Lino Tavares

 

Quando o cupim toma conta do madeiramento que sustenta o teto de uma casa, a tendência natural é que a praga se alastre ao longo de todas as peças de madeira (portas, janelas, móveis e utensílios domésticos) que pertencem ou são abrigados pelo imóvel. Trata-se de uma metáfora, para dizer que a Instituição Brasil, cujo poder executivo  está infestado de “cupins humanos”, já começa a sentir os efeitos dessa desgraça nas esferas institucionais dos demais poderes da República. O Legislativo  caiu em ruínas contaminado pela “colônia de cupins” chamada mensalão,  proveniente do Executivo, que representa o “teto do poder. “. O Judiciário, na sua instância mais elevada, teve semelhante destino a partir das nomeações de juízes “biônicos”, conduzidos à Suprema Corte através de critérios de viés nitidamente políticos e ideológicos. Essa contaminação irrefreável que transformou o termo poder em sinônimo de desmandos e corrupção criou junto à população deste país um clima de descrédito quase total nos poderes constituídos, com reflexos danosos em entidades civis e militares tidas outrora como guardiãs da lei,  da ordem e da liberdade inerentes ao estado de direito.

blitz
Pesquisas têm revelado de longa data que o Exército Brasileiro, que sintetiza em si a identificação do povo com as Forças Armadas, representa  a instituição mais confiável do País. Trata-se de um patrimônio moral invejável que não é muito bem aceito entre os grupos radicais da extrema esquerda, que sempre tiveram na ação dos quartéis um óbice intransponível para consumar seus projetos de implantação de uma ditadura comunista no Brasil, subjugada aos ditames da Cortina de ferro liderada por Moscou. Hostilizadas de forma revanchista por antigos militantes de grupos comuno-terroristas das décadas de 1960 e 1970, as nossas Forças Armadas são vistas hoje aos olhos da mídia cooptada e da intelectualidade burra como uma antiga masmorra a partir da qual se teria praticado todo tipo de atrocidades contra “anjinhos socialistas” de ontem, que lutavam pela realização do sonho de importar para o Brasil o “paraíso vermelho do Partido único”, que mais tarde seria abortado pela pátria que o havia instituído após a Revolução Russa de 1917.
O que se observa na atual conjuntura é que uma indecorosa “Comissão da Verdade” tenta macular o nome de honrados chefes militares do passado, dando vazão a um revanchismo doentio, conseguindo com isso transmitir aos altos comandos militares, hoje submissos a um pústula chamado Jaques Wagner, travestido de Ministro da Defesa, um clima de pavor, levando-os a uma espécie de “medo inconsciente” de que, ao menor deslize que venha a ocorrer nos meios militares, a punição que couber ao fato possa vir carregada com aquelas gotas de veneno do revanchismo, que não surtiram efeito contra seus companheiros de farda do passado, neutralizadas que foram pelo contra veneno da Lei da Anistia. Nesse clima de medo velado, que vem dos escalões superiores e afeta a tropa, começa a ganhar corpo no âmbito  dos quartéis uma onda de desconfiança entre militares, não só no plano geral como também entre companheiros que labutam no interior do mesmo aquartelamento. Pude constatar isso em recente visita à minha unidade militar de vinculação, cujo nome deixo de declinar por não ser o alvo deste comentário , na qual fui convidado por um sargento da guarda  a abrir o porta malas do carro para ser revistado. Mesmo surpreso e sem entender a razão da revista – algo que nunca tinha me acontecido em vistas anteriores –  submeti-me ao que fora determinado e, ao chegar em casa, telefonei ao oficial de Comunicação Social do quartel, pedindo-lhe que me explicasse a razão daquele procedimento, querendo  saber se era consequente de algum furto havido durante o momento em que lá permaneci, ou se tratava-se de uma nova sistemática de ação adotada de forma permanente. A resposta  me soou de maneira chocante, pois dava conta tratar-se de um procedimento diário colocado em prática não só em relação aos militares da reserva em visita ao quartel como também a todo efetivo do Batalhão, a partir do subcomandante para baixo.

