Lino Tavares
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Na série de entrevistas com personalidades nacionais e internacionais, da seção Arte e Cultura, figura nesta edição a cantora Fafá de Belém, uma das mais consagradas intérpretes da música brasileira, detentora de um repertório variado e abrangente, que a torna estrela de primeira grandeza, no cenário musical do país, expressa na singularidade de seus recursos vocais e na sua inconfundível postura de palco, atributos artísticos que configuram o elo fundamental da interatividade que a mantém em clima de perfeita sintonia com os milhões de fãs e espectadores que a admiram e aplaudem. Na primeira parte da entrevista figura uma síntese biográfica da entrevistada, cuja elaboração contou com o apoio da assessoria de imprensa da cantora,chefiada pela jornalista Eulália Figueiredo, viabilizando contatos com Fafá de Belém, que com espírito cooperativo atendeu ao nosso convite, em meio ao corre-corre de suas ininterruptas atividades artísticas no país e no exterior.
O Despertar Para a Fama
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Desde o primeiro álbum, “Tamba Tajá“, em 76, o canto, a sensualidade, a força e o carisma de Fafá de Belém contagiaram o povo brasileiro e até mesmo os críticos considerados mais exigentes. Aliás, um pouquinho antes, em 75, a artista já obtivera reconhecimento nacional com a inclusão, na novela Gabriela, da música “Filho da Bahia” ( de Walter Queiroz rae interpretada por ela).
De lá pra cá, a cantora vendeu milhões de álbuns, conquistou plateias pelos quatro cantos do mundo, acumulou algumas das mais importantes premiações relacionadas à canção brasileira. No exterior, o público lusitano, que a acolheu como uma típica compatriota, foi o mais seduzido pelo talento desta intérprete visceral que canta, com emoção, o que a arrepia sem render-se a modismos. Ao contrário, em certos momentos, tornou-se até pioneira, abriu caminhos para estilos e tendências. Gravou lambada quando ninguém nem sabia do que se tratava; conseguiu chegar às FM’s com uma canção sertaneja, “Nuvem de Lágrimas“: a primeira de um gênero considerado brega a ser executada nas rádios FM’s do Rio (até então consideradas elitizadas).
Voltando aos patrícios, a cantora é tão prestigiada em Portugal que ganhou, em 2011, a “Medalha do Turismo“, e um dos seus maiores sucessos – a canção “Vermelho” (Chico da Silva) – é um dos hinos da torcida do Benfica. Não foi à toa que Fafá, descendente de portugueses, em janeiro de 2013, solicitou sua dupla cidadania.
Cantora dos grandes amores, desamores, das causas passionais, a artista arrebatou, desde o início, não só o público mas também alguns dos maiores nomes da MPB. Em seus álbuns, músicas feitas ou não para ela mas que pareciam sempre exibir o seu “DNA”, explodiram em sua voz. Eram presentes e mais presentes de ícones como Milton Nascimento, Chico Buarque, Suely Costa, Ivan Lins, Fernando Brant, e também de conterrâneos ilustres como Paulo André e Ruy Barata. Estes últimos, que compuseram canções como “Foi Assim” e “Pauapixuna“- megassucessos da carreira de Fafá. “Tamba Tajá“, que titulou o álbum de estreia, foi composta por Waldemar Henrique, outra figura lendária de sua terra natal. “Sedução” e “Raça“, de Milton e Brant, as músicas “Dentro de mim mora um anjo” (Suely Costa/Cacaso) e “Bilhete” (Ivan Lins/Victor Martins) soam como marcas registradas e, praticamente, definitivas em sua voz.
Apesar de adorar participar, na infância, das festas e saraus promovidos pela família, Fafá não pensava em ser cantora. Queria ser psicóloga. Mas fazia de tudo para ficar no meio dos adultos e adorava “soltar a voz” durante essas reuniões. Ainda adolescente, mesmo sem saber, já dava “sinais” de sua paixão pela música quando fugia de casa, com amigos, para cantar em serestas e saraus.
A grande brincadeira só acabou mesmo quando conheceu Roberto Santana e o produtor resolveu aconselhá-la a investir na carreira artística. Com o incentivo, Fafá resolveu cair na estrada e apresentar-se em diversas cidades: Rio de Janeiro, Salvador e, claro, Belém. Logo viria a estreia, como cantora profissional, num espetáculo de teatro:”Tem muita goma no meu tacacá” – uma sátira ao momento político daquela época e que contava, em seu elenco, com o hoje conhecido ator Cacá Carvalho.
“Àgua“, o segundo álbum, que vendeu mais de 100 mil cópias, consagrou a cantora nacionalmente. E vieram muitos e muitos outros sucessos a partir daí. “Sob Medida“, de Chico Buarque, gravado em 79 no álbum “Estrela Radiante“, com canções regionais e urbanas, é considerado um dos seus maiores hits.
