(*) Nelson Valente

A literatura infanto-juvenil tem ocupado um grande espaço nos meios de
comunicação de massa, nos últimos anos, devido a fatores históricos
como, por exemplo, o bicentenário de nascimento dos irmãos Grimm, o
“julgamento” do Lobo Mau por um tribunal de Veneza e o relançamento do
desenho animado Branca de Neve e os Sete Anões, apresentado pela
primeira vez há 50 anos.

Aqui no Brasil, a literatura infanto-juvenil parece ter alcançado
finalmente o seu merecido lugar, com a consolidação das livrarias
especializadas que, apesar do pequeno número, mostram que já temos um
público definido e interessado. As vendas crescem de modo constante e
expressivo.

Também o surgimento da crítica especializada, nos principais órgãos de
imprensa, tem contribuído muito para desmistificar uma falsa
realidade, antes lida como verdadeira – a de que a literatura
infanto-juvenil era um gênero de segunda categoria.

É preciso, também, que o programa Salas de Leitura, das entidades
oficiais, seja reconhecido como um dos caminhos para o incentivo à
literatura infanto juvenil, para que seja ampliado. Essa foi uma das
poucas oportunidades em que o governo federal, através do MEC, se
preocupou com o assunto.

Se antes tínhamos que nos sujeitar à tradução de obras estrangeiras,
hoje o que se vê é outra realidade. Desde que pais, professores e
pedagogos passaram a se preocupar com o conteúdo dos livros dirigidos
às crianças, surgiu em nosso meio editorial o que se pensou que fosse
um fenômeno, um boom, mas na verdade, era o florescimento dos nossos
competentes autores e ilustradores.

Foi nesse período que surgiu a chamada “corrente realista” na
literatura infanto-juvenil. A preocupação moralista e também
pedagógica deu lugar aos temas ligados à nossa perspectiva
sociocultural. Passou-se a questionar a realidade brasileira por
intermédio de um humor feito com bastante seriedade. A questão da
fantasia ou realidade deixou de ser relevante, o que importava ( e
ainda importa) era a criança vista como um ser humano e não como um
pré-adulto, ou um adulto miniaturizado.

E onde entra Monteiro Lobato, depois do surgimento dessa corrente?

Simplesmente ele é imbatível. A literatura infanto-juvenil brasileira
tem nele o seu divisor de águas. Apesar de ter sido um escritor
conservador para os adultos, Monteiro Lobato era modernista para as
crianças. E foi o primeiro a criar a fantasia “abrasileirada”, sem
trenós, neves e outros elementos estranhos à nossa realidade, numa
época em que o pouco que produzia era uma cópia de modelos
estrangeiros.

A função social da literatura infantil ultrapassa a sua própria
expectativa, pois é na infância que se forma o hábito ou gosto pela
leitura.

A existência hoje de uma literatura infanto-juvenil brasileira
amadurecida é um fato que merece a maior consideração.

Vivemos o mundo da eletrônica, com todas as facilidades momentâneas. A
nossa literatura infanto-juvenil precisa conviver com os novos tempos.
No rádio e na TV, infelizmente, também existe uma quase total ausência
de espaço para a literatura infanto-juvenil. É preciso que a mídia
eletrônica seja estimulada a participar desse importante processo.

(*) professor universitário, jornalista e escritor

2 thoughts on “A nossa literarura infanto-juvenil…

  1. Rose says:

    Indicação p/ complementar seu Post Giba: Literatura Juvenil Portuguesa Contemporânea: Identidade e Alteridade
    de Francesca Blockeel.
    Bem bacana

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