     Interpretando isso como um desprestígio à classe militar, que destoa do grau de confiança que lhe confere a sociedade, elegendo-a nas pesquisas como a mais confiável da nação, pedi ao tenente que transmitisse ao comandante  o meu desconforto e a minha discordância em relação àquela atitude com jeito de “tiro no pé”, observando que iria me reportar sobre isso na mídia onde atuo, como forma de contribuir para que essa auto desconfiança – a meu ver injustificável – não se alastre no âmbito das instituições militares.
    A comunicação foi imediata e teve como retorno um convite do comandante no sentido de que eu comparecesse ao quartel, no dia seguinte,  para dialogarmos em torno da questão. Recebido com fidalguia pelo comandante, que me passou a ideia de ser um militar íntegro e de fino trato, conversamos sobre assuntos relevantes da atual conjuntura nacional e, por fim, tratamos acerca do fato que motivou o encontro. Disse-me ele que não gostaria que fosse assim, mas que isso se torna necessário, à luz de orientação superior, para evitar que objetos sejam subtraídos ilicitamente do interior dos quartéis, dificultando as investigações visando a encontrar os responsáveis. Confessei entender que isso pode sim gerar algum efeito prático, observando porém que essa forma de pragmatismo não compensa, nem por hipótese, o enorme arranhão que provoca na credibilidade da caserna, já que é um atestado eloquente de que os militares não confiam em si mesmos, tornando-os menos dignos  daquela confiabilidade  invejável que lhes tributa a população, conforme atestam as pesquisas. E observei que,  ciente disso, o cidadão do povo pode até pensar: “se os milicos não confiam neles mesmos,  que motivo teremos nós, os civis, para confiarmos nesses compatriotas fardados?”  Deu para perceber que o comandante, do alto de sua lucidez, entendeu as razões do meu ponto de vista, mas deu para sentir também que a ordem de revistar diariamente os carros de seus comandados  é muito mais uma espécie de pressão que vem dos escalões superiores do que uma iniciativa mesquinha sua, algo que não coaduna com a pessoa do comandante militar com quem tratei naquele encontro civilizado e cordial.

Na saída do quartel, fui surpreendido com a presença do oficial de Comunicação Social no local onde as revistas de veículos são feitas, que se dirigiu a mim informando que poderia passar livremente sem me submeter ao procedimento habitual. Claro que isso não mudou minha opinião sobre o fato, haja vista que não levantei a questão movido por suposta idiossincrasia, mas sentido-me no dever de defender a boa reputação da classe militar da qual tanto me orgulho, independente de atuar hoje como um profissional da mídia , cultivando na mente uma frase célebre contida no velho Manual do Candidato a Graduado – primeiro volume da carreira militar em que estudei – que diz “Nem cora o livro de ombrear co’o sabre…  nem cora o sabre de chamá-lo irmão…!

2 thoughts on “A confiabilidade dos quartéis ‘em xeque’

  1. Lino Tavares says:

    Obrigado amigo Gilberto. Ainda bem que pessoas como você, mesmo não sendo militar, entendem o que estou defendendo aqui, que não é uma questão de vaidade pessoal, pois nas rodovias, onde tudo é suspeito, eu fico feliz quando tenho meu carro parado na blitz da Polícia Rodoviária para ser revistado, porque sei que isso isso denota zelo do poder constituído para com os seus cidadãos. Mas estou certo de que nos departamentos da Polícia Rodoviária seus profissionais não são humilhados, sendo submetidos a revistas internas sendo equiparados aos meliantes que eles prendem nas revistas da via pública.

  2. Gilberto Vieira de Sousa says:

    Lino, acredito que pouquíssimas pessoas teriam a percepção que você teve e garanto que muitos na caserna, que passam por esta situação todos os dias, nem perceberam o que está em jogo. Parabéns.

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.