É simples entender por quê.
Ao se dirigir a uma repartição pública para solicitar segunda via dos documentos furtados, a vítima do assalto torna-se um ótimo cliente do governo, proporcionando-lhe um lucro extraordinário, capaz de fazer inveja aos mais lucrativos ramos comerciais da inciativa privada.
A segunda via de um CRLV – Certificado de Registro de Licenciamento de Veículos, por exemplo, custa no DTRAN RS nada menos do que R$ 38 e alguns centavos, o que deve gerar para o órgão arrecadador um lucro não inferior a 300%, haja vista que o custo operacional para gerar essa cópia, mais as despesas de correio, para entrega a domicílio, não deve ir além de uns oito reais.
Isso é tremendamente revoltante, por se tratar de um logro oficial, praticado por quem é sustentado pelo dinheiro público, através de brutal carga tributária, não para usurpar a economia popular, usando os órgãos publicos, mas para prestar serviços à população.
Mais do que uma usurpação legal, essas cobranças abusivas por parte do poder público chegam a parecer um deboche.
Afinal, o mesmo governo incompetente que revela incapaciade para proporcionar segurança aos cidadãos, facilitando a ação dos bandidos que assaltam pessoas, levando seus documentos, aproveita-se dessa desgraça, pela qual é o principal responsável, para auferir lucros estratosféricos na expedição de segunda via da documentação roubada.
Ao cabo e ao fim, o povo, nesse aspecto, acaba se tornando vítima de duplo assalto: um por parte dos bandidos, perpetrado de forma marginal; outro, por parte da coisa pública, praticado em nome da lei.
(*) Lino Tavares é jornalista diplomado, colunista na mídia gaúcha e catarinense, integrante da equipe de comentaristas do Portal Terceiro Tempo da Rede Bandeirantes de Televisão, além de poeta e compositor.