Entenda a Renúncia de Jânio da Silva Quadros 17

(*) Nelson Valente

Corri bibliotecas, colhi depoimentos, li e reli centenas de revistas e jornais antigos e conversei muito com a própria personagem: Jânio da Silva Quadros.

O ex-presidente sempre foi comigo por demais atencioso, relatou-me fatos que hoje tenho por obrigação passar através deste artigo. Entrevistas e bilhetinhos revelam as várias facetas e o estigma da renúncia do político Jânio da Silva Quadros.

Para não desmerecer sua biografia, recheada de renúncias, também desta vez Jânio abandonou a Prefeitura dez dias antes de completar o mandato, viajando para Londres. E os últimos dias de governo foram administrados por seu Secretário de Negócios Jurídicos, Cláudio Lembo (ex-governador do Estado de São Paulo).

O objetivo deste artigo é demonstrar que a renúncia de Jânio da Silva Quadros foi um ato pessoal e suas entrevistas e seus bilhetinhos revelam o estigma e suas várias facetas na arte de renunciar.

O corumbaense Iturbides de Almeida Serra, colega de faculdade, foi eleito vereador em São Paulo em 1947 e não foi empossado. Com isso, o Jânio que tinha ficado na suplência assumiu o cargo. Com a cassação dos mandatos dos parlamentares do Partido Comunista Brasileiro – por determinação geral do então presidente Eurico Gaspar Dutra – ele assumiu uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo, exercendo o mandato entre 1948 a 1951.Renunciando o cargo de Vereador, para assumir a cadeira na Assembleia Legistativa.

VEREADOR

Posse: 1º de janeiro de 1948, renunciando ao mandato em 12 de março de 1951 (assumindo a cadeira de deputado estadual).

DEPUTADO ESTADUAL

Jânio, em 13 de março de 1951, assumiu a cadeira de deputado estadual da Assembleia Legislativa do Estado,renunciando ao mandato em 8 de abril de 1953.

PREFEITO DE SÃO PAULO

A posse de Jânio na Prefeitura da Capital paulista se deu a 8 de abril de 1953 e inaugurou um novo estilo de governo.Renunciando em 31 de março de 1955.

Entenda a Renúncia de Jânio da Silva Quadros 18
MANDATO DE GOVERNADOR

No dia 31 de janeiro de 1955, às 8 horas da manhã, o prefeito Jânio Quadros entregou a sua renúncia à Prefeitura de São Paulo, a fim de ser empossado no cargo de governador do Estado.

QUASE CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

No dia 3 de abril de 1955, sábado, cerca das 21 horas, grande massa popular se aglomerava defronte à sede do governo estadual. Jornalistas, fotógrafos, locutores aguardavam ansiosamente a decisão do governador Jânio Quadros: seria ou não candidato à Presidência. Este era o dia da decisão, pois o candidato deveria se desincompatibilizar do cargo para concorrer ao pleito em 3 de outubro de 1955.

Todos se agitavam. Alguns apostavam que ele seria candidato, outros não, pois estava há dois meses como governador e “cumpriria o mandato do primeiro ao último dia”. Finalmente, após longa espera, Jânio recebe a imprensa para seu pronunciamento, no qual deixou claro que, apesar de todas as garantias, segurança e êxito que lhe trouxeram em relação à campanha para a Presidência, ficava como governador do Estado de São Paulo, porque necessita promover a recuperação administrativa, econômica, financeira e moral de nossa terra e manteria fidelidade aos anseios paulistas. Permaneceria no ponto que o povo lhe havia confiado. Passou a apoiar Juarez Távora, que entrou na luta. Saiu derrotado da campanha, mas levou a melhor das impressões do governador Jânio Quadros.

Quando Governador de São Paulo (1955), contrariado com as críticas e com a oposição que vinha sofrendo na Assembleia Legislativa, no cúmulo de sua irritação, chamou o seu secretário particular, Afrânio de Oliveira, e lhe entregou uma mensagem para ser divulgada à noite, pelos jornais, noticiando sua renúncia. De posse da mensagem, Afrânio de Oliveira reteve-a em seu poder, não dando ciência a ninguém. No dia seguinte, estranhando a falta de repercussão da notícia, indaga o Governador do seu Auxiliar onde se encontrava a mensagem:- “Comigo, no bolso.”- “Rasgue-a”? disse Jânio. Estava superada a crise da “renúncia”.

Entenda a Renúncia de Jânio da Silva Quadros 19Tentativa de deposição de Jânio Quadros do Governo do Estado de São Paulo

O general Olímpio Falconiére da Cunha tentou depor Jânio no governo do Estado de São Paulo no dia 11 de novembro e outras vezes depois disso. Nessa ocasião, outra pessoa que queria a deposição de Jânio era o senador Auro de Moura Andrade, que chegou a telefonar duas vezes a Nereu Ramos pedindo a intervenção em São Paulo. Falconiére foi contido por vários oficiais superiores, coronéis e generais. Entre eles, houve uma palavra decisiva, a do general Stênio Caio de Albuquerque Lima. Auro e outros políticos paulistas, especialmente os que seguiam Adhemar de Barros, foram contidos pelo próprio Nereu, que achou muito perigoso o passo que queriam dar. Nereu e o general Henrique Teixeira Lott procuraram dar ao seu golpe de Estado toda a aparência de ação em defesa da legalidade – de “revolução preventiva”, como disse a revista americana Time.

A deposição de Jânio caracterizaria ainda mais a ilegalidade do pronunciamento militar. Todos os governadores estaduais, especialmente o general Cordeiro de Farias, de Pernambuco, que controlava, realmente, forte guarnição do Exército, poriam suas barbas de molho. Poder-se-ia até formar uma frente de governadores contra o golpe de 11 de novembro. Além disso, depor Jânio era reacender o espírito revolucionário de São Paulo, que vinha sendo estimulado, há muito tempo, pelas forças de oposição ao sistema político de Getúlio Vargas, que é aquele em que formavam Lott, João Goulart e Juscelino Kubitschek e Nereu Ramos. Jânio tinha grande prestígio no seio da classe trabalhadora paulista. Sua administração não merecia críticas tudo isso foi pesado por Nereu e Lott, que ficaram satisfeitos quando souberam que o general Stênio e outros haviam segurado a mão de Falconiére.

O senador Auro ficou muito decepcionado, como também os ademaristas. Mais tarde reaproximou-se de Jânio, seguindo-o por toda parte. Naquela época, todos os telefones estavam censurados no Rio e em São Paulo, ou seja, os telefones dos políticos mais importantes (Auro foi censurado por um deles). No Rio, foi Lott quem ordenou a censura telefônica. Em São Paulo, num ato de legítima defesa, em tempo de guerra foi Jânio. Jânio não se esqueceu, quando Auro andava ao seu lado, das gravações que ouviu das conversas do senador que pediu a intervenção. Falconiére foi um general que não teve compensação com o golpe de 11 de novembro. Juscelino lhe prometeu o posto de ministro da Guerra. Falconiére chegou, nas manobras da região, em Mato Grosso, a convidar oficiais para o seu gabinete de ministro.

O brigadeiro Eduardo Gomes, amigo desde a juventude do general Falconiére, dizia que este não cometeu uma traição no dia 11 de novembro. Falconiére, segundo Eduardo Gomes, tomou uma atitude, como general, de oposição ao grupo de coronéis. Os brios de Falconiére sentiram-se ofendidos com a destituição de Lott. Quem conhecia o brigadeiro Eduardo Gomes sabia que ele era como a ave do poema de Jorge Lima, “antropomorfo como um anjo e solitário como qualquer poeta”, não via um propósito manhoso nessa avaliação que ele fazia dos motivos que levaram Falconiére a enganá-los.

O brigadeiro acreditava nisso. Não foram motivos puramente táticos, de político esperto, que o levaram a reaproximar-se de Falconiére que, quando tenente, recebia de D. Geni Gomes os mesmos cuidados que o filho Eduardo. Falconiére, porém, aproximou-se demasiadamente dos elementos ademaristas ou, pelo menos, antijanistas, de São Paulo. Perdeu as esperanças de chegar a ministro da guerra, a não ser que o governo de Kubitschek, miraculosamente, se tornasse forte a ponto de afastar Lott e impedir que as forças do 24 de agosto tentassem chegar ao poder, desmanchando, assim, as duas concentrações militares que o alarmassem. Nesse sentido, teria trabalhado, mantendo os seus contatos com o general Nelson de Melo. Se Lott fosse derrubado por Kubitschek, ele seria o substituto indicado. Por isso, reaproximou-se de Eduardo Gomes, visando, em logo prazo, obter um apoio semelhante ao que gozava o brigadeiro Henrique Fleiuss, ministro da Aeronáutica e um dos sustentáculos de Kubitschek. Falconiére, no entanto, achava que Lott levaria a melhor. Um dos seus objetivos era ficar bem com Lott. Tanto que não fugiu nem mugiu quando soube que este continuaria ministro da Guerra, com a posse de Kubitschek. Dizia a vários amigos que estava desgostoso, mas não passou disso.

Quando Nelson de Melo fez a manobra para retirar Lott do Ministério, andou pelo Rio, falou um pouco grosso, mas recuou assim que viu que o Grupo de Novembro continuava forte. Em fins de abril e princípios de maio, houve muita inquietação no país. A esquadra, pela segunda vez naquele ano, havia deixado o Rio, indo até o Rio Grande do Sul. Dizia-se que ela se sublevaria no Sul do país. Talvez fosse o próprio general Lott quem mandasse espalhar essa versão porque, nessa ocasião, o ministro da Guerra entrou numa fase intensa de articulação para um novo golpe. Fez consultas aos generais que o haviam apoiado no dia 11 e os seus homens de confiança tiveram várias conferências com políticos e militares ligados ao Grupo de Novembro.

Em São Paulo, houve também agitação de bastidores. Foi nessa ocasião que Falconiére fez sentir aos elementos que se opunham a Jânio que não haveria resistência militar no caso de ser tentada a deposição do governo paulista. Falconiére estava disposto a obter a sua compensação – a interventoria em São Paulo. Mas nem a esquerda se sublevou nem Lott deu o golpe. O ministro da Guerra, sentindo que haveria uma oposição armada séria ao seu novo pronunciamento militar, esperou e ganhou com isso. Em junho, a luta dos estudantes contra o aumento das passagens de bondes lhe permitiu intervir, passando por cima de Kubitschek, e ele reforçou a sua posição no seio do governo.
No mês de agosto, à medida que Kubitschek enfraquecia, a crise financeira chegara ao auge e Lott se preparava para intervir. Preparou o Jornal do Exército, distribuiu boletins acusando o general Juarez Távora e o brigadeiro Eduardo Gomes de tramar o seu assassinato, deu mão forte à chamada Frente de Novembro, movimento golpista formado por “pelegos” sindicais, comunistas e militares, reforçou a sua aliança com o Sr. João Goulart e, finalmente, mandou oferecer a Adhemar de Barros o governo de São Paulo, em troca de seu apoio. Falconiére viu enfraquecer as suas esperanças de conseguir o governo de São Paulo ou o ministério da Guerra. Ficou à espera de melhorias para o seu lado. Não foi fácil deixar de tomar partido e ter amigos em três campos diferentes.

