A Descoberta
A Descoberta

Ivani de Araujo Medina

Eu nunca tive planos para a minha vida. Aspirações são comuns na vida das pessoas, coisas do tipo: querer ser isso ou aquilo, um dia ter isso ou aquilo… Enfim, trazer de nascença um objetivo claro que mereça atenção e planejamento adequado. Não posso me dizer perdido por esse tempo, porque nada procurava e, sem ser exemplo para coisa alguma, prossegui sem buscar um sentido para a minha existência. Seria preciso acreditar que a vida teria algum e eu não estava convencido disso.

Com algumas habilidades que possuo fui tocando meus dias. Todas as opções profissionais foram passageiras e no fundo eu sabia que era para ser assim. Não por algum tipo de determinismo, mas porque era o meu jeito torto de ser. A falta de algo que legitimasse as minhas opções profissionais não constituíam um drama. Por outro lado, abriram outras inimagináveis oportunidades de aprendizado e foi muito bom.

 Só agora vejo que a única aspiração verdadeira que tive na vida foi desvendar um determinado mistério. E consegui. Eu sempre procurava ler algo a respeito do assunto. Comprava livros, visitava bibliotecas com o único objetivo que me insistia com tenaz determinação. Não me rendia um centavo, ao contrário, e eu nem via no horizonte distante tal possibilidade. Além do mais, podia me dar problemas. Era um contrassenso aparente.

 Pelo fato desse meu interesse estar ligado a nossa cultura e comprometer certas “verdades” queridas, o que nunca faltou foi gente tentando me desanimar do intento. Uns por ignorância, outros por se fingirem sábios, outros por medo supersticioso, outros por não quererem ser despertados do sonho, outros por inveja etc. etc. Queriam que de alguma maneira eu me sentisse culpado e desistisse pelo bem comum. Seria mesmo? Acho que não.

Contudo, meu estímulo vinha de dentro. Vinha de uma certeza que eu não sabia explicar, mas me bastava. Certa vez, tive um sonho no qual as pessoas andavam enfiadas em sacos de tecido grosseiro, absolutamente idênticos, que as cobria até as canelas. Só por isso dava para saber se era homem ou mulher. Ninguém se via ou se sabia além do pouco que era exposto.

Essa sensação estranha de representação da ignorância me ficou desperta. Foi um sonho para despertar. Afinal, continuamos existindo enquanto dormimos. O que realmente se passa com a gente nessa parte do dia ainda não é conhecido o bastante. Cada um interpreta seus sonhos de acordo com a própria tendência. Aprendo com meus sonhos também, pois aprendo comigo mesmo e gosto desse aprendizado. É bem simples assim. Não sou místico ou religioso e também não me preocupo em ficar explicando tudo. Sei o que quero saber e pronto.

Foi desse modo que prossegui meus estudos fora do aprendizado formal. O meu objetivo era desvendar o mistério que envolvia a origem histórica do cristianismo. A nítida sensação de ser enganado com todo mundo não é nada boa, e, por si só, já se torna um bom motivo para procurar saber o que se passa.

O modo de abordagem investigativa pelo veio da história fez toda a diferença. Desprezei intencionalmente os métodos tradicionais utilizados e a fonte principal – o Novo Testamento. A intuição me dizia para não perder tempo com o estudo de filologia, exegese, hermenêutica etc., aplicado ao conhecimento histórico, se eu quisesse decobrir algo realmente importante.

Por vezes, logo vinha alguém tentando desviar a contumácia do assunto para a beleza das mensagens religiosas cristãs, se fazendo ou querendo me fazer de tonto. Mais adiante, eu perceberia claramente o mal que as ideologias fazem ao conhecimento. A questão marxismo versus cristianismo era mais uma cortina de fumaça diante dos fatos que mais me interessava esclarecer.

O meio acadêmico visa preservar a versão oficial de conclusões indesejáveis e deixá-la a salvo. O marxismo tem a sua utilidade nesse favorecimento ideológico porque também se serve da mesma mentira confirmada pelos historiadores cristãos. Karl Kaustky (1854-1938), considerado um dos mais fiéis intérpretes da doutrina de Marx e Engels, festejado historiador comunista, tomou como base o NT para a sua prestigiada obra A origem do Cristianismo.

Porque historiadores dessa ideologia resolveram mastigar esse bagaço que havia séculos na boca dos seus supostos adversários ideológicos? Porque aparentemente tentaram fazer o que os gregos haviam feito aos judeus – usar a força do adversário contra ele mesmo. O marxismo tentou transformar o personagem literário grego, Jesus de Nazaré, no herói revolucionário que seria a principal referência histórica para o socialismo científico. Mas não deu certo. O herói que permeava todas as classes sociais acabou resgatado pela própria fonte. Tentou-se uma carona na farsa milenar.

A ideologia é a maior inimiga da história e, portanto, do conhecimento. É capaz de tudo para se afirmar. Para ela, o resto vem depois. Todos os princípios que o sofrimento e a inteligência humana consagraram, na prática, são e serão pisados sem a menor cerimônia pelo ardor ideológico. Estudando por instinto, cheguei a essa conclusão. Talvez eu tenha vivido só para esta descoberta, pois nada nessa vida me agradou tanto.

http://www.gibanet.com/2012/09/07/a-origem-nao-revelada-do-cristianismo/

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Ivani de Araujo Medina é um Homem com a percepção do descompasso existente entre a história e o favorecimento ideológico ao cristianismo.

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2 thoughts on “A Descoberta

  1. Sugel says:

    Uma possibilidade, claro, é que os estudantes trabalharam independentemente e por coincidência chegaram exatamente ao mesmo resultado. A origem independente dos dois ensaios não é impossível. Mas eu iria olhar esta hipótese como extremamente implausível. Muito mais convincente é a ideia de que um estudante copiou pelo outro ou que cada um deles copiou de uma fonte comum — talvez, um ensaio tirado da Internet. Esta hipótese é uma explicação mais plausível das semelhanças dos dois ensaios.

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