Lino Tavares
Somos um país ‘mutante’ pela própria natureza e isso vem dos primórdios do descobrimento, quando este enorme torrão, hoje chamado Brasil, recebeu nomes de batismo provisórios como Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz. Mudar é bom. Faz parte da evolução humana. Mas é preciso que se mude, sempre ou quase sempre, para melhor, o que não é o caso deste país, onde as mudanças acontecem, via de regra, em relação a coisas menos importantes, conservando-se, quase como uma instituição nacional, aquilo que de pior existe. O setor mais atingido por esse ‘imobilismo tupiniquim’ é o que diz respeito à segurança pública, cujos órgãos de governo incumbidos de garanti-la à população só têm mudado no seu arcabouço burocrático funcional, deixado a desejar – e muito – no aspecto operacional.
Prendam-se quem prender – dono da boate, integrantes da banda que teria provocado o incêndio e até seguranças omissos da casa de espetáculos – nada isentará o poder público da irresponsabilidade latente sobre o funcionamento inadequado daquele “alçapão de portinhola única”, conhecido como Boate Kiss, situado no centro de Santa Maria. Não vem ao caso discutir se estava ou não com o Álvara vencido, pois esse é um dado irrelevante, já que a tragédia se consumou pelo ambiente propício que havia nesse sentido e não pela falta de pagamento de um tributo. A grande responsável pelo lamentável sinistro (perdão pela redundância, já que todo sinistro é lamentável) é, sem dúvida, a secretaria do governo municipal que concedeu a licença para que um ambiente destinado a abrigar mais de mil pessoas entrasse em funcionamento, desprovido dos requisitos mínimos para utilização desse nível. O resto é consequência. Evidentemente que isso não isenta os que, de forma temerária, usaram essa falha gritando do poder público para ‘acender a ponta do estopim’ que detonou essa ‘bomba de alto poder de estruição’ impropriamente chamada de boate.
Infelizmente vive-se num país “viciado em cobrança de tributos”, mas totalmente incapaz de ‘fazer desse limão uma limonada’ e distribuí-la a seu povo em forma de grandes obras sociais. O normal aqui é assistirmos – impotentes – o dinheiro dos pesados e injustos impostos que pagamos com o suor de nosso trabalho esvair-se, como água da chuva, pelo ralo da desgovernança, através da construção de obras inócuas, parte das quais inacabadas e superfaturadas, tendo como destino final, via de consequência, as contas milionárias dos assaltantes dos cofres públicos.
O mais cruel, o mais dolorido, o mais desalentador, nesse quadro de tristeza configurado em torno dessa catástrofe que banhou de lágrimas o território da quinta maior nação do Planeta, do Monte Caburaí ao Arroio Chuí, é a certeza que fica de que a perda coletiva desses jovens estudantes que confraternizavam numa ‘balada’ entre colegas, não vai servir de alerta nem de exemplo para coisa alguma.
Passados os dias marcados pela dor da tragédia, volta “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Continuarão a crescer nas estradas os números de postos de pedágios, dispositivos eletrônicos destinados a multar e fiscais ambientais ‘caçando’, não raro, pessoas humildes que pegam um bichinho do mato ou do rio para comer. O “Leão insaciável” da Receita Federal voltará a rugir, notificando pequenos e médios contribuintes para se explicar sobre equívocos na Declaração do Imposto de Renda, sem acenar com a melhor possibilidade de fazer o mesmo em relação aos que enriqueceram, da noite para o dia, sob o beneplácito do poder corrupto que enraizou-se nas entranhas do poder como erva daninha na lavoura. Mas nada… absolutamente nada será feito de concreto, no sentido de reduzir drasticamente a criminalidade à solta, que aterroriza a população indefesa, e de implantar uma política rigorosa de licenciamento e fiscalização dos locais de grande concentração popular, como esse que ceifou centenas de preciosas vidas. neste trise início de verão de 2013.
Sem dúvida,Lino Tavares, endosso as suas bem lançadas palavras a respeito dos fatos tenebrosos que seifaram as vidas de mais de duzentos jovens inocentes, que comemoravam as suas formaturas.
Que triste destinos!
Nossas condolências às famílias elutadas e que Deus as ampare!
Meu caro Lino, concordo que o unico responsavel pela tragédia é o poder publico inoperante.