Entenda a Renúncia de Jânio da Silva Quadros 201954 – Jânio Quadros em comício tendo ao lado o catanduvense Éden Bottura. Naquela época ele era Prefeito de São Paulo e fazia campanha que foi vitoriosa ao governo de São Paulo. Criou como símbolo para sua campanha uma vassoura com a qual dizia que iria limpar a cidade da corrupção. O cartaz fala da “Vassoura que varreu a Capital varrerá o Estado”

Em 1954 foi publicado o memorial dos Coronéis, que demonstrava as precariedades do Exército; mas na verdade a finalidade era atingir João Goulart (que como ministro do Trabalho aumentara o salário mínimo em 100%). O Memorial pretendia incentivar os generais para uma ação anti-Vargas. Mas com a morte de Rubens Vaz, protetor de Carlos Lacerda, as agitações se intensificaram e alguns generais pediam a renuncia de Vargas.

Em 10 de maio, todavia, Getúlio anunciou, em discurso inflamado, o novo salário mínimo, nos termos propostos pelo ex-ministro João Goulart. A partir daí, a oposição civil e militar retomou o movimento conspiratório que desembocaria na crise de agosto e no suicídio do presidente Getúlio Vargas.

O nome de Juscelino era complicado de pronunciar, custo a se adaptar à fonética eleitoral. A estranheza da campanha era que justamente o candidato que trazia mais empuxo de vitória fora considerado o “herdeiro do mar de lama” que causara o suicídio de Getúlio Vargas. A grande sombra do suicida pairou durante os meses de campanha. Chegou a ir além da própria campanha, pois, Juscelino, eleito, teve a vitória contestada e seriam necessárias duas minirevoluções, ou melhor, dois golpes militares para que a vontade das urnas fosse reconhecida.

Nunca houve candidato presidencial tão sem chances com JK. As feridas provocadas pela crise de agosto de 1954(morte de Vargas) estavam acesas. No poder haviam se instalado os conspiradores de agosto, a começar pelo presidente Café Filho, um vice que, no acesso da crise, deu o puxão final no tapete de Vargas, colocando-o à mercê dos sicários que desejavam apunhalá-lo politicamente. O chefe de sua Casa Militar, general Juarez Távora, era outro conspirador de primeira e última hora, bajulado pela UDN e dela bajulador: por sinal, ele acabaria como candidato da UDN para a sucessão de Café tornando-se o principal adversário de JK. Este vinha sofrendo o diabo para retirar sua candidatura em nome de dita união, que afinal se resumia em manter a UDN no poder através da nomeação de Juarez Távora para o cargo de Presidente da República.

Volta e meia, surgia um manifesto de generais, exigindo a tal união nacional. Valia tudo para afastar a candidatura de JK, na verdade, valia tudo para que não houvesse eleição. Felizmente para o Brasil, o candidato JK ia em frente. Ele havia dito aos generais que o pressionavam, na presença de Café Filho: “Deus poupou-me do sentimento do medo”.

A campanha de Juscelino acabou em Belo Horizonte, ao som do Peixe Vivo, que não pode viver fora da água fria. Eleito e diplomado ele pensou que a campanha havia terminado. Enfrentou, no entanto, em novembro dois golpes sucessivos para impedir sua posse.

Os integrantes do Memorial dos Coronéis impediam a posse de Juscelino Kubistchek de Oliveira. Os estrategistas: coronéis Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.

DEPUTADO FEDERAL

Deixou o governo paulista em 31 de janeiro para assumir a cadeira de deputado pelo Paraná, que conquistara em 3 de outubro do ano anterior, com o recorde estadual de 78.810 votos. Renunciando em 31 de janeiro de 1961, para assumir a Presidência da República.

Jânio X UDN

Jânio: candidato a canditato à presidência pela UDN renúncia por duas vezes:

1ª Renúncia:

Durante a entrevista, por várias vezes, um dos secretários do ex-Governador aparecia para chamá-lo ao telefone. Ele sempre se negava, avisando que o procurassem no Comitê Estadual, instalado na Rua Consolação. Em seguida, era D. Eloá quem o chamava. Jânio Quadros demonstrava contrariedade e respondia:

“- A essa pergunta, costumo responder que já declarei várias vezes, que não preciso necessariamente ser candidato à Presidência. Sinto-me aos 42 anos, satisfeito comigo mesmo e não nego que a atividade política hoje me irrita e cansa, porque ela é a arte da permanente transigência. Quando renunciei, tinha o firme propósito de voltar a vida privada, isto é, à advocacia, ao magistério, à família...”


RENÚNCIA & PROVÍNCIA (2ª renúncia)

Esta foi a segunda renúncia de Jânio Quadros. A primeira esteve para consumar-se numa tarde de 1960. Em seu quarto de hotel, recebe a visita do senador Afonso Arinos, logo após ter dado violenta resposta à proclamação pacifista do Marechal Lott. O senador fora justamente para aconselhar-lhe mais prudência nesses pronunciamentos, a fim de não tornar irremediável a sua situação político-militar. O candidato levanta-se de supetão, apanha uma folha de papel, assina seu nome embaixo e entrega-a a Afonso Arinos, para que redija ali, como bem quisesse, os termos de sua retirada. Depois, vira-se para Francisco Quintanilha Ribeiro e diz:

– Chico, vamos arrumar as malas e ir embora. Somos da província e não sabemos fazer política federal.

E esta ele a consuma numa carta enviada a Magalhães Pinto, renunciando à candidatura. Quando José Aparecido percebe que ele não estava passando a limpo o documento rascunhado poucos minutos antes, e sim redigindo um outro, pergunta-lhe se havia resolvido mudar a direção da carta:

– A direção e o conteúdo. Resolvi renunciar.

Entregou-a à Quintanilha Ribeiro, dando-lhe um prazo para divulgá-la. Pega o telefone, liga para D. Eloá e comunica-lhe que está liberto.

Instantes depois, o candidato passa pelos líderes udenistas, cumprimenta dois deles, agradece-lhes o prazer de tê-los conhecido, desce as escadas e entra, sozinho, no seu automóvel amassado. Eram 20 horas e 50 minutos.

Entenda a Renúncia de Jânio da Silva Quadros 21Entenda a Renúncia de Jânio da Silva Quadros 22

Os passos da renúncia de Jânio Quadros: 1961

3 de outubro de 1960 . Jânio é eleito presidente

31 de janeiro de 1961 . Toma posse

15 de março . Envia ao Congresso projeto de nova lei antitruste

7 de julho . Manda ao Congresso projeto de lei sobre remessa de lucros ao exterior

Sobre rumores de crise ministerial, face a demissão do ministro Clemente Mariani, da Fazenda, Jânio Quadros dirigiu um bilhete ao seu secretário particular José Aparecido de Oliveira:

“Aparecido:

Leio num jornal que o Ministério está em crise…

Veja se localiza para mim.

Leio, também, que recebi, da Fazenda, um bilhete enérgico.

Desminta. O Ministro é educado bastante, para não o escrever ao Presidente.

E o Presidente não é educado bastante, para recebê-lo…

Assinado – Jânio Quadros

09/08/1961″

Uma onda de descontentamento varreu o país e Jânio Quadros começou a descarregar sua fúria sobre o ministro da Fazenda, Clemente Mariani que, como sabemos, tinha relações de parentesco com o jornalista e dono de jornal Carlos Lacerda. Aliás, era o próprio genro do ministro, o jovem Sérgio Lacerda (casado com a filha de Clementi Mariani, de nome Maria Clara) que estava dirigindo a Tribuna de Imprensa e lhe regulava o tom dos ataques. Essa mudança na direção do jornal se deu porque Carlos Lacerda, eleito governador no novo Estado da Guanabara, teve de se afastar do cargo.

José Dutra Ferreira , mordomo em Brasília (testemunha ocular e auditiva) Ouviu o anúncio que Jânio Quadros fez à sua mãe, no palácio da Alvorada,  em plena mesa de almoço, que iria renunciar  à presidência da República, em 10 de agosto de 1961.


A revista “Mundo Ilustrado” em seu número de 12 de agosto de 1961, treze dias antes da renúncia, publicava a reportagem: “Renúncia, arma secreta de Jânio”.


Em 19 de agosto, condecorou Ernesto Che Guevara, então ministro da Economia de cuba, com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, provocando protestos dos militares e da UDN.

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, através da CIA (Central Inteligence American) e de seu Presidente norte-americano John Kennedy, estavam interessados que o “regime” de Jânio Quadros tivesse êxito no Brasil. A proposta pelo embaixador americano era o de fechar o Congresso Nacional, porque havia um perigo de uma ditadura comunista no Brasil.

No Rio de Janeiro e em São Paulo a repercussão foi forte com as massas nas ruas, bandeiras cubanas e retratos deChe Guevara. O escândalo estourou como na Argentina, e Arturo Frondizi, uma semana depois abandonou o governo sob as ameaças da direita.

Frondizi recebeu tamanha quantidade de ataques que antes de completar sete meses, foi também derrubado. Já,Kennedy, a quem coube o papel equívoco de invasor armado e reabilitador diplomático, foi assassinado dois anos depois, numa confabulação obscura onde as relações com Cuba foram fator de sua transcendência.

Guevara foi convidado verbalmente a visitar o Brasil, o presidente Jânio Quadros, pelo chefe da delegação e ministro da Economia Clemente Mariani (consogro de Lacerda) No dia 19/8/61, o presidente Jânio Quadros condecorou Guevara com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, numa cerimônia improvisada no Palácio do Planalto. Ele ignorava que iria receber uma condecoração, mas também o caráter oficial do encontro. Ele não tinha como retribuir a condecoração, como é usual, e o discurso de Jânio foi breve.

Preferiu Guevara retribuir com discurso breve, aceitando a distinção como entregue ao governo revolucionário e ao povo cubano, sem significado pessoal. Em 19 de agosto, Che Guevara é recebido por Jânio Quadros em Brasília, o qual aproveita a ocasião para atender um pedido do núncio apostólico, monsenhor Lombardi e do Papa João XXIII, para interferir na libertação de 20 padres espanhóis e do bispo de Havana, presos em Cuba. No caso dos padres, Guevara concorda com a libertação, avisando, entretanto que, dentro das regras cubanas, eles serão em seguida expulsos para a Espanha. Jânio manifesta sua opinião de que a expulsão é um assunto interno de Cuba, que só a ela cabe resolver. O Brasil defende a libertação e com esse ato considera o pedido satisfeito.

Na vida de Ernesto Che Guevara, a inteligência e a violência se alternaram o tempo todo.

