita objeção…
    Não há mudanças estruturais porque quem está em desvantagem, quem sofre a injustiça não reclama, não se manifesta, se acomoda…
    Muitos falam, outros tantos reclamam, mas pouca gente vai a luta pra fazer diferente, esse é nosso calcanhar de Aquiles…

  2. Giba says:

    Meu caro amigo João Bosco, concordo contigo e ainda acrescento que a prisão para parlamentares, sem a tal da imunidade parlamentar e também o confisco de bens para aqueles de usurparam os cofres públicos e se em caso de delito em empresa privada o(S) propietários são responsabilizados por não terem sabido contratar a pessoa certa para o cargo, os líderes do executivo também deveriam ser responsabilizados quando seus secretários e/ou ministros pecassem por improbidade administrativa entre outros erros de conduta.
    Para se consertar este país basta que as leis sejam cumpridas e que se acabe com as mordomias e farras imputadas aos maus políticos que são o cancer deste nosso sistema viciado e avacalhado.
    Um grande abraço
    Giba

  3. João Bosco Guimaraes Mafra says:

    O que deveríamos fazer neste país de faz de contas é o seguinte:
    QUER SER CANDIDATO: NÃO IMPORTA A QUE>
    VAI PASSAR POR UMA PROVA DE APTIDÕES PARA SABER O SEU GRAU DE INSTRUÇÃO, DE CONHECIMENTO DAS CAUSAS PÚBLICAS E DE DISCERNIMENTO NA ATUAÇÃO DOS PROBLEMAS SURGIDOS.
    O resto para mim é demagogia pura e simples destes que não são políticos mas sim canalhas.
    Eu ainda acredito que este país tem jeito.
    PENA DE MORTE JÁ!!!

    João Bosco

  4. Rose says:

    Os problemas políticos despertam o que há de melhor e pior nas pessoas. Talvez porque, no final das contas, eles terminam interferindo na esfera de ação dos indivíduos, afetando interesses, direitos e verdades consolidadas.
    Pode-se dizer que as origens remontam à Inglaterra do século XVII e à França revolucionária de 1789.
    Só que o Brasil não é amadurecido para tal e está muito longe disso, rs
    Abraço,
    Rose*

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.