Davambe
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Ela chegou tão dona se si, toda poderosa cheia do saber e conhecimento.
Todos a aguardavam, ela era a estrela que devia brilhar naquela manhã de domingo. Dia em que todos renunciaram os seus afazeres para assistir aquela palestra.
Era costume a existência de uma secretária que separava quem era professora e quem era o aluno. Professores já haviam reclamado, mas
ninguém os ouvia.
– Nossa! Essa forma nos separa escandalosamente.
– Pois é, professora, o aluno do lado de cá e a professora bem distante da gente.
– Não se preocupe não vou mandar vocês fazerem prova.
– Que alivio, disse Silvio quase tremendo.
– Aquele dia era do desconhecido porque o Arlindo reclamava para ninguém.
Quando a professora finalmente chegou à classe, a história foi outra, porque nenhuma secretária ali havia, separando aluno da professora.
Ela toda poderosa a chegar de mini saia, não chegava a ser mini saia, mas era um vestido. Como qualquer roupa nessa circunstância chega a ser ridiculosa, por que sem a secretária, fica-se sem jeito para sentar defronte dos alunos. Tudo parece às claras, um dia sem nuvens uma noite de lua. Foi o que aconteceu com a mesma, que de repente se sentiu desprotegida de qualquer veste. Sentia-se no paraíso como quando os portugueses chegaram ao Brasil, encontrando as indígenas sem vestes e sem cabelos debaixo das pernas. Não era padrão europeu. Não faltou quem se exclamasse: se existia paraíso, aquele era o paraíso. Como pode as mulheres indígenas todas elas sem vestes e sem cabelos debaixo das pernas?
Meu Deus, aquilo era mesmo um paraíso e se chamava Brasil. Oh, que terra boa era esse Brasil, terra de Santa Cruz.
A professora ficou nervosa quando não encontrou secretária, ela tinha que sentar diante dos alunos, a mostrar a parte íntima cheia de cabelos, afinal lá ninguém se preocupava em arrancar os pelos.
– Bom dia meus queridos, tentou dizer algum plausível, mas não havia jeito. Era necessária uma secretária para ela se esconder. Sentava e tudo aparecia a vista. Meu Deus! – Pensava ela, já a acreditar que aqueles alunos maldosos eram antropofágicos. Pensavam em professora como algo que se comesse, como se ela fosse comestível. Ela sabia disso.
– Ah, aqueles gajos, só pensam naquilo. Vêem aquilo meu. Como é que podem não pensar?
– Sei lá, nem tudo é comestível no sentido antropofágico, mas um ou outro ainda pensava assim.
– Ah, que linda, minha professora deliciosa. Estou no curso certo. Quanta delícia.
Ela sem jeito ficou a pensar, quem em sã consciência poderia ter tirado a secretária? Professora nenhuma daria aula sem ela. Ela não era diferente e sua roupa colaborava para não ser diferente.
Era muita carne solta, e não precisava. O povo brasileiro apreciava churrasco, naquele momento todo o Brasil se concentrava para o sul. Terra do churrasco.
No intervalo, o primeiro que houve, um aluno preocupado mais que a mestra, foi numa sala e furtou uma secretária.
– Ah! Oh! Que beleza! Agora posso prestar atenção para aula.
– Eh, essa professora é excelente, nota dez. São raros professores como ela.
– Sei, meu amigo.
– Sim, querido, maldito quem inventou vestido justo.
– Saia justa.
– E aluno curioso, que gosta de ver além do conteúdo escolar.
– Só pensa naquilo.
– Isso é triste, é desumano.
– Coitada da professora
-Ainda bem que o salvou, oh, José, meu amigo.
– José!
– Um beijo para você.
– Safado!
– Sem graça!
– Vai pensando que é José do mel.