O ano de 1963 apresentou-se agitado em toda América Latina. No Brasil crescia a organização das ligas camponesas, sob a tolerância do presidente João Goulart, um nacionalista que se apoiava cada dia mais nos esquerdistas dos sindicatos e nos intelectuais.

Resumindo, onde quer que Che Guevara pousasse, aconteciam calamidades com consequências desastrosas, aqui no Brasil, foi condecorado por Jânio Quadros e cinco dias depois, a renuncia.

Em represália, o governador do então Estado da Guanabara, Carlos Lacerda (UDN), homenageou no dia seguinte o líder anticastrista Antônio Verona, com a “chave” do Rio. No dia 23 de agosto, Lacerda foi chamado para uma conversa amistosa em Brasília, mas a viagem só serviu para piorar tudo.

20 de agosto prova cabal de que a renúncia não foi um gesto individual de um Presidente destemperado: a carta em que a decisão seria tornada pública estava desde 20 de agosto em poder de Horta. Que “razões próprias” deve ter tido o ministro da Justiça, Pedroso Horta para o açodamento da entrega do documento da renúncia? Jânio Quadros tinha o estigma da renúncia. Oscar Pedroso Horta (ministro da Justiça) não entendeu Jânio Quadros, quando não rasgou ou pelo menos não retardou a entrega do documento da renúncia. A renúncia de Jânio Quadros foi uma espécie de chantagem com o Congresso, com os militares e com as forças políticas com quem ele estava em choque.

Ele mostrou a um grupo de conspiradores que se reuniu na casa de um industrial em Bertioga (SP). Entre os participantes do encontro estava o Presidente do Senado, Auro de Moura Andrade (PSD-SP), e o ministro da Guerra, Odílio Denys.

24 de agosto. Carlos Lacerda, governador da Guanabara, faz violento ataque ao governo federal em discurso na TV. A denúncia deflagrou uma grave crise política no País, porque o vice João Goulart, que foi ministro do Trabalho de Getúlio Vargas e havia sido eleito pelas esquerdas, encontrava forte resistência entre os militares.

Entenda a Renúncia de Jânio da Silva Quadros 23

25 de agosto. Jânio renuncia.

A bagagem de Jânio Quadros já estava pronta desde a véspera da renúncia, antes de saber da denúncia de Carlos Lacerda. Jânio Quadros, ao participar dos festejos do 25 de agosto, Dia do Soldado, em Brasília, estava com uma fisionomia alegre, na manhã do dia da renúncia. É semblante de quem antegozava uma grande travessura.

No dia 30, os militares lançaram um manifesto alertando para os riscos que a posse de Jango traria, aumentando o clima de tensão. Diante do impasse, que ameaçava se transformar numa guerra civil, a saída encontrada pelo Congresso foi reformar a Constituição, alterando o regime político para parlamentarista. Jango finalmente assumiu e, depois de alguns meses, restabeleceu o presidencialismo através de plebiscito. Mas não conseguiu levar o seu mandato até o fim.

Golbery foi o redator do “Memorial dos coronéis” (fevereiro de 1954) e do “Manifesto dos generais” (agosto de 1954), documentos que precipitaram a crise política que culminou no suicídio de Getúlio Vargas. Em outubro de 1954; renúncia de Jânio da Silva Quadros, em 1961 e a deposição de João Goulart, em 1964. E o golpe militar de 1964. O golpe de estado acabaria acontecendo três meses mais tarde, só que encabeçado pelos próprios militares. O golpe militar era um processo que estava em marcha desde 1954. Daí as “forças terríveis”, além dos Estados Unidos e do senhor Carlos Lacerda.

Jânio Quadros, ao renunciar sepultou as esperanças do senhor Carlos Lacerda, ser Presidente da República. Um dia da caça, outro do caçador. Carlos Lacerda saltou e esqueceu de colocar a rede.

Os militares “Memorial dos Coronéis”, através de seu articulador, Golbery do Couto e Silva e de seus signatários, demoraram, exatamente 10 anos (28 de fevereiro de 1954 a 31 de março de 1964) para colocar em prática a “revolução preventiva” que durariam 21 anos. O astuto estrategista, Golbery, sabia que Jânio sempre demonstrou desprezo pelos partidos e pelo Poder Legislativo. Ao longo de sua carreira trocou de legenda sucessivamente. Renunciando a todos e no mesmo estilo de carta que imprimiu sua marca pessoal na arte de renunciar.

A renúncia de Jânio da Silva Quadros, foi um ato unilateral pelo qual o presidente eleito declara que não aceita a presidência da República, portanto, pessoal.

 

(*) Nelson Valente é professor universitário, jornalista, escritor e inestimável amigo

Entenda a Renúncia de Jânio da Silva Quadros 24

OBS: Clique nas imagens para amplia-las

44 thoughts on “Entenda a Renúncia de Jânio da Silva Quadros

  1. Nelson Valente says:

    Prezado Valter Ferreira Filho,

    tomei uma aversão por política que nada mais me interessa nessa área, nesse esgoto.
    Fraus omnia corrumpt.
    Concordo.
    Abraços,
    Nelson Valente

  2. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    O que me impressiona mal, e me dá profundo desgosto, é passarmos todos esses dias de final de agosto e início de setembro sem ver nada, ou ver muito pouco, quase nada a respeito dos fatos que há 50 anos puseram o Brasil numa das suas maiores crise políticas da história: a renúncia do Jânio, o “movimento da legalidade” e a solução(?) parlamentarista. Isso porque nem os meios de comunicação nem os centros de estudos políticos universitários fizeram mais do que uma ou outra menção daqueles fatos.
    Depois falam que o Brasil é um país sem memória.

  3. gilberto says:

    Beth, muito obrigado por sua participação, comentário e partilha.
    Enviarei ao autor da pesquisa e do texto.
    Um grande abraço
    Giba

  4. Beth Muniz says:

    Belo trabalho de resgate histórico da história recente do país.
    Espero que as pessoas, especialmente os jovens leiam e passem a entender um pouquinho os caminhos que foram trilhados para que chegássemos até aqui.
    Parabéns!
    Vou compartilhar.
    Um abraço.

  5. Nelson Valente says:

    Prezados amigos Giva e Valter,

    tem um jovem de nome Bernardo Schmidt, pesquisou sobre a vida do ex-presidente J.Quadros, viajando para alguns estados brasileiros, pesquisando, gravando depoimentos importantes daqueles que conviveram com J.Quadros, alguns faleceram outros ainda vivos. É impressionante, que ninguém se ofereceu para ajuda em suas publicações, com relatos impressionantes, bombásticos a respeito de J.Quadros.

    Bernardo Schmidt, merece meu reconhecimento e apreço. É elogiável seu trabalho de pesquisa, com mais de 40 h de gravação. Presumo !

    http://bernardoschmidt.blogspot.com

    Marcelo Henrique, Gabriel Kuak, Eduardo Grossi, jovens que deveriam ser também referenciados pela mídia brasileira.

    Abraços a ambos,

    Nelson Valente

  6. Nelson Valente says:

    Olá Mara, tudo bem? Espero que sim ! Fico-lhe grato pela gentileza, apreço e a deferência, enquanto, professor. Vc é suspeita, porque, minha ex-aluna…rs rs rs

    Mara,

    mas o professor Valter, através de suas pesquisas,faz abordagens interessantíssimas, tais como:

    -”Sobre Jânio deputado federal, não consta sequer que ele tenha tomado posse daquele mandato. Há dúvidas. Não conheço quem tenha averiguado isso. O certo é que jamais compareceu a uma sessão que fosse da Câmara dos Deputados e isso em nada influenciou sua campanha e sua eleição em 1960.”

    -“Para o que escrevi, saber ou não quem foi a secretária dele de 1953 a 1961 não faz a menor diferença. Ela teve alguma influência no contexto? Teve alguma coisa a ver com as decisões, por exemplo, da UDN, do PSD ou do PTB? Mudou a Constituição de 1946 em alguma coisa?”

    O trabalho do professor Valter, merece meu respeito e apreço. Por que? Nenhum pesquisador observou os componentes históricos e institucionais. Ele tem razão.

    Segundo o professor Valter:

    -“No primeiro, começa dando a impressão de que Iturbides poderia ser do PDC, partido então ao qual Jânio pertencia, e segue indicando que a posse de Jânio como vereador seria, como foi, devida à cassação dos eleitos pelo PCB, que na época era Partido Comunista do Brasil, razão de ter sido acusado de pertencer à Internacional Comunista. Partido Comunista Brasileiro só veio a ser adotado quando começaram a campanha pela sua legalização e só se tornou definitivo em 1961. Quanto ao Iturbides, era ou não do PCB?”

    Mara,

    O Iturbides, era do PCB. Mas já fizemos as pazes. Porque jamais ocultei a minha estima e admiração pelo ex-presidente J.Quadros. Recomendo a leitura do livro do emérito professor Valter Dutra.

    Mara,

    quer apostar que ele vai ser um dos meus melhores amigos, porque os amigos dizem a verdade.

    Abraços e dê lembranças a todos em Blumenau.

    Nelson Valente

  7. Silmara Santana says:

    Senhor Gilberto,

    li com muita atenção o embate entre ambos os escritores.Em minha opinião, o professor Nélson Valente, apresenta documentos de sua intimidade com o ex-presidente Jânio da Silva Quadros: bilhetinho, material de campanha e fotos, portanto, fidedigno. Não quero desmerecer os argumentos apresentados pelo escritor Valter Dutra, mas só apresentou teoria que deverá ser comprovada ou não. Quanto ao texto apresentado, a mim parece trechos e recortes, portanto, truncados. Penso, que o professor Nélson, procurou fazer uma síntese do material janista, mas a me ver muito interessante e elucidativo. Parabéns, pelo espaço democrático em Blog e permitir a minha participação, como leitora e educadora.

    Senhor Gilberto,

    O professor Nélson foi o que introduziu na FURB a disciplina de Semiótica e é sem dúvida um dos melhores professor que já tive aqui em Santa Catarina e reconhecido em todo o Estado.

    Silmara Santana
    Blumenau/Santa Catarina

    • Valter Duarte Ferreira Filho says:

      Silmara

      No livro que escrevi com a minha esposa não há só teoria, há fatos, mas são relativos às instituições políticas liberais do modo que, no Brasil, existiram sob a Constituição de 1946. Falamos também da crise de comando do capitalismo no Brasil que começou já em novembro de 1930. Depois disso é que começamos a inserir o político Jânio Quadros naquele contexto, mostrando como alguém que luta para ser mandatário virtual tende a entrar em crise com as instituições políticas liberais. E vamos por aí. Aquilo que o Sr. Nelson mostrou no blog não nos contradiz. Pelo contrário, mostra o quanto Jânio era possuidor desse ideal de ser mandatário virtual, razão mesma de suas crises e renúncias contra os políticos da época. Nosso estudo foi sobre componentes históricos e institucionais daquela renùncia à Presidência. Não é do que o Sr. Nelson trata. Aliás, no livro, tivemos o cuidado de dizer que não consideramos nada em termos de perfil psicológico. Este não é o nosso tema e não nos aventuramos por aí, apesar de eu não ser leigo no assunto, médico que sou e acompanhante das coisas referentes a psicologia, psicanálise e psiquiatria. Acontece que privilegiamos os chamados clássicos das ciências sociais para dar uma contribuição sobre aqiela renúncia.