Talentosa também como atriz, Fafá de Belém participou de filmes, telenovelas e espetáculos musicais. “Alabê de Jerusalém” ( a “ópera-negra” de Altay Veloso), a novela “Caminhos do Coração” escrita por Tiago Santiago (Rede Record) e o filme de Tizuka Yamasaki “Amazônia Caruana” (que narra a vida da única pajé brasileira, Zeneida, que vive na Ilha de Marajó) são alguns dos trabalhos realizados pela cantora e atriz que também fez parte, como jurada, do programa “Ídolos“, da Record.
Conhecida como a “Musa das Diretas” pela participação efetiva no movimento que tomou conta do país em prol das eleições e fim da ditadura militar, Fafá também realizou gravações históricas e emblemáticas que emocionaram o povo brasileiro, como nas gravações de “Menestrel das Alagoas” (LP Fafá de Belém), e do “Hino Nacional Brasileiro” (no álbum “Aprendizes da Esperança“). Sua identificação com os movimentos progressistas e por ter caminhado por todo o Brasil na campanha pela democracia e em repúdio aos “anos de chumbo”, “de avião, carro, ônibus, e até lombo de burro” como costuma dizer”, rendeu-lhe amigos em todos os partidos. Como diz Fafá, “sou amiga dos amigos e não de partidos. Conheci todos essas pessoas que aí estão, quando lutávamos – todos – sob uma mesma bandeira: a da redemocratização”. Felizmente, essa trajetória não se perderá e será contada em um longa-metragem, que vai retratar a caminhada da única artista a participar de todos os comícios pela Diretas.
Reverenciada como uma intérprete de grandes nomes da MPB e de conceituados autores regionais, em meados dos anos 80, a intérprete dá uma guinada na carreira e abraça a chamada canção popular, passando a apostar suas fichas em autores menos incensados pela crítica.
Grava canções ainda mais românticas, populares e explode, literalmente, nas paradas. Em 86, com o álbum “Atrevida” e em função de megahits como “Memórias“, de Leonardo, e “Meu homem“, versão da própria Fafá para “Nobody does it better” (gravada originalmente por Carly Simon) chega à incrível cifra de 500 mil cópias vendidas! Mas outras canções chegam, com força total, em LP’s posteriores: “Meu Dilema” (Michael Sullivan /Leonardo) foi o maior destaque no álbum “Grandes Amores“, e “Meu disfarce“, de Chico Roque e Carlos Colla, foi um dos hits do álbum titulado como “Sozinha“. E muitas canções interpretadas pela artista como, por exemplo, “Coração do Agreste“, de Moacyr Luz e Aldir Blanc, que fez parte da trilha sonora de “Tieta”, também frequentaram as telinhas. “Nuvem de Lágrimas“, de Paulo Debétio e Paulinho Rezende, sucesso até hoje, foi gravada no álbum “Fafá“. “Doces palavras“, o disco posterior, trazia canções como “Coração Xonado”, “Águas Passadas” e ganhou versão, em CD, com três faixas como bônus.
Álbuns como “Coração Brasileiro” (96) e “Pássaro Sonhador” (98), os inúmeros “Fafá” e o “Meu fado“, um CD inteiro dedicado à canção portuguesa mas com sotaque brasileiro, lançado em 92, são alguns dos trabalhos fonográficos de uma carreira cortejada, incessantemente, pelo sucesso. Seja ele através das canções românticas, poéticas, melodias urbanas, regionais, embaladas pela poesia ou até mesmo pelas mensagens sociais, conscientizadoras. Os anos 90 foram, sem dúvida, tempos de muita batalha mas também de muitas vitórias para Fafá.
Os anos 2000 começam, para a cantora, com um CD intitulado “Maria de Fátima Palha de Figueiredo” – com repertório romântico e canções consagradas. Destaque para a regravação de “Meu nome é ninguém“(Haroldo Barbosa /Luiz Reis) registrada, originalmente, por Miltinho. “Piano e voz“, em 2000 e, logo depois e na mesma linha, o “Fafá ao vivo“de 2002; o registro, em 2003, de “ O canto das águas“; “Tanto Mar“, em 2005 (em homenagem a Chico Buarque), e o CD/DVD “Fafá ao vivo”, em 2007. “Fafá – Raridades“, em 2011; “Ep“Frevo e Folia” e “Amor e Fé” (ambos em 2013) vieram na sequência. “Amor e Fé“, um dos mais recentes lançamentos da artista, é uma reverência ao Papa Francisco. Fafá, reconhecidamente religiosa, é a única artista no mundo a cantar para três papas.
