Maria Marçal
Passados nossos cinquenta anos descobrimos que já subimos e descemos desses condutores de destino.
Estamos, agora, dentro do terceiro trem.
O primeiro deles era enfeitado de balões, havia a música da Xuxa por todos os cantos e sacolejávamos encantados pelos seus corredores.
Naquela época não percebíamos, como hoje, que o trem corria …corria, embora numa velocidade pequena, para não machucar ninguém.
Ontem, no Dia da Criança, minhas lembranças recaíram sob o albúm de fotografias…
Ali me ví pequena, sorrindo à toa, abraçadinha no meu cãozinho, junto aos primos ou fazendo passeios de kombi com o pai, mãe, tios, tias, primos até que tudo se transformasse em inesquecíveis piqueniques.
Mas o que houve? Por que mudamos de trem?
A resposta está no cronômetro do tempo.
Não podemos ficar eternamente no primeiro ano primário ou como se diz agora: no primeiro fundamental.
O tempo nos faz usar das transferências, assim como acontece a troca de lar.
Subimos, então, a um segundo Condutor da Vida.
Nele, de logo, notamos a diferença: sem balões, sem música infantil tínhamos que procurar e pedir licença para se acomodar num assento.
Saímos da condição de Especiais para Indivíduos Comuns fazendo ‘escolhas’ de lugares, porque acompanhados de um sentimento novo: a esperança. Seguia junto a certeza que era hora de fazer acontecer.
Essa etapa, vivenciada no segundo trem, trazia o convencimento que acharíamos um banco com vista excepcional para nossos projetos de vida.
Descobrimos, igualmente, que no segundo trem a vida não era cor-de-rosa.
Haviam, dentre outras dignas, pessoas cheirando mal ao nosso lado;
Desfalecemos um tantinho nas decepções;
Saturamos até o ápice o Ego inflável;
Soluçamos pela ausência da infantilidade e, por fim, acabamos plantando um canteiro enorme de responsabilidades.
Que período turbulento aquele!!
O segundo trem tinha – via de regra – que nos fazer adultos, completos, realizados.
Eis que nesse 2012 a bagagem dos cinquentões teve que ser transferida ao terceiro trem…
E como é esse vagão?
Ah! ele é ‘diferente’…
Tem modernidade…tevê plasma… celular ….tablet e, não sei aonde, esconderam o relógio!
Além disto quem construiu o terceiro trem, onde os cinquentões se instalam, sabia que ali precisaríamos ocupar a memória e para tanto puseram, à cada cantinho dos compartimentos, muitos livros. Criou porta-álbuns para recordarmos o passado. Fez repartições coloridas que abrigam ‘diversidades’ e, sobretudo, tinha em mente que essa deveria ser a Idade do Prazer.
Nesse terceiro trem foi acrescido algo que os outros dispensaram:
Serve-se, diariamente, uma sopinha de letrinhas, da qual podemos formar palavras como respeito, sabedoria, amor, cuidado, humildade e a mais longa delas, espiritualidade. Basta querer construí-las.
Que oportunidade não é mesmo?
ETHA! TREM BÃO!!
Ok… Amiga Lejânia Bello (Facebook), aqui cumpro o doce prazer de escrever instigada pela foto que postastes.
Grande beijo, leitores de TODOS OS TRENS.