  8. Gilberto says:

    Agora quero inquerir os leitores e os leitores comentaristas.
    Quem de vocês pode me indicar fontes fidedignas sobre a vida e obra de Ademar de Barros (Pai)?
    Eu acredito que ele também é uma personagem digna de publicação e atenção, poiss seu trabalho foi a base do desenvolvimento urbano e rural neste país e sua história também se confunde com a história do própio país.

  9. Gilberto says:

    Meus amigos, vejo aqui atitudes extremamente elogiáveis.
    Em minha visão, o caminho é este.
    O debate aberto e sincero, o defender de opiniões, o enfrentar opiniões diversas, nos fazem crescer, mas debvemos medir o peso de nossas paixões, para por ciumes, não estrapolarmos o limite tenue da política da boa vizinhança.
    Estou muito contente de estarmos todos em paz, pois assim tanto ques escreve quanto quem lê, ganham com a riqueza de informações e todos conseguimos desfrutar um pouco daquilo que o suor adquirido do trabalho arduo da pesquisa alheia, nos trouxe de presente.
    Um grande abraço
    Giba

  10. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Giba

    Sempre gostei do Jânio apesar de não concordar com muitas de suas posições políticas e existenciais. Ao ler alguns relatos aqui passados pelo Nelson, soube que foi aluno de internato e guardou profunda tristeza com isso. Eu também fui, dos 10 aos 13 anos de idade, e também guardo profunda tristeza por ter passado três períodos letivos da minha vida nesse regime. Nem gosto de lembrar o quanto chorei e o quanto me embruteci. Nada, porém, que me prejudique a vida e me tire o desejo de compartilhar conhecimentos e outras belezas da vida. Foi por isso que entrei aqui no blog e tomei parte dessa discussão. Quanto à paixão quando troco ideias ou contesto ideias, é muito forte, sempre, mas sem pretensões de ferir quem quer que seja, ainda que seja alguém mal intencionado, o que não é, nem de longe, o que encontrei aqui.
    Continuamos a conversar. Em paz, no que as nossas paixões permitirem.

  11. Nelson Valente says:

    Prezado amigo Giba,

    Viver a vida ! Sim, Giba. Aos 63 anos de idade, olho para trás, e não me envergonho. Nunca traí a confiança de alguém, porque sempre me orientei pela consciência. Diria, Jânio Quadros: – ” Deus me livre da Presidência ! Neste oceano de corruptos, mentirosos e radicais ignorantes, seria deposto ou morto”.

    Giba,

    você tem razão. O individualismo nos está fazendo estranhos, uns aos outros. Desaparecendo a solidariedade. Mas cumpra-se então! Você o faz, eu o faço. Continuemos.

    Giba,

    as considerações sócio-filosóficas são minhas também! O que me agrada é a identidade de nossos pensamentos. Obrigado pelas palavras generosas. Fizeram-me bem. Todos nós somos, mais ou menos, sucetíveis à vaidade. O que espero é não desapontá-lo, permanecendo sujeito à minha consciência, e submetido, só, às minha ideias.

    Giba,

    gostei de sua ” bronca”, franca e muito clara. Pareceu que os nossos pensamentos são os mesmos, o que é bom para nós dois e para os leitores de seu conceituado Blog…

    Obrigado

    Giba,

    vou ler o livro do Prof. Dr. Valter, com certeza e apreender um pouco mais sobre Jânio Quadros, com certeza.

    Nelson Valente

  12. Gilberto says:

    Meus amigos Valter Duarte e Nelson Valente,
    Em primeiro lugar quero esclarecer que vacilei um pouco em entrar na discução aqui estabelecida, pois como somos adultos e temos interesses em comum, acreditei que poderiam os senhores chegar a um ponto de equilibrio neste diálogo e perceberem que, juntando informações e material de pesquisa, podem chegar a uma obra sem precedentes.
    No caminhar desta discussão, percebi que, além de não estarem se entendendo, pois cada um estava falando de uma ótica completamente diferente do outro, também ficou prejudicada a personagem principal deste artigo, o ex presidente da república Jânio Quadros, que acabou ficando em segundo plano.
    O leitor mais atento, acaba por se prejudicar também, pois deixa de ver aqui o que deveria ser um complemento do artigo.
    Entendo o ponto de vista de ambos, mas vi que, se por um lado o professor Nelson deixou de citar detalhes importantes, o professor Valter o fez de maneira indelicada. Isto trouxe a tona uma verdadeira batalha de egos exautados e quando se da ao ego atenção em demasia, nem sempre a razão se sobrepões.
    Mas quero combinar em público um acordo de cavalheiros com ambos, para o bem comum e para que cada um possa, dentro daquilo que sabe fazer de melhor, cativar e instruir seus leitores.
    Ao invéz de instituirmos longas discussões, podemos fazer artigos, matérias ou até publicar material de pesquisa acadêmica, sem que para isso tenhamos que nos degladiar.
    Pensando sempre no bem estar do leitor e de nossa própia imagem.
    Mas, como sempre procuro ver o lado bom das coisas, vocês me deram uma idéia, que implementarei aqui em um futuro breve. Criarei um forum, onde será este o lugar certo para se debater, discutir, discordar e provocar, saindo cada qual dos participantes e leitores, com muito mais conteúdo e experiência. Onde cada um de nós refinaremos nossos argumentos.
    Por hora quero lhes agradecer imensamente pela participação e também por esta imensa colaboração, no tocante ao conteúdo de qualidade que trazem a este humilde espaço.
    Um grande abraço e sintam-se sempre muito bem vindos.
    Giba

  13. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Sr. Nelson Valente

    Começa que ainda nem se deu conta de que meu nome é com V e não com W. Tampouco me dá a impressão de passar perto de entender o que digo. Essa de insistir em falar da secretária, de lhe dar importância, quando não lhe dou por razões de tratar do tema tendo em vista componentes históricos e institucionais e de não ver nessa secretária nenhuma importância histórica ou institucional, é bastante para dar por encerrado essa tentativa de diálogo.
    As últimos trechos de Jânio aqui citados confirmam que Jânio tinha o ideal de ser um mandatário virtual, bem de acordo com ideias do irlandês Edmund Burke. E isso, ele bem entendeu, era impossível naquele contexto. A renuncia, como a interpreto, foi uma ato coerente com seus ideais políticos, nada mais. Se eu tivesse tido a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, bem que o cumprimentaria pela renúncia.

    “O trabalhador que me elegeu, humilde e sofredor, não me sujeita a qualquer partido, a qualquer indivíduo. Sujeita-me tão só e exclusivamente ao bem comum.”
    Jânio Quadros e sua relação com os partidos, em 1954

    Isso é típico de representante virtual, ainda de acordo com Burke.

    Enfim, não tenho a menor intenção de competir com V. Sa. como escritor. Apenas não gostei do que V. Sa. escreveu. Não o considero um concorrente, até por que não escrevo para concorrer com ninguém. Escrevo para dialogar, para conhecer, para estender minha compreensão das coisas. Se esse não é o seu caso, por favor, me esqueça.

  14. Nelson Valente says:

    Senhor Walter,

    repensando: – ” …componentes históricos e institucionais”. Destaco: componentes históricos e institucionais. E logo no início chamo a atenção para o fato de que não está em questão nada que diga respeito à personalidade de Jânio, admitindo, porém, que “sem maiores compromissos” levo em conta possíveis ideais de Jânio.”. Gostaria de conhecer sua obra. Vamos marcar um encontro e discutir sua tese. Agora, com mais calma, observo suas razões e que não havia pensado. O que falta no mapeamento da minissérie e filme é justamente o que V.Sa., escreve. Agora, entendo sua preocupação em registrar a renúncia por um outro ângulo não apresentado aos leitores e aos meios acadêmicos. Ufa !

    Senhor Walter,

    A Record deve fazer uma minissérie sobre a vida de Jânio Quadros, que será escrita pelo ator e autor Paulo Figueiredo, com base nas obras de Nelson Valente sobre o ex-presidente.

    Ator e escritor Paulo Figueiredo adaptará vida de Jânio Quadros para minissérie da Record
    Segundo Valente, que escreveu 14 livros sobre Jânio Quadros, a minissérie terá um total de 12 capítulos.

    Paulo Figueiredo, que trabalhou como ator em novelas como “Éramos Seis” e “Por Amor”, adaptará o material recolhido por Valente e trabalhará em conjunto com o escritor.

    Ele ainda disse que o projeto ainda está na fase de coleta de material e que, por isso, ainda não há data para estrear.

    Figueiredo contou que a ideia de fazer a adaptação já existe há alguns anos. “Nelson gosta de dizer que a ideia de levar esse projeto para a Record foi só minha, mas não é verdade. Pensamos: ‘por que não juntar forças e fazer algo desse tipo para TV’?”.

    O autor de 68 anos ressaltou a importância da figura política de Jânio. “Jânio é uma figura importante no cenário brasileiro, uma figura polêmica. Há várias versões sobre sua renúncia em 1961. Nós vamos apresentar a versão mais aceitável, segundo o Nelson”, explicou Figueiredo.

    Co-autor da novela “Sangue do Meu Sangue” do SBT, Figueiredo disse que a minissérie não apresentará toda a biografia do político.

    “Se fôssemos abranger toda a vida de Jânio, teríamos que fazer uma novela. Mas não se trata de assunto de novela, a biografia de uma pessoa”, ponderou o ator.

    Abraços e peço-lhe desculpas. Peça meu email ao nosso amigo Giba e vamos conversar. Giba é pessoa amiga, responsável e honesto. Quanto a história do neto eu já havia comentado com o Giba e com o próprio Geneton.

    Nelson Valente

  15. Nelson Valente says:

    Senhor Walter,

    li e reli atentamente:

    -“Sobre Jânio deputado federal, não consta sequer que ele tenha tomado posse daquele mandato. Há dúvidas. Não conheço quem tenha averiguado isso. O certo é que jamais compareceu a uma sessão que fosse da Câmara dos Deputados e isso em nada influenciou sua campanha e sua eleição em 1960.”

    Senhor Walter,

    Jânio – Deputado Federal

    JQ lançou-se candidato a deputado federal pelo Paraná pelo PTB, em 1958. Venceu com a maior votação do Estado e passou a ocupar os dois cargos simultaneamente.

    – “O certo é que jamais compareceu a uma sessão que fosse da Câmara dos Deputados e isso em nada influenciou sua campanha e sua eleição em 1960.” CORRETO.

    No mais, concordo com V.Sa. Sucesso com seu livro. É o meu desejo franco e sincero.

    Boa noite !