Com uma carreira profissional consolidada, mas sempre preocupada com as questões sociais, culturais e religiosas, Fafá de Belém também tem se esmerado na divulgação de um dos maiores eventos deste país: o Círio de Nazaré (que acabou de ser titulado como”patrimônio imaterial da humanidade” pela Unesco). A manifestação, realizada em outubro, leva milhões de fiéis à sua querida Belém do Pará. A cantora, utilizando-se dos seus conhecimentos e com muita criatividade, tem realizado um evento denominado “Varanda de Nazaré” para atrair a atenção sobre a bela manifestação cultural e religiosa. Fafá tem reunido inúmeras personalidades formadoras de opinião, e conseguiu um foco ainda maior da mídia para o evento recorde com cerca de três milhões de pessoas . São cidadãos das mais diversas regiões que, nessa ocasião, são convocados pela cantora para assistir ao Círio e a conhecer um pouco mais da cultura amazônica. Uma região, infelizmente, ainda pouco apreciada pelos próprios brasileiros.
Fafá também foi sucesso, marcando presença em maratona carnavalesca pelas ruas, vielas e palcos do Recife e do Nordeste, cantando a música inédita que gravou, recentemente, com a participação do autor Alceu Valença “Beija-Flor Apaixonado”). Canção esta que estará disponível para download, gratuitamente, até o dia 10 de março, em seu site (www.fafadebelem.com.br). A exemplo do ano passado, ela também cantará durante a passagem do maior bloco do mundo: o Galo da Madrugada – que participou do seu EP, em 2013.
Depois da folia, a artista recomeçou sua turnê nacional e também voltou ao exterior, no dia 08 de março, como convidada do Cabo Verde Music Awards. Em seu retorno ao Brasil, a cantora iniciará o processo de seleção de repertório para um novo e, certamente, vitorioso álbum de carreira.
Para encerrar, vale a pena reeditar a palavra da própria intérprete no trecho final da biografia que pode ser encontrada em seu site: –“Sempre transei minhas coisas, vivi minha vida, batalhei demais e dei muito murro em ponta de faca para chegar aonde estou. É o povo que ensina ao artista o que ele tem de cantar e não o artista que deve ensinar ao povo o que ele tem de ouvir“– repete, com freqüência, a artista popular que Fafá de Belém se tornou. Fafá virou marca nacional. Marca nacional de alegria, com aquela gargalhada sinceramente estrondosa que é capaz de levantar os ânimos de qualquer um. Marca nacional de saúde, a bela mulher brasileira que batizou até as lanternas do antigo Fusquinha, outra paixão popular. Marca nacional de liberdade, símbolo de um movimento político que fez milhões de brasileiros se emocionarem com sua interpretação do hino pátrio.
Atualidade Artística
“Meu RIO de muitos janeiros”
Fafá de Belém – THEATRO NET
(show em homenagem à boemia carioca)
Fafá de Belém está de volta aos palcos para apresentar um espetáculo inteiramente dedicado às noites cariocas que reuniam, frequentemente e em algumas famosas casas noturnas, gerações de cantores, compositores, atores; enfim, astros da cena cultural dos anos 70/80. O Rio era uma festa e, culturalmente, parecia ter um manancial inesgotável de talentos. Foi nessa época que Fafá, ainda muito jovem e recém-chegada por essas bandas, conquistou o país com sua voz, carisma, sensualidade. O espetáculo “Meu Rio de muitos janeiros“, marcado para o dia 26 de abril, às 21 horas, no Theatro Net Rio, tem roteiro musical baseado em alguns dos seus principais hits e canções de compositores cariocas, como Chico Buarque, Tom Jobim, Roberto Menescal e Dolores Duran, dentre outros.
Acompanhada por um trio de músicos do primeiro time da mpb, a cantora relembrará sucessos como “Coração do Agreste” e “Foi Assim“; e fará um passeio pela obra de Chico Buarque – a quem dedicou um álbum inteirinho: o “Tanto Mar“, gravado em 2006. “Sedução”, “Olha Maria”, “Minha História ” e Gota D`Água“), alguns clássicos do repertório de Chico, irão se juntar a outros standards da música brasileira, como“Preconceito” e “Ninguém me ama”, de Antonio Maria e Fernando Lobo, e “Valsa de uma cidade” (Antonio Maria e Ismael Neto (compositores que amavam o Rio mesmo sendo Maria pernambucano e Ismael paraense).
Fafá morou no Rio durante anos e viveu seus primeiros grandes momentos, como cantora, na Cidade ainda Maravilhosa. Por isso, esse carinho especial pela capital fluminense e a decisão de homenageá-la num espetáculo que relembrará uma época boêmia e que evidenciava a vocação carioca de vitrine cultural do país.
