Arnaldo Niskier
Autor do livro “A educação nacional”, José Veríssimo discutiu intensamente, no Jornal do Brasil, a reforma da educação pública, a partir das ideias positivistas de Benjamin Constant, a quem ele atribui o máximo de liberalismo.
Fundador e primeiro ocupante da Cadeira no 18 da Academia Brasileira de Letras, nasceu em Óbidos, no Estado do Pará, em 1857. No seu estado natal dedicou-se ao magistério e ao jornalismo. Em 1891, transferindo-se para o Rio de Janeiro, foi professor da Escola Normal (hoje Instituto de Educação) e do Ginásio Nacional (hoje Colégio Pedro II). Dedicou-se intensamente à crítica e à história literária, nascendo daí a sua antológica “História da Literatura Brasileira”, escrita com o sentimento de que “criticar é compreender”, fugindo assim do cientificismo da época.
Dentre os estudos de Veríssimo convém destacar, nesta relembrança, o valor que deu à educação da mulher, na época bastante discriminada. Defendia a criação de institutos especiais de instrução feminina e pretendia melhorar as escolas normais existentes, “para que as mestras delas saiam com maior competência, aprendendo de fato o que ali se promete ensinar.”
Para a língua e a literatura nacionais, sugeria que não houvesse abuso tão nosso de uma erudição gramatical impertinente e ao cabo inútil. O objetivo maior seria apurar-lhes o discernimento, “para nela se exprimirem simples mas corretamente, sem as afetações literárias das sabichonas e letradas. Um estudo assim devia pô-las em contato direto com os grandes autores da nossa língua, poetas e prosadores, educadores da razão, do sentimento, do gosto das gentes que a falam.”
José Veríssimo preconizava o bom entrosamento entre as literaturas do Brasil e de Portugal, “abandonando-se o sistema até aqui seguido das broncas e enfadonhas, e quantas vezes erradas e viciosas, notícias bibliográficas ou sutilezas críticas, pelo comércio direto dos escritores e sua apreciação simples, ingênua, despida de todo o pedantismo escolar.”
Defendeu a educação estética e afirmou, convictamente, que “se uma alma se abre realmente e honestamente ao belo, se o sente, se chega a perceber as suas relações íntimas e necessárias com quanto a comove e enleva, nenhuma outra espécie de educação poderia talvez ser mais útil à mulher.”
Para concluir que “no ensino da música, em vez de fornecer às educandas ideias e sentimentos convencionais, o mestre tivesse o necessário tato para simplesmente despertar-lhes e estimular-lhes a inteligência na curiosidade e interesse das obras-primas e na maneira de as interpretar com pureza e exatidão, cuja primeira condição é bem compreendê-las e senti-las. Uma educação estética assim dada, que não mobiliasse apenas a memória de conceitos corriqueiros e no ar, sem nenhuma objetivação, e de opiniões feitas, mas de fato ornasse o espírito, despertasse as puras emoções do gozo artístico, criasse uma matéria de simpatia humana e um interesse permanente pela arte, seria, estou certo, um estímulo para uma vida espiritual e moralmente superior, que ainda é a mais forte garantia e a melhor defesa da mulher.”
José Veríssimo faleceu no Rio de Janeiro, em 2 de dezembro de 1916. O discurso de adeus foi proferido pelo acadêmico Filinto de Almeida.