  16. Nelson Valente says:

    Janio: Lembranças de família e da escola

    Estas breves e inéditas reminiscências de infância e juventude constituem um dos raros depoimentos do presidente Jânio Quadros sobre sua vida pessoal. Gravadas em 26/09/1989, por Nelson Valente.

    1ª Parte

    Volto as minhas reminiscências da mocidade. Vejo-me no bonde pequenino e inseguro que me levava ao internato, onde fiz parte do curso secundário.

    Meu pai experimentou os três regimes comigo: era aluno comum ou semi-interno e interno. Os dois últimos me causavam pavor. Ficar o dia inteiro enjaulado em imóvel frio, impessoal, de altas paredes, entregues as normas de disciplina rígidas e impessoais também.

    De qualquer forma, meio aturdido pela surpresa, ali estava eu, prisioneiro das notas baixas do passado, sobretudo na aritmética, e sofria com a disciplina. Fora colocado entre os alunos menores, submetido por acréscimo à vigilância dos médios e dos maiores. Os últimos que gozavam de algumas regalias sentiam-se predispostos a exercer essa vigilância com tirania. Dentre eles estava um primo que viera do Mato Grosso, meu estado Natal. Era dos piores. Não perdoava nada, muito menos o toco de cigarro retirado das dobras do uniforme para uma chupada na privada na privada mais próxima.

    O colégio era enfadonho e triste: a rotina invisível, cronometrada, tornava-se um suplício.

    Alegrava-nos a existência de um padre que considerávamos santo, o Mielli, quase cego. Generoso, fraternal, não só perdoava os nossos pecadinhos, como parecia encorajá-los.

    Arrastei o ano de 1930 nesse cárcere, onde, para agravar o quadro, tornando-o intolerável, havia um professor chamado Leopoldino que, a menos que reformado nos costumes e práticas, o Florentino deve tê-lo posto em um dos círculos mais temíveis do seu livro imortal. O Leopoldino personificava tudo que havia de mau. Aprendia os cigarros, que fumava depois, revelado com gestos e caricaturas o quanto se deliciava com o ato. Rondava-nos de surpresa para toas os livros e revistas que nos chegavam às mãos, filhos do difícil contrabando. Espancava os recalcitrantes. Homenzarrão atlético, causava-nos horror vê-lo dando bofetadas a alunos, que se cobriam com os braços para escapar aos muros, perante a platéia impotente.

    Chegou a minha vez. Surrou-me o quanto queria. Enfurecido. Purpúreo. Não deixei de contar tudo a meu pai, à primeira folga, das raras que tive ao fim de semana, quando era lícito passar o domingo com a família em Curitiba. Meu pobre pai, com ira paternal, foi ao internato tomar contas ao Leopoldino.

    Eram ambos, sanguíneos e irascíveis. Não sei o que ocorreu, mas nada menos que um pugilato. Fui convidado, a seguir, a deixar o ginásio.

    Corria o fim do ano e o quadro político sombrio previa o desfecho da praxe republicana. Eclodiu, de fato, a revolução que a Aliança Liberal prometia. E com ela, a vinda da família pra São Paulo.

    2ª Parte

    A vela da minha vida bruxuleia. Há dias, este para apagar-se levada pelo coração enfraquecido.

    Ciente disso estão os meus amigos, exatamente os que mais prezo. Geralmente conquistados na vida pública, eis que ela os distancia. Encontra-se os supérstites nos chapadões no Mato Grosso ou nas araucárias do Paraná.

    É raro nos vermos. De quando em quando eu era surpreendido por uma carta ou simples cartão com que a mão generosa vencia os espaços. Se, com endereço, respondia feliz. Agradava-me revelo nas linhas que me dirigia, sumido o colega nas vastas regiões do sul-mato-grossense ou nas planícies que caracterizavam o Estado nascido também da coragem e ambição paulistas.

    Relembro agora minhas primeiras letras no grupo escolar de Curitiba. Depois de ter estado com os Maristas no colégio da Rua Quinze e ter sido aluno interno do ginásio religioso daquela cidade, vi-me arrancado pela revolução de 30, que expulsou a pobre família na direção do altiplano paulista.

    Aqui prossegui os estudos no arquidiocesano, após estágio de um ano – castigo, porque terrivelmente levado – no magnífico Colégio Salesiano de Lorena.

    Diplomei-me pelos Maristas. A ele devo a minha autodisciplina, meu gosto pelas línguas, sobretudo a portuguesa, e o meu amor aos livros. Esse amor marcou-me como paixão solta, infrene.

    Altas horas da madrugada meu pobre pai batia à porta do quarto em que devia estar dormindo para ordenar que apagasse a luz incerta eu lia para escapar a denúncia da réstia sob a porta.

    Fui para a faculdade, a seguir. Com grande professores.

    Não posso esquecer, porque seria injusto, a figura extraordinária de Mário Mazagão que me impressionou pelo seu rigor na vida pública e privada. Rigor de asceta de uma nobre vida que, diariamente, exigia contas de si próprio. O resto é história conhecida. A rápida, fulminante carreira, regida pela moralidade, na política de São Paulo e do País.

    A vaidade que tenho é não se terem perdido as lições que colhi de mestres notáveis, que revejo agora, os olhos nos olhos.

    Nesta quadra da vida, quase cego e com a memória falha, dou graças a Deus por ter me conduzido a uma esposa virtuosa. Era um encantamento de mulher e deu-me uma filha da qual me envaideço.

    Esta atravessou dificuldades sérias, mas venceu-me. Hoje é deputada federal, as netas bem casadas. A família feliz.

    Não é muito o que tenho a contar, nem isso é um arremedo de biografia.

    Detesto esse gênero literário que só canta loas a seu autor, quase sempre imerecidas.

    Os homens são bons e maus. Raramente santos. Poucas vezes sábios.

    3ª Parte

    Não escrevo por motivos óbvios, nada sobre política, nem pretendo discorrer sobre matéria cediça. Literatura, por exemplo, sociologia ou o pobre e maltratado vernáculo. Não prossigo nas minhas reminiscências, recortadas até com sacrifício pessoal, dada a minha saúde precária.

    Falava no artigo anterior de meu internato no Ginásio Paranaense. Vou dar aquele domingo a continuidade possível.

    Dentre os fatos maiores ocorridos em 1930, devo destacar, também, o casamento da minha prima Lourdes com Afonsinho Camargo. Este era filho do governador do Estado e, possivelmente, o moço disponível e dos sonhos de cada donzela curitibana. Saudável, bonito, viril, o jovem Camargo ficara famoso por suas tropelias no belo sexo. Era o terror e, ainda, a esperança sussurrada das famílias que tinha uma jovem casadoura. Pois bem. O namoro com a prima, também mato-grossense e de rara beleza, marcou-se pela rapidez fulminante. Em pouco tempo, para desespero das rivais, a Lourdes levava o Afonsinho ao altar.

    Ao mesmo tempo os céus da política turvavam-se, ameaçadores. Eclodiu a Revolução, vitoriosa num ápice, sem tiros no Sul ou resistências firmadas.

    Desabava o nosso mundo. Meu pai, que fora nomeado médico do Estado, preparou-se para a vinda a São Paulo, à procura de um governo perrepista (PRP).

    O governador paraense deixou o palácio e alcançando o litoral encetou uma penosa fuga na direção do norte, onde a temível Força Publica assegurava ás autoridades centrais aparente solidez na tranqüilidade.

    Lembro-me bem da excitação que marcou nossa viagem. São Paulo é que da café dizia o verso patriótico de canção repetida por todas as bocas, inclusive a das crianças taludas.

    De fato, desmoronava-se a estrutura da velha República.

    Ocupando o Paraná e detidos os revolucionários em Itararé, com Minas subelevada e a figura rebelde Juarez no Nordeste, era tudo uma questão de tempo. O tempo necessário para que a guarnição do Rio de Janeiro constituísse a chamada junta militar com o dever procípuo de depor a Hidra do Catete – assim era chamado o honrado presidente Washington Luiz. Esse episódio, inglório antecedeu de pouco tempo a nossa chegada à Paulicéia.

    Com energia singular, meu pai conseguira trazer com a mudança a humilde botica, agora em Santana, bairro que elegeu para a nossa residência, em uma altissonante, embora paupérrima, Farmácia do Povo.

    A duras penas e com assombrosa firmeza, conseguia ele instalar-se e instalar-nos na capital. Alugou para residência um sobrado à Rua voluntários da Pátria.

    Desdobrava-se trabalhando. Médico e farmacêutico, infatigável e imaginoso, provia a família composta de minha mãe e uma irmã de nome Dirce, com o mínimo necessário. Nunca nos faltou nada. Excetuando o luxo, tudo o mais tínhamos com abundância.

    Eu, porém, era um estorvo, Magricela, olhos tristes, refugiava-me na leitura, errando pela casa, na indolência forçada. Certa noite, ouvi do meu quarto, que era traçado o meu destino. Cedo, à roda das sete horas, coube à minha mãe, uma santa e fadigada mulher, comunicar-me o decidido: Seria internado no Colégio Arquidiocesano, com saída semanal aos domingos. Isso, se bem comportado.

    Dava assim um adeus definitivo ao cinema ocasional, aos jogos mais ou menos inocentes, inclusive o futebol, às coleções de selos, à leitura errática, da qual consumia as noites até as primeiras luzes da aurora.

    A seguir, o Ginásio, A Faculdade de Direito e a Política.

    Abraços,

    Nelson Valente

  17. Nelson Valente says:

    Valter Duarte Ferreira Filho

    08/28/2011 – 23:44

    Giba

    Essas eu quero ouvir: “gravações com Jãnio Quadros, desde a sua infância a sua renúncia a presidência da República”. Desde a infância de Jânio?

    Sim ! Jânio Quadros, em depoimento a mim, falando de sua infância até a renúncia. Por quê? O que não consigo entender, onde o senhor quer chegar. Sempre que um escritor começa a falar mal do concorrente é prova de fragilidade. Aprendi com meu pai que os erros do concorrente não aumentam nossas qualidades.

