Lino Tavares
O Rio Grande chora a perda de Antônio Augusto Fagundes, o Nico Fagundes das rodas e rodeios tradicionalistas. Ele partiu quarta-feira, 24 de junho de 2015, “Dia de São João”, em sua última cavalgada terrena, rumo à Estância Grande do “Patrão Velho lá de Riba”, como dizia seu irmão mais velho, Darcy Fagundes, grande poeta, ator e radialista do Pampa, que há muitos anos nos deixou. Apresentava-se aos olhos de suas legiões de telespectadores como o mais completo comunicador do Rio Grande tradicionalista e assim era admirado e aplaudido pelos homens, mulheres e crianças de sua terra e de sua gente. A maioria dos milhões de “gaúchos e gaúchas de todas as querências” (expressão típica do seu Galpão Crioulo na RBS TV Porto Alegre) talvez nem soubesse que na pessoa do grande poeta, compositor, músico e apresentador de TV convivia um intelectual da melhor estirpe da cultura gaúcha. É justo lembrar nesta hora que Nico Fagundes era bacharel em Direito, historiador pós-graduado em História do Rio Grande do Sul e mestre em Antropologia Social, sendo diplomado nessas áreas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na sua trajetória artística, que ia muito além do programa de televisão que o consagrou, figuram participações “macanudas” (usando o termo que lhe era familiar) em produções como “O Tempo e o Vento” (Rede Globo – 1985) , na qual representou Bento Gonçalves, além de brilhantes atuações nos filmes “Lua de Outubro” (2001), “A Cobra de Fogo” (2000), “O Negrinho do Pastoreio” (1973) e “A Quadrilha do Perna Dura (1976), longa-metragem do cantor e produtor cinematográfico Teixeirinha.
Antônio Augusto Fagundes, o Nico, que se despede de seu “Baita Chão” aos 81 anos, nasceu em Alegrete, na Fronteira Oeste do Pampa gaúcho, vindo de uma família tradicional, que teve como mestre e exemplo de cidadania o venerando casal Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes (Dona Mocita). Desse ninho de amor e sabedoria, construído “nas quebradas do Inhanduy”, fluiu uma prole de intelectuais, em que se incluem advogados, titulares do Poder Judiciário, militar e fundamentalmente artistas, como Nico e Bagre Fagundes (seu irmão Euclides Fagundes Filho) com quem dividiu parceria, como letrista, na famosa composição “Canto Alegretense”, consagrado como uma espécie de segundo Hino Riograndense (clique aqui para ouvir)
Inspirado nesse clássico do cancioneiro do Pampa, criou-se no final do século passado o festival de música nativa intitulado “Canto Alegretense da Canção Gaúcha”, de cuja fundação tive a honra de participar, dedicando-lhe na ocasião o poema “Canto em Rimas”, de minha autoria, declamado por Nico Fagundes, na abertura da primeira edição do Festival. Foi nesse evento que seu sobrinho, o cantor Neto Fagundes, interpretou o clássico”Origens”, que Nico compôs também em parceria com o irmão Bagre, pai do citado cantor (clique aqui para ouvir). No final deste texto, fica aqui um “muito obrigado, Nico, por teres existido e transformado tua existência fecunda no ‘Farol da Divindade’, que sinalizou caminhos, apontando os horizontes do saber e do fazer nos campos sem fim das múltiplas querências a que tanto amaste e pelas quais tanto fizeste !
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