MAIS DO QUE O ELEITOR SABER VOTAR, OS CANDIDATOS DEVEM APRENDER A SER ELEITOS…
Estive observando os resultados das eleições para prefeitos e vereadores, e não com espanto percebi que índice de abstenções aumentou em média de mais de 29%. Imediatamente os analistas políticos e entendidos de plantão vieram com enes elucubrações sobre o assunto, mas, entretanto nenhum deles cogitou se quer de passagem, que talvez essa seja uma manifestação, mesmo que tímida, da vontade publica pelo voto facultativo. Observo ainda entristecido que ninguém expõe isso, sejam as pessoas, instituições e principalmente os meios de comunicação.
Mas em contrapartida também observei que o Governo Federal dispensou tempo e dinheiro em uma campanha televisiva e radiofônica, onde a questão central abordada era a de passar a idéia que o voto obrigatório é um direito e não uma obrigação, fazendo um chamado para que a população comparecesse nesse sufrágio.
Isso me deixa de certa forma alegre, pois se houve tal preocupação isso mostra que há uma parcela que resiste a essa idéia impositiva, opressora, resquício de um período autoritário, parcela que ainda se mostra indignada e revoltada com essa obrigatoriedade. Ou seja, há um movimento, que mesmo tímido existe latente, aguardando apenas o momento para eclodir.
Talvez a relutância das classes políticas em abordar o assunto, seja porque, mais do que temerem escândalos, julgamentos de mensalões ou ameaças de impeachmnt, essa classe teme realmente que o eleitor tenha uma liberdade real, podendo não apenas votar mas também ter o direito de não votar, demonstrando assim de forma explicita e direta seu desagrado e indignação com o estado das coisas como estão.
Admira-me que em pleno século 21, um país que em vias de ser uma potência, com um regime que se diz democrático, ainda mantêm seu povo preso ao cabresto da obrigatoriedade. O motivo sem dúvida é, que de outra forma como esses políticos profissionais se perpetuariam em seus mandatos? Mandatos que tem suas plataformas baseadas na temporalidade das eleições e no momento sócio econômico da nação.
Com o voto facultativo esses políticos profissionais teriam que durante seus mandatos trabalharem alinhados com a vontade publica, e no período eleitoral eles teriam que deixar as práticas atuais de emporcalha mento do meio ambiente deixando de lado os santinhos, cartazes, faixas e pichações, além de terem que parar de nos torturar com aqueles malditos jingles repetitivos, de letras no mínimo idiotas, os quais insistem em tocar nas rádios, TVs e nos nefastos carros de som. Eles, candidatos, teriam que arregaçar a manga e sair à luta, provando para a opinião publica que ele é um bom produto, que vale a pena o eleitor sair de sua residência e comprar a sua idéia, abraçar sua ideologia. Alias, digam-se de passagem, os próprios partidos seriam mais seletivos na escolha de seus representantes, fosse para que cargo fosse, exigindo pessoas mais preparadas ,sendo que até os partidos se veriam obrigados a delinear mais claramente sua visão ideológica.
Uma das idéias centrais para perpetuar o voto obrigatório é a de que, o povo brigou tanto pela eleição direta, brigou para exercer seu direito a liberdade de escolha, portanto agora temos que exercitar esse direito, ainda alega que somos uma nação nova como democracia e sendo assim, só se aprende a fazer democracia treinando, treinando e treinando. Alegam ainda que o voto seja a demonstração máxima de cidadania e patriotismo (mesmo argumento alegado para o serviço militar obrigatório, mas sobre isso falarei mais adiante), esse argumentos para mim são inócuos, esfarrapados, vazios.
Pensem comigo, um país que dá aula ao primeiro mundo em processo eleitoral, tanto organizacional quanto tecnológico, inclusive vendendo essa tecnologia, um país que sua população na maioria demonstra civilidade no ato eleitoral, precisa treinar ou provar sua cidadania?Acho que tal argumento menospreza a inteligência da população, sua capacidade de discernimento sobre o que fazer, como votar ou se votar.
O ato de votar deve ser de arbítrio próprio, de foro intimo de cada um, sem coação de qualquer espécie. Entretanto se você deliberadamente deixa de votar, omite sua participação no processo, terá sem dúvida seus direitos cassados, não poderá participar de concursos públicos, licitações publicas e etc, até que se submeta ao sistema, justificando e pagando uma multa, isso no melhor molde das mais opressoras ditaduras. ISSO É DEMOCRACIA?
Tentamos sempre nos nivelar com as potencias ditas de primeiro mundo, importamos tanta coisa, produtos, cultura, costumes, então vamos importar também boas idéias, afinal as maiores democracias do mundo tem o voto facultativo, sendo que em contrapartida as republiquetas de terceiro mundo são ainda as que têm o voto compulsório. Com quem devemos nos alinhar? Que imagem queremos mostrar ao resto do mundo?
Hoje discutisse sobre tudo, união civil do mesmo sexo, a validade ou não de cotas raciais até liberação da maconha, porém não vejo movimento para discutir o voto facultativo. Faz se um silêncio quando o assunto é esse, e por quê? A existência do voto compulsório em si já exige hoje discussão aberta sobre o tema: voto facultativo. Mesmo os mais liberais defensores da maconha não têm coragem para abordar o assunto, mas isso tem explicação.
Voto facultativo faria com que as coisas mudassem, seria uma guinada, o primeiro passo para uma real reforma política, sabem eles que suas carreiras no meio político poderia ser sepultadas pela opinião publica, uma simples frase mal colocada, um ato mal conduzido afetaria a presença nas urnas do eleitor, esse seria o termômetro, o padrão de qualidade, ou seja, quanto maior a abstenção menor o atrativo dos candidatos, sendo assim melhor tira-lo da oferta ao cliente.
Mas ainda temos os “especialistas” , os quais baseados em teses, teses essas baseadas em pesquisas, pesquisas essas feitas em países com gritantes diferenças com nosso processo eleitoral, alardeiam que se o voto fosse facultativo a classes baixas não iriam participar, ficando apenas as classes A e B com essa exclusividade. Absurdo, pois se tal argumento for aceito temos que aceitar também que a tão falada inclusão social não existe, ou pior, que certas etnias não são capazes ainda de apresentar um sentimento de cidadania, pensamento oriundo de uma intelectualidade elitista e preconceituosa.
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