    FRASES

    “De que importam as legendas neste país? O que significam elas? Têm conteúdo programático, ideológico ou filosófico?”
    Jânio, sobre os partidos, em 01/11/1981

    “O trabalhador que me elegeu, humilde e sofredor, não me sujeita a qualquer partido, a qualquer indivíduo. Sujeita-me tão só e exclusivamente ao bem comum.”
    Jânio Quadros e sua relação com os partidos, em 1954

    “Senhor presidente. Se a providência na sua misericórdia houver por bem dar alento, saúde, aqui estarei no final do mandato para transmitir, ao sucessor que o povo me der, os símbolos da autoridade.”
    Ao receber a faixa presidencial das mãos de Juscelino Kubitschek, em 31/01/1961

    “A conspiração está em marcha, mas eu não vergo.”
    Sobre a elaboração de um manifesto contra sua política externa, em 25/08/1961

    “Falei em forças terríveis, porque ocultas não foram.”
    Em entrevista ao Pasquim, em 1979

    “Disse aos que me cercavam: não nasci presidente, nasci livre e com consciência. E fui para casa.”
    Sobre a renúncia, em 25/08/1976

    “Eu fui presidente do Brasil e falhei.”
    Em entrevista ao “O Globo” em 09/08/1968

    “Se eu tivesse repartido o governo, teria ficado não cinco, mas dez anos na Presidência da República.”
    Sobre a Renúncia, em 08/08/1980

    “Minhas memórias não virão tão cedo pelo menos enquanto alguns cavalheiros estiverem vivos.”
    Em 29/03/1983

    “Vivo um desquite permanente com o poder.”
    Em 02/09/1987

    “Quero me livrar disso logo.”
    Sobre a política, em 02/09/1987

    “Estou pronto a colaborar se a nação reencontrar-se a si mesma.”
    Após desistir de concorrer à Presidência, em 05/06/1989

    “Não mudo minhas decisões jamais. Nem se Deus me pedisse pessoalmente.”
    Em 16/11/1988

    “Já prestei todas as declarações possíveis sobre isso. Quem afirmar que eu tenho depósitos fora pode ficar com eles. Faço uma declaração de doação.”
    Sobre a denúncia de que teria contas no exterior, em 18/08/1989

    “Não tenho nada a ver com esse rapaz.”
    Sobre o candidato Fernando Collor de Mello, em 05/06/1989

    “Sobre mim inventaram de tudo, até que atravessei o Mar Egeu nadando.”
    Em 06/04/1989

    “Não tenho nada a ver com a opinião pública. Não tenho nenhuma satisfação a dar.”
    Em Nova York, sobre sua ausência da Prefeitura, em 25/11/1988

    “Se a democracia correr perigo, saio candidato.”
    Sobre a possibilidade de disputar a Presidência, em 22/11/1989

    “Dos meus concorrentes, o único que tem programa é o Silvio Santos.”
    Em 11/03/1989

    “Eu não posso impedir que velhinho nenhum, apoiado em bengala, seja candidato.”
    Sobre a candidatura de Ulysses Guimarães à Presidência, em 25/01/1988

    “Apoio Ulysses Guimarães para presidente mesmo que tenha que sair das sepulturas.”
    Em 14/11/1988

    JÂNIO E A RENÚNCIA – VÁRIAS EXPLICAÇÕES

    “No documento (da renúncia), acusei as “forças terríveis” que me pressionaram. Lembro-o porque as “forças ocultas”, que me foi atribuída, corre por conta dos interesses dos grupos que castiguei, procurando rasgar outros rumos, locais e cristãos, para a nossa pátria. Essas forças, às vezes, poderiam aparecer mascaradas, mas ocultas não o eram. Não quis, no meu benefício, rasgar a Constituição – embora anacrônica – dissolver o Congresso – embora deformado pela lei eleitoral e quase inoperante – lançando nosso povo à inevitável guerra civil. Sacrifiquei-me sem hesitações.”
    Carta ao general Castelo Branco, em 1964

    “Há quem diga que eu estava embriagado (quando renunciou). Eu passei sete meses em Brasília tomando ocasionalmente cerveja e vinho nacional no almoço.”
    Agosto de 1976

    “Porque, ó Deus do Céu, todos os lobos saíram do covil para me morder na planície (sic) e eu já não estava lá em cima.”
    Sobre as infâmias que sofreu depois da renúncia

    “Governar, então, no regime que me elegeu, dando-me, na vice-presidência, ao mesmo tempo, um adversário que era inimigo, era jogar nos dados a honra da República e de seus filhos.”
    Novembro de 1978

    “Se houve golpe, eu não o comuniquei a nenhum militar. A Presidência da República não me deu nada. Pelo contrário: andou me tirando. Lá furtaram-me um terno, uma camisa e um par de sapatos.”
    Fevereiro de 1978

    “Deixei o governo porque não podia ser presidente. Como podia governar com o embaixador americano ameaçando-me em meu gabinete, pedindo uma brigada para invadir Cuba.”
    Universidade Mackenzie, em agosto de 1982

    “Renunciei porque não gostava da comida do Palácio.”
    Disse J. Quadros aos berros, em setembro de 1982

    “Por alguns segundos pensei em fechar o Congresso. E ter-me-iam bastado um cabo e dois soldados.”
    Agosto de 1985

    “Eu só tomei conhecimento disso (que a Câmara ia transformar-se em Tribunal Regional de Inquérito) quando cheguei ao Palácio, cerca das sete horas da manhã. Então tinha duas hipóteses: 1) fechava o Congresso, o que seria fácil, mas teria conseqüências imprevisíveis. 2) renunciava ao poder, já que tinha tido a minha autoridade alcançada. Cair à frente do Congresso Nacional de joelhos eu nunca faria, porque significava abrir o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal à voracidade da politicalha que (ele, Jânio da Silva Quadros) vencerá nas eleições.”
    Agosto de 1985

    “Renunciei porque entendi que não podia cumprir meu dever. De maneira que foi o mais nobre e altruísta gesto da minha vida, que irá me consagrar como um êmulo de Deodoro da Fonseca e de Rui Barbosa.”
    Agosto de 1986

  18. Nelson Valente says:

    Prezado amigo Giba,

    ” Para o que escrevi, saber ou não quem foi a secretária dele de 1953 a 1961 não faz a menor diferença.”

    E como faz a diferença !

    Estamos em paz!

    Quanto ao texto apresentado em forma de artigo de minha autoria, são recortes de meu livro: Jânio Quadros. O Estadista. É óbvio, que o entendimento por contiguidade e similaridade, compromete, mas lendo o livro o entendimento é claro e conciso em todos os aspectos, mesmo sobre a CF de 1946. O texto em questão era para rebater as críticas feitas pela filha do expresidente Jânio Quadros, senhora Dirce Tutu Quadros, em entrevista à Rádio Bandeirantes de São Paulo, porque inaceitável. Enfim, uma resenha conteudística parafrásica. Em meu livro: trata-se uma análise semiótica e a comunicação e demonstrando passo a passo, que a renúncia foi um ato pessoal. Agora, discutir variações linguísticas, sob a análise semântica ou semiótica é uma outra situação.
    Giba,
    tenho lido muitos artigos,livros e ensaios sobre J.Quadros, mesmo com os absurdos, mantenho a ética. Se não vou falar bem. Fico quieto. Sou professor de Semiótica, Psicanálise há 40 anos e nunca deparei-me com tal situação, no exemplo negativo do falar ou escrever bonito. Sou autor de 64 livros em outras áreas do conhecimento, ex-presidente de Academia de Letras, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutoramento.

    Giba,

    já faz anos que exploro o mundo dos códigos e dos signos pelo estudo da linguagem, da comunicação, da psicanálise, do saber e de muitas outras formas. No entanto, nunca defini meu objeto ! Porque cada linguagem propõe um paradigma de mundo diferente. Quando jovem , meu professor de Semiótica, Naief Sàfady afirmou:- Nascemos apenas com uma ideia na cabeça e não fazemos outra coisa senão desenvolvê-la ao longo de toda a nossa existência. Disse para mim mesmo:- Será, então, que não é possível que haja uma mudança de vida ? Que reacionário ! Perto dos 63 anos de idade, entendi que meu professor tinha razão: de fato, durante toda a minha vida persegui tão-somente uma única idéia. O único problema é que não sei que ideia é essa ! Creio que estou chegando lá. De tanto me dedicar à semiologia, estou cada vez mais convencido da possibilidade de que o mundo não existe, de que ele nada mais é do que um produto da linguagem.

    Giba,

    Houve momentos, no decorrer do século passado, que a filosofia se recusou a falar do mental sob o pretexto de que não podia vê-lo. Hoje em dia, com as ciências cognitivas, as questões do conhecimento – o que quer dizer conhecer, perceber, aprender ? – tornaram-se centrais. Os progressos da ciência permitem tocar naquilo que antigamente era invisível, o que obriga a Semiótica questionar: como é que a linguagem estrutura a percepção que temos das coisas ?Nem sempre foi esse o caso. A linguagem de Pascal ou de Descartes é simples e corriqueira. O próprio Bergson que trabalha com conceitos difíceis,fala sem tecnicismos. Na segunda metade do século passado, as coisas mudaram. Por que o francês de Lacan parece difícil ? Porque sua sintaxe não é francesa, é alemã ! De fato, nos anos 60 houve uma verdadeira invasão alemã na filosofia francesa. Daí a ruptura entres os dois continentes. Isso criou uma barreira enorme entre a filosofia insular e a continental. Os anglo-saxões, Locke e Berkeley, falam como todo mundo. Wittgenstein, quando começou a pensar em inglês, utilizava uma linguagem simples. Eis a razão por que os americanos gostam tanto de Gramsci – porque ele não se valia do jargão alemão – e por isso eles não se deixaram contaminar pela fenomenologia, por Heidegger, que lhes é incompreensível. Todavia , cederam diante dos franceses germanizados, que influenciaram sua literatura e, depois, sua filosofia. Já é difícil traduzir Lacan em “francês”, imagine em inglês ! No Brasil também aconteceu a mesma coisa: basta que um termo seja alemão para que seja considerado com seriedade.

    Finalizando: imagine vc interpretar Jânio da Silva Quadros? Nem Freud, explica !

    Abraços e sucesso ao livro do Prof. Dr. Walter,

    Nelson Valente

  19. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Giba

    Essas eu quero ouvir: “gravações com Jãnio Quadros, desde a sua infância a sua renúncia a presidência da República”. Desde a infância de Jânio?

  20. Nelson Valente says:

    Prezado Giba,

    sucesso do livro:“A Renúncia de Jânio Quadros, componentes históricos e institucionais”. Recomendo a leitura do ilustre, Prof. Dr. Walter Duarte Ferreira Filho, sobre a verdadeira renúncia de Jânio da Silva Quadros.

    Sobre a secretária de J.Quadros, de 1953/1961, senhora Fortunata. A senhora Kalime Gadia ( foi secretária de Chico Quintanilha) e foi secretária de J.Quadros de 1986/1988. Quanto ao material pesquisado por minha pessoa, fonte primária e os documentos são de minha propriedade, tais como gravações com Jãnio Quadros, desde a sua infância a sua renúncia a presidência da República. A ÉTICA PREVALECEU !

    Giba,

    Sempre que um escritor começa a falar mal do concorrente é prova de fragilidade. Aprendi com meu pai que os erros do concorrente não aumentam nossas qualidades .