“Meu Rio de muitos janeiros” , em fase ainda embrionária e no final do ano passado, foi apresentado em uma outra casa noturna e, além de belas críticas da mídia, provocou fortes emoções na plateia.
“Fafá, você está cantando com o útero“, disse um fã que fez questão de cumprimentá-la no camarim. O jornalista Luiz Carlos Lourenço (que teve a matéria publicada na coluna de Hildegard Angel e presenciou a emoção do admirador) além de narrar o episódio no camarim, fez questão de não economizar elogios ao show de Fafá: -“ No show , Fafá de Belém provou que é uma cantora que tem como maior trunfo a sua capacidade de interpretação, revelando-se uma artista emocional, intensa, voluptuosa e que prende toda a atração do público, sempre sabendo se fazer ouvir”. E, para melhorar, a matéria de Lourenço foi titulada como “o esplêndido show de Fafá“.
Com um repertório ainda mais lapidado e a inclusão de canções emblemáticas que ajudaram a embalar as noites boêmias do Rio, o público terá motivos de sobra para acorrer ao espetáculo que a artista fará, dia 26 de abril,às 21h, no Theatro Net Rio.
Os ingressos para o grande espetáculos custam R$ 150,00 (plateia e frisas) e R$ 100,00 (balcão)
Fafá de Belém Responde
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Quando foi que passou aquele “filminho” na cabeça da Fafá, mostrando-lhe que havia nascido cantora?
R: -( rsrsrs) Sempre gostei de cantar, mas não pensava em ser cantora. Um dia, um produtor me conheceu, e “plantou uma sementinha”… Me disse que deveria me profissionalizar. Ele era o Roberto Santana, um grande profissional…e resolvi escutá-lo. Dai, dois anos depois, sai de Belém…
Você tinha algum outro projeto de vida, na adolescência, a não ser cantar ?
R: Sim, queria ser psicóloga. Nunca pensei mesmo em ser cantora.
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Qual era o seu gênero preferido quando, como toda criança, começou a cantar no banheiro ?
R: Fui criada ouvindo tudo. Não lembro o que cantava no banheiro. Lembro das serenatas, dos saraus em minha casa…
Alguém de sua família percebeu sua vocação para cantora ou você descobriu isso por si mesma ?
R: Um primo meu, grande músico, um dia pediu pra eu cantar mais alto. Eu tinha 10 anos e virei a “mascote” nas serenatas da familia. E eu sempre adorava ficar por ali…era o momento dos adultos, e eu estava sempre por perto. Cantando, ficava mais fácil estar nas festas e saraus…
Você toca algum instrumento, além daquele que a gente já nasce sabendo tocar: o sino da Igreja ?
R: Não
Você se define como uma cantora romântica, de raiz ou eclética ?
R: Sou uma mulher brasileira que gosta de cantar..Canto o que gosto, me emociona.
Entre os diversos países que visitou artisticamente, qual você considera o mais identificado com o jeito brasileiro de se expressar musicalmente ?
R: O Brasil é único!
Você acha que os gêneros regionais do Brasil, como o Forro, o Axé, o Frevo, o Sertanejo, a Música Gaúcha, etc, tem algum traço de identidade em comum ?
R: O regionalismo , a marca de seu povo.
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Qual de suas músicas de grande sucesso mais marcou ao longo da carreira ?
R: Impossível responder… São muitas, graças a Deus.
Mesmo sendo uma artista consagrada, você ainda sente algum nervosismo ao pisar no palco ?
R: Claro que sim!
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Sendo uma cantora de sucesso desde os chamados anos dourados da MPB, acha que a nossa música caiu de padrão nas últimas décadas ?
R: Não saberia te responder.
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Você sofreu algum tipo de restrição para desenvolver sua arte no tempo do Regime Militar ?
R: Não.
Como cristã, você já cantou para três Papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco I. Como cidadã, tornou-se ícone da redemocratização, cantando o Hino Nacional em ritmo de canção, no ritual que envolveu a notícia da morte de Tancredo Neves. Qual dos fatos mais a emocionou, o religioso ou o político ?
R: São momentos distintos. Não podemos comparar
No início da carreira, você participou de programas de calouros ou concursos semelhantes ?
R: Não. Afinal, nem pensava em ser cantora.
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Página Oficial da Cantora Fafá de Belém :
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Site Oficial, clique aqui
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Seleção de Vídeos com Interpretações com Fafá de Belém
“Vermelho” (ao vivo):
“Nuvem de Lágrimas”:
“Abandonada por você” (Diálogo e Interpretação – Cidade do Porto – Portugal):
“Nossa Senhora”:
“Ave Maria” (Fátima – Portugal):
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Parabéns Lino! Muito boa a entrevista e a Fafá é maravilhosa! Net Rio fica pertinho de mim em Copa. Tomara consiga ir. Bjs