Nelson Valente

Por mais que se queira provar que a educação é um fenômeno contínuo, sem saltos, a história demonstra que, em nosso país, ela se faz de modo contrário ao que determina a lógica.

Um exemplo pode ser dado à música. Sou da fase do canto orfeônico, da obrigatoriedade de cantar o Hino Nacional antes de entrar na sala de aula, diariamente, com exceção apenas para quando a ocasião exigia o canto do Hino à Bandeira, do Hino à República ou do Hino à Independência.

Ninguém passava de ano sem saber a letra de todos os nossos hinos.

Guilherme de Almeida 1

 

 

Certamente, o fenômeno era consequência do trabalho desenvolvido pelo maestro Heitor Villa-Lobos à frente da Superintendência da Educação Musical e Artística do Rio de Janeiro (desde 1932), estimulando o canto de hinos e canções patrióticas, para unir de forma harmoniosa o erudito e o popular. Depois, fez-se o hiato.

O canto orfeônico foi retirado dos currículos, não era matéria importante (diziam alguns), e a conseqüência é sentida até hoje. Os hinos não são conhecidos, não são respeitados, em partidas internacionais nossos jogadores fingem que cantam, nas escolas quase não se fala nisso, o que é natural, pois os próprios professores não conhecem as letras, enfim, um desastre em matéria de civismo, de que tanto se fala e pouco se pratica.

Agora, louve-se a iniciativa do professor Arnaldo Niskier,ex-secretário da Educação do estado do Rio de Janeiro, que mandou distribuir nossos principais hinos por todas as 450 escolas do sistema educacional do Rio de Janeiro. É medida patriótica, de efeito a médio e a longo prazo, no espírito de professores e alunos.

Ele só fez uma exigência aos produtores da fita: “Incluam a Canção dos Expedicionários, pois a letra do Guilherme de Almeida é lindíssima e marca um momento de rara importância da cidadania brasileira: foi a participação e vitória na II Guerra Mundial”. Pedido atendido, Rio de Janeiro dá um passo à frente, em matéria de resgate de alguns dos nossos mais preciosos símbolos.

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