    Abraços,

    Nelson Valente
    Abraços,

  21. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Giba, aceite minha renúncia a essa polêmica. No título do meu livro está claro: “A Renúncia de Jânio Quadros, componentes históricos e institucionais”. Destaco: componentes históricos e institucionais. E logo no início chamo a atenção para o fato de que não está em questão nada que diga respeito à personalidade de Jânio, admitindo, porém, que “sem maiores compromissos” levo em conta possíveis ideais de Jânio.
    Sobre o que disse Gustavo Capanema, está, na íntegra, citado no livro e não tem essa conclusão em que se diz “portanto, pessoal”. Essa é de quem escreveu por aqui. Unilateral não quer dizer que seja absoluto, que não tenha relação com nada. Capanema não confundiria essas coisas. Afinal, quem num ato unilateral renuncia, renuncia a alguma coisa. E a Presidência é o tipo da coisa que tem componentes históricos e institucionais.
    Quanto às minhas fontes, são todas escritas. Algum problema em citar as constituições brasileiras ou livros publicados sobre a nossa história ou sobre Jânio? O que não posso é citar depoimentos orais não gravados, não transcritos e assinados pelos depoentes. Para o que escrevi, saber ou não quem foi a secretária dele de 1953 a 1961 não faz a menor diferença. Ela teve alguma influência no contexto? Teve alguma coisa a ver com as decisões, por exemplo, da UDN, do PSD ou do PTB? Mudou a Constituição de 1946 em alguma coisa?
    E se alguém quiser dizer para a família de Jânio Quadros que eu escrevi e publiquei sobre a sua renúncia à Presidência, que diga. Não creio que encontrem motivos para me processar. Por acaso preciso da autorização da família de Jânio para escrever sobre os componentes históricos e institucionais da renúncia? Sobre o que escrevi no blog, não creio que percam tempo com isso. E se quiserem perder tempo, não tenho medo algum.
    Enfim, Giba, podemos conversar por meio de nossos endereços eletrônicos particulares. Aqui, não responderei a mais nada, a menos que leia alguma tentativa de me ofenderem.

    Abraços
    Valter

  22. Nelson Valente says:

    Valter Duarte Ferreira Filho

    08/27/2011 – 19:11

    Giba, me desculpe, não consigo dar crédito a esse relato cheio de problemas, de erros mesmo, com muitos juízos preconceituosos e referências a documentos que nunca foram vistos.

    Senhor,

    para uma bela horta ou um belo jardim, tem de haver um bom esterco. Os limites de sua linguagem denotam os limites de seu mundo. Qual é a sua fonte? Primária ou secundária? O senhor precisa se definir. Escreva o seu livro sobre Jânio e estamos conversado. Vou remeter ao neto do ex-presidente J.Quadros, sobre o que senhor escreve em relação ao mesmo. Ele tem o direito amplo de desfesa. A família autorizou o senhor escrever sobre J.Quadros?

    Senhor,

    vamos para por aqui…observe o artigo 147 do CP. Sem ofensas. Basta! Não preciso de sua avaliação e de seus ” créditos ” . Se faça ! ÉTICA !

    Att.

    Nelson Valente

  23. Nelson Valente says:

    Prezado amigo Giba,

    por gentileza, pergunte ao senhor Walter, quem era a secretária de J.Quadros, no período de 1953/1961?

    Abraços,

    Nelson Valente

  24. Nelson Valente says:

    Giba, dizer que “A renúncia de Jânio da Silva Quadros, foi um ato unilateral pelo qual o presidente eleito declara que não aceita a presidência da República, portanto, pessoal”´

    Giba,

    palavras ditas em plenário, pelo deputado Gustava Capanema.

    Abraços,

    Nelson Valente

  25. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Giba, dizer que “A renúncia de Jânio da Silva Quadros, foi um ato unilateral pelo qual o presidente eleito declara que não aceita a presidência da República, portanto, pessoal” não significa dizer que Jânio foi personagem absoluta da renúncia. É preciso considerar que para chegar à Presidência, condição sem a qual a renúncia não haveria, teve em favor a crise de comando do capitalismo no Brasil e a frustação dos que derrubaram Getúlio de ver o getulismo vencer a maior parte das eleições e todas, até 1955, para a Presidência, pelo menos. Jânio foi eleito presidente numa ordem institucional e numa crise histórica de muitos momentos de clímax e que começou a se definir com o golpe de 1964.
    Nenhum de nós é absolutamente pessoal em sociedade, como Jânio não foi. Estamos todos em relações sociais, políticas, enfim. Precisamos sempre ver os nossos ideais, os nossos valores e as possibilidades de os viabilizarmos ou não em sociedades. Jânio bem que tentou realizar os dele. Não deu, então renunciou, o que fez com sabedoria. E nisso não quero apoiá-lo, somente dizer que foi coerente com seu ideal político: o ideal de ser um mandatário virtual. Aliás, ter um ideal assim é querer brigar com todos o tempo todo.

  26. Nelson Valente says:

    Freud, explica. Presumo !

    O conceito secular de que o sofrimento pode expiar a culpa é um dos sentimentos básicos da vida individual, social e religiosa. Nosso código penal e as práticas religiosas do ascetismo, flagelação e penitências, baseiam-se nele. O pecador libera-se da culpa pela penitência e o criminoso fica liberado e pode voltar à sociedade, depois de ter expiado sua culpa, cumprindo plenamente sua pena. Assim, um dos mecanismos da defesa do EGO mais comum é baseado neste silogismo emocional de raízes psicológicas profundas: que o sofrimento expia a culpa. Através do sofrimento, as pretensões do SUPER-EGO são satisfeitas e sua vigilância contra as tendências recalcadas se relaxa, uma vez que as debilidades culposas do EGO ficam punidas. Existe uma sequência de acontecimentos derivados desse raciocínio: mau comportamento – ansiedade – necessidade de punição – expiação – perdão e esquecimento. Para minorar a ansiedade nascida do sentimento de culpa, surge o desejo de ser punido para não ser rejeitado e continuar sendo amado. A própria pessoa culposa pode chegar a punir a si mesma ou exigir que outros a castiguem. Este desejo de purificação, junto com um outro sentimento oculto de ser admirado e ser amado por seus grandes sofrimentos (ser a mais sofredora), é o que leva muitos indivíduos ao masoquismo. Os indivíduos deste tipo castigam a si próprios, internamente através de seus sintomas patológicos (doenças somáticas), como vimos na conversão, ou por penitências e castigos externos (flagelação). NEGAÇÃO – FUGA – ISOLAMENTO Com frequência usamos o mecanismo da negação do mundo exterior e dos conflitos interiores resultantes, quando nosso EGO se sente incapaz de superá-los. Passamos a “ignorá-los” para não ter que aceitá-los. “Estão verdes, dizia a raposa das uvas, que não podia alcançar”… Perante a impossibilidade de enfrentar certos fracassos ou situações extremamente difíceis de serem superadas, um EGO enfraquecido prefere fugir para situações que supõe mais aceitáveis. Na impossibilidade de aguentar um pai extremamente rigoroso, na impossibilidade de casar, ou no caso de um namoro fracassado, a pessoa pode usar o expediente de ir procurar fortuna no exterior, ingressar no exército, ou num convento. São outros tantos exemplos de fuga. O isolamento é outra variante de fuga. Nos casos de angústia invencível, o indivíduo, frequentemente, desiste e isola-se do drama. Quem não pode prevalecer sobre outra pessoa ou se sente fracassar em seu relacionamento com ela, “isola-se dela” e corta as relações com ela… Às vezes isto se generaliza extraordinariamente e o indivíduo torna-se totalmente isolado, introvertido e neurótico ou a dois passos da neurose, ou pode chegar à própria esquizofrenia. De certo modo, muitos introvertidos não o são por condicionamento filogenético, mas por condicionamento psíquico-educacional, por causa desta classe de “fuga” ou isolamento. Ou são geralmente ambivalentes: muito faladores e às vezes, sentem grande prazer em estar sozinhos. A PROJEÇÃO- Mecanismo de defesa do EGO dos mais comuns e radicais, a PROJEÇÃO consiste em transferir, para as pessoas e objetos de nossas relações, os nossos conflitos internos inaceitáveis. Ao contrário da conversão pela qual os transferimos para nós mesmos convertidos em sintomas ou doenças, na projeção os transferimos para o exterior, para as outras pessoas ou coisas. Não só os impulsos hostis agressivos e sexuais, mas tudo o que é recalcado pode ser projetado para os demais. “Não sou eu que o amo… mas ele que me procura…; não sou eu covarde, indiscreto, desonesto, ladrão, imbecil, etc., mas ele sim …; não sou eu que o odeio, mas ele sim que me odeia…” “Não desejo atacá-lo, é ele quem deseja atacar-me.” Em casos extremos, esta atitude atribui aos outros qualidades totalmente inventadas, como nos delírios de persecução dos paranóicos; outras atribui aos outros as qualidades que ele mesmo tem; em casos mais leves basta exagerar as qualidades dos outros, para disfarçar as próprias. A esposa, por exemplo, esquece seu próprio ódio, ou seu ciúme e acusa o marido destes defeitos; o marido, por sua vez, pode disfarçar seu desejo inconsciente de enganar a esposa, acusando-a de traição.

  27. Nelson Valente says:

    Prezado Walter Duarte Ferreira Filho,

    Na intimidade, Jânio não suportava conversar sobre a renúncia, assunto explosivo se provocado em público ou em ambiente com muitas pessoas. Um dia, aos próprios amigos, que insistiam em fazê-lo confessar algo mais do que a explicação que dava, respondeu com surpreendente calma:
    – “A verdade sobre a renúncia vocês já sabem. Se quiserem ingressar na ficção, conversem com o Vladimir Toledo Piza, que tem mais de dezoito versões. Escolham uma delas.”

    Abraços,

    Nelson Valente

  28. Nelson Valente says:

    Prezado Walter Duarte Ferreira Filho,

    o senhor tem razão: A boêmia dos verbos é que mutilam a boa ordem das frases. Há que lhes perdoar. Não se desgrudam da ideia de movimento. Também, concordo. O que não deve ser dito, não deve ser falado. Quando não se sabe, se cala ( Ponto final e não há parágrafo). Concordo também. Mas, por favor, não espalhe, senão acabam acreditandlo. Estou na torcida por seu livro e sobre Jânio Quadros.O senhor conviveu com J.Quadros? Tem material sobre J.Quadros? Pesquisadores sobre J.Quadros: Eduardo Grossi, Vera Chair, Gabriel Kuak ( infelizmente, esses não tiveram contato com J.Q.), Saulo Ramos, Marcelo Henrique, João Melão, Viriato de Castro, Yamashiro, J.Pereira, entre tantos outros. Tem um jovem de nome Bernardo Schmmidt, fez pesquisa de folego, responsável e profissional. Só tenho elogios a tal jovem. Vou estar conversando com o neto de J.Quadros, meu amigo particular sobre o seu trabalho.

    Prezado Walter,

    após 14 livros sobre J.Quadros, minissérie e filme em andamento, não quero mais falar, escrever ou pensar em J.Quadros. Cansei ! O senhor questiona, sobre a fonte pesquisada. Minha fonte é primária. Abraços e sucesso em seu livro sobre o ex-presidente J.Quadros.

  29. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Giba, tem outros pontos, mas acho que vou falar só de mais um: o que diz respeito ao trecho abaixo.

