Lino Tavares
Mesmo sendo consideradas pela população brasileira como a instituição nacional mais confiável e largamente empregadas para a execução de importantes obras de infra-estrutura, em todos os quadrantes da Pátria, as Forças Armadas brasileiras vivem situação de penúria, tanto na sua na composição bélico, com armento e equipamentos sucateados, quanto na situação salarial de seus integrantes. Desiludido com a queda no padrão de vida, motivada pelo salário relativamente baixo que recebe, essa capitão do Exército resolveu chamar a atenção da presidência da República, acerca do problema, nos seguintes termos:
Presidente Dilma, veja meu contracheque de Capitão do Exército Brasileiro, em anexo.
MEU SALÁRIO LÍQUIDO: 5.299,00.
– Comando 48 homens (imagino o salário deles… bem menor que o meu).
– Trabalho cerca de 50 horas por semana, mas estou há 15 anos de prontidão, pronto para ser acionado (em caso de garantia da lei e da ordem, ou outro motivo julgado necessário por meu comando).
– Por lei, não posso fazer greve. Mas faço operações de fronteira com colegas da Polícia Federal que ganham 3 vezes mais que eu. Eles podem fazer greve.
– Vários Natais, Carnavais e aniversários de minha filhinha, hoje com 6 aninhos, e do meu guri, com 8, passei na selva, em treinamento.
– O armamento que uso, Presidente, é ultrapassado.
– Minha esposa até tinha conseguido um trabalho com artesanato, que dava um ganho de uns 200,00 a cada mês e meio, + ou -. Mas desde nossa última transferência, ela está meio deprimida, e não consegue ajudar aqui no sustento da casa.
– Jurei que não colocarei meus filhos em escola pública. Só consigo mantê-los atualmente na escola particular graças à ajuda do diretor do colégio (fez um “pacote” mensal para mim, pra 2012, de R$ 1.620,00).
– Tento economizar em outras coisas… O carro, por exemplo, é o mesmo há 6 anos. E já me dá um trabalhão de oficina.
– As crianças e minha esposa usam as mesmas roupas do ano passado. Sim. Estamos em julho; e a última roupa comprada para os três foi no Natal.
A próxima roupa? Se Deus quiser, no Natal.
– Mês passado, tomei uma decisão (pena que minhas crianças é quem mais vão sofrer): cortei a TV por assinatura (eu tinha um pacote básico).
– Agora nosso tormento vai ser tirá-los da TV aberta. Leitura? É o que eu e minha esposa gostaríamos de incentivar neles. Mas… Presidente… Como livro é caro, viu!
– Moro na Vila Militar. Não consigo sequer planejar a compra de um imovelzinho… um apartamento pequeno, para que quando a reserva chegar, não pegue de surpresa um “Coronel desavisado” (como já vi acontecer com dois conhecidos).
– Bem, Presidente:
Como não posso economizar na Amoxilina e outras medicações, que de vez em quando meus filhos tomam;
Como não posso economizar no composto feito em farmácia de manipulação, que a endócrino prescreveu para minha esposa (ainda bem que a minha saúde ainda é muito boa);
Como não posso economizar com a gasolina, nem com limpeza (a quantidade de sabão em pó, detergente, etc, é fixa);
Como a conta de luz e telefone já chegou a um mínimo, de onde não dá mais para economizar; e
Como o meu filho sabe que não posso pagar a ele os passeios (meio caros) que a escola propõe para a turma…
Para fugir dos empréstimos, passei a economizar comprando menos comida.
Isso, Presidente.
Jurei não recorrer mais às financeiras… a muito custo estou abolindo cartão de crédito. Mas para isso digo que estou cada vez comprando menos comida.
Há quatro anos me “sobra”, para o supermercado e a feira do mês, de 1200 a 1300 reais.
Só que as coisas sobem. A inflação está baixa… mas as coisas sobem.
Pode parecer ridículo, mas passei a comer menos vegetais… até mesmo menos arroz e feijão.
Pelo menos tenho o café da manhã e o almoço no quartel, onde posso até repetir o prato, de vez em quando, quando a comida tá boa…
A sra viu quanto está o preço da couve? do brócolis? Eu queria ter esses vegetais todos os dias na mesa de casa… mas atualmente, só dá 1 vez na semana.
E o que dizer do leite? E do Acém? E o preço do quilo do peixe?
Há dois anos, comíamos peixe a cada duas semanas, pelo menos.
Hoje não dá.
Em casa, hoje em dia, substitui-se legumes por pão, em algumas ocasiões.
É menos saudável, eu sei.
Mas enche mais a barriga. É barato.
Já faz um tempão que não usamos azeite de oliva. Puxa, presidente, como o azeite é saboroso! Lembra minha infância.
Hoje, consigo comprá-lo muito raramente. Muito caro, Presidente!
Eu não tomo mais iogurte em casa, nem minha esposa. O litro que consigo comprar, semana sim, semana não, fica para as crianças.
Minha esposa adorava um chocolate. Não come mais.
E os guris ficam com o que consigo comprar. Adianto, Presidente, que faz três anos que o chocolate não é mais Nestlé, Garoto ou Lacta.
Compro uma barra, semana sim, semana não, da marca mais barata.
Comer fora? Consigo levar minha família ao McDonald’s a cada seis meses. A cada dois meses, um Habib’s. Duas esfihas p/ cada.
Sim! Precisamos economizar.
Ainda por cima, já faz quase cinco anos que mando 150,00 por mês para meus sogros.
Eles bem que precisariam de mais, mas não consigo aumentar essa quantia…
Tenho uma esposa que, graças a Deus, me compreende.
O chato, Presidente, é que tem coisas que não dá para fugir. Por exemplo: eu tenho que economizar para dar a minha filha, no Natal, a boneca que não pude dar em seu aniversário.
Aniversário que, diga-se de passagem, foi na lanchonete, com mais duas amiguinhas… e não numa casinha de festa, como ela queria, com todas as amiguinhas da sala…
O chato, Presidente, é que AMO meu Brasil e meu Exército…
Agora pergunto a V.EXA: é justo isso, Presidente?…
Por que outras carreiras do Executivo são tão bem pagas??…
Lino Tavares é jornalista diplomado, colunista na mídia gaúcha e catarinense, integrante da equipe de comentaristas do Portal Terceiro Tempo da Rede Bandeirantes de Televisão, além de poeta, compositor e um grande amigo.
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Pois é, amiga Débora. E além de ter que viver com essa “merreca” salarial, os militares brasileiros ainda são humilhados, classificados de bandidos e torturadores, porque há cerca de 40 anos atrás cumpriram a missão constitucional de defender a pátria, enfrentando maus brasileiros que estavam a serviço da União Soviética, na tentativa de implantar no país uma ditadura comunista. Entre esses traidores, figurava nossa hoje Presidente da República, Dilma Rousseff, que usava na época o codinome de “Estela”, integrando uma organização comuno-terrorista chamada Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Talvez por ressentimento e espírito revanchista, hoje ela reluta em conceder aos militares um aumento salarial à altura daquilo que representam no contexto de segurança da nação, inclusive sendo empregados em obras de infra-estrutura, para tentar tirar o PAC do marasmo em que se encontra, desde que foi criado no Governo Lula, com objetivos meramente eleitoreiros.
Imagino Lino esses homens arriscando a vida deles por um salário de nada.
Muitos até arriscando as vidas para proteger a de um político corrupto e sem moral.
Eles são sobreviventes.