    Jânio Quadros, ao renunciar sepultou as esperanças do senhor Carlos Lacerda, ser Presidente da República. Um dia da caça, outro do caçador. Carlos Lacerda saltou e esqueceu de colocar a rede.

    Pelo contrário, ao comprovar que Jânio não o destacaria entre os demais governadores, muito menos entre os demais políticos, Lacerda, que de fato pretendia ser o sucessor de Jânio,- até indicado por ele como Carvalho Pinto fora para a sucessão do Governo de São Paulo -, procurou encurralar Jânio com a denúncia nos meios de comunicação de modo a lhe criar os constrangimentos que criou e deixá-lo sem condições de governar como queria. Lacerda, que tanto apostou em Jânio, acabou por compreender que tinha de tirá-lo do caminho para que mais tarde pudesse alcançar a Presidência, o que acreditou ser possível até como sucessor de Castello Branco, este sim que, em conchavo com políticos, prorrogou o mandato presidencial e sepultou as esperanças lacerdistas.

  30. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    De fato, foram duas as ameaças de renúncia à candidatura à Presidência, porém, a primeira apenas parcial, apenas a ser candidato da UDN. A outra por não aceitar às pressões para que aceitasse, e até declarasse, a vinculação de sua candidatura a qualquer das candidaturas à Vice-Presidência. Mas isso se deve às pretensões claras de ser, tanto como candidato como presidente eleito, um representante virtual, isto é, aquele que segue a sua consciência fundamentando seus atos numa figura coletiva acima de todas as demais figuras coletivas e de todos os interesses particulares.

  31. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Giba, no trecho abaixo, ser categórico assim com o candidato JK indica desconhecimento, pelo menos, de que o PSD, seu partido, era o mais forte da época, de que Minas Gerais era o segundo colégio eleitoral do Brasil e que JK fora governador com boa aprovação; de que São Paulo, maior colégio eleitoral estava dividido entre Juarez Távora, apoiado por Jânio, e Adhemar; e de que o PTB, partido com maior apoio de trabalhadores, estava na coligação partidária que o lançou.
    Além disso, o suicídio de Vargas, haja vista os movimentos de protesto, revertera o quadro moral que fora desfavorável a Getúlio. No mais, a tendência eleitoral era favorável, desde 1945, com grande crescimento após a cassação do PCB, à coligação PSD-PTB.

    Nunca houve candidato presidencial tão sem chances com JK. As feridas provocadas pela crise de agosto de 1954(morte de Vargas) estavam acesas. No poder haviam se instalado os conspiradores de agosto, a começar pelo presidente Café Filho, um vice que, no acesso da crise, deu o puxão final no tapete de Vargas, colocando-o à mercê dos sicários que desejavam apunhalá-lo politicamente.

    Mais tarde farei outros comentários, porém, desde já, dizendo que as explicações estão excessivamente concentradas na personagem sem considerar nada das relações institucionais e muito pouco das históricas.

  32. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Onde estão os documentos ou depoimentos que comprovam os fatos narrados em torno da intervenção de Lott em novembro de 1955 e da conspiração dos militares tal como descrita?

  33. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Giba, veja nos trechos abaixo o descuido de quem os escreveu. No primeiro, começa dando a impressão de que Iturbides poderia ser do PDC, partido então ao qual Jânio pertencia, e segue indicando que a posse de Jânio como vereador seria, como foi, devida à cassação dos eleitos pelo PCB, que na época era Partido Comunista do Brasil, razão de ter sido acusado de pertencer à Internacional Comunista. Partido Comunista Brasileiro só veio a ser adotado quando começaram a campanha pela sua legalização e só se tornou definitivo em 1961. Quanto ao Iturbides, era ou não do PCB?
    No segundo e no terceiro trechos, em repetição, embora chamando de “renúncia, mostra que foi desincompatibilização.

    O corumbaense Iturbides de Almeida Serra, colega de faculdade, foi eleito vereador em São Paulo em 1947 e não foi empossado. Com isso, o Jânio que tinha ficado na suplência assumiu o cargo. Com a cassação dos mandatos dos parlamentares do Partido Comunista Brasileiro – por determinação geral do então presidente Eurico Gaspar Dutra – ele assumiu uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo, exercendo o mandato entre 1948 a 1951.
    A posse de Jânio na Prefeitura da Capital paulista se deu a 8 de abril de 1953 e inaugurou um novo estilo de governo.Renunciando em 31 de março de 1955.
    No dia 31 de janeiro de 1955, às 8 horas da manhã, o prefeito Jânio Quadros entregou a sua renúncia à Prefeitura de São Paulo, a fim de ser empossado no cargo de governador do Estado.

  34. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Vamos por partes. As “renúncias” aos mandatos de vereador, de deputado estadual e prefeito não o levaram a se ausentar da vida política e sim à posse em mandatos progressivamente mais importantes. Em rigor, foram desincompatibilizações.
    Em 1958, Jânio foi eleito deputado federal pelo Estado do Paraná à sua revelia, o que era possível devido à legislação eleitoral da época. Em 45, Getúlio foi eleito deputado por 6 estados e também pelo Distrito Federal, bem como senador por dois. Jamais compareceu à Câmara ou ao Senado. Sobre Jânio deputado federal, não consta sequer que ele tenha tomado posse daquele mandato. Há dúvidas. Não conheço quem tenha averiguado isso. O certo é que jamais compareceu a uma sessão que fosse da Câmara dos Deputados e isso em nada influenciou sua campanha e sua eleição em 1960.
    Depois mostrarei outros pontos que não consigo aceitar.

  35. Valter Duarte Ferreira Filho says:

    Giba, me desculpe, não consigo dar crédito a esse relato cheio de problemas, de erros mesmo, com muitos juízos preconceituosos e referências a documentos que nunca foram vistos.

    • Gilberto says:

      Valter, você poderia ser mais específico e dar mais detalhes sobre estes erros e preconceitos que citou em seu comentários.
      Quanto mais detalhado for seu comentário, tanto melhor será para nós debatermos o assunto.
      Um grande abraço
      Giba

    • Fabio says:

      Valter, você poderia me informar se sua fonte é primária (presenciou, até quase a intimidade do Dr. Jânio)? Me recordo dos idos de 1985, quando o então candidato a prefeito, o Sr. Ex-Presidente Jânio da Silva Quadro, esteve presente à residência do Sr. Newton Zadra (Rua Américo Vespucci), na ocasião tive a oportunidade de conhecer o Prof. Valente e, da boca do próprio Dr. Jânio, ter ouvido tratar-se de um de seus primeiros e mais presentes assistentes. Pelo que podemos verificar todo o trabalho do Prof. Valente é fidedigno, original e calcado em fatos e fotos, o que sugiro que sua parte assim proceda, se é que lhe é possível. Não sei se me entende. Aproveite e responda aos vários questionamentos que estão lhe sendo feitos pelo Giba e pelo Prof. Valente, mas faça-o com fatos e documentos (existe hoje um equipamento chamado scaner, pode usá-lo). Aqui no interior do estado temos a prática de matar a cobra e mostrar o pau e a cobra e não apenas de ficar cacarejando. Como o próprio Dr. Jânio disse: “Sobre mim inventaram de tudo, até que atravessei o Mar Egeu nadando.”, qualquer um pode dizer e escrever o que bem entender, inclusive eu e você , mas poucos foram a testemunha viva da história e da edificação de um mito e estes merecem nosso respeito.
      Um grande abraço.
      Fábio
      São Carlos – SP
      PS: Quantos livros o sr. tem escrito e publicado sobre o Dr. Jânio?

      • Valter Duarte Ferreira Filho says:

        Fábio

        Como explquei para outros abaixo, nosso trabalho não precisou do que você chama de fonte primária. Mais do que sobre Jânio, a sua personagem, nosso estudo é sobre as instituições políticas liberais, sobre a crise de comando do capitalismo no Brasil e os partidos a ela vinculados. A renúncia tem a ver com isso tudo também. Entenda que o título do nosso livro fala em componentes históricos e institucionais da renúncia e não em “causas”. Vai aí uma imensa diferença. A decisão do Jânio de renunciar manifestou a crise institucional própria das instituições políticas liberais e a crise interna de comando do capitalismo. Isso é o que pretendemos dizer. Ele podia não ter renunciado e a crise existia assim mesmo. Foi o fato de Jânio, por tudo que disse em seus discursos, e que hoje reforço com o material que o Nelson expos aqui no blog, pretender ser um mandatário virtual, segundo Burke, o que o fez, com correção, renunciar.
        No mais, fale comigo com respeito. Não diga que fico “cacarejando”. O pau e a cobra estão no livro, que você tenta condenar sem ter lido.
        Para finalizar, tenho dezenas de artigos publicados sobre política brasileira contemporânea, que é no que incluo o estudo sobre a renúncia do Jânio. E o Dr. do Jânio é que nem o meu Dr. de médico, pura graduação. Não é por conta de doutorado, que tenho e não ostento. Prefiro bons argumentos e honestidade.

        • Fabio says:

          Walter

          Em momento algum fui desrespeitoso contigo, Não o conheço, não estou familiarizado com tal postura e saiba que trato os outros com minha educação e não como acho sou tratado. Peço-lhe a gentileza de respeitar os limites sociais.
          Quanto suas alegações, baseadas em um discursos até que bem elaborado, parece-me descabida a concepção de separar o autor da obra; quase uma total descaracterização. Respeito sua tese mas registro minha desaprovação. Analise que, quiçá, parte de nossa identidade histórica e cultural está caminhando para o esquecimento por abordagens criativas e, digamos, tal espécie de Frankstein ao inverso
          Preferir algo é diferente de cultivá-lo.

  36. Lino Tavares says:

    Giba e Professor Valente. Esse texto relata um formidável pedaço de nossa atribulada história republicana, mostranto a face de um de seus mais polêmicos personagens, Jânio da Silva Quadros, que atravessou a fronteira de Mato Grosso para escrever, na vizinha paulicéia, uma página política que tem seu lado folclórico, sendo por isso apaixonanante. Meu velho e saudoso pai, João, mesmo sendo de um partido coligado ao lançamento da candidatura de Jânio à presidência, declarou na ocasião que não votaria naquele que classificava de “Maluco”, porque lhe palpitava que ele renunciaria e causaria tumulto à vida institucional do país. Votou em branco. Minha mãe, Manoela, fanática adversária da candidatura TEIXEIRA LOTT, por causa do PTB da época, que ela detestava, chegou a ficar de cara torcida com o meu pai, por essa atitude. Depois, quando a previsão do “Velho” se cumpriu, ele esnobou, dizendo à Mamãe: viu, Manoela, como eu tinha razão ? Vai por mim que tu nunca erra !
    Como Jânio foi o “Rei da Renúncia”, deixo inserido aqui o link de uma bela canção do Nelson Gonçalves, que vem a calhar com essa “mania janista”.
    Boa música:
    Abraços do parceiro
    Lino Tavares

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.