Espírito: Diversos
Livro – 007 / Ano – 1939 / Editora – LAKE

Pela pena mediúnica de Chico Xavier, falam neste belo volume as grandes vozes líricas do simbolismo e do parnasianismo do Brasil e Portugal, tais como Alphonsus de Guimarães, Antero de Quental, Augusto dos Anjos, Cruz e Souza e Olavo Bilac, entre outros poetas. Elevação poética e emoção.
Os espíritas de Belo Horizonte, dentro das grandes finalidades da doutrina que abraçaram, cogitam da edificação do “Abrigo Jesus”, que será um pouso tranquilo para a infância desamparada, nas ruas largas da cidade moderna de Aarão Reis.
Nos amargurados tempos que correm, nenhuma obra existe mais digna de cooperação que a da caridade ativa, irmã de todos os infortunados e de todos os tristes; e só ela no grande edifício da organização social conseguirá manter o equilíbrio e a paz, até que os homens, baseando-se no Evangelho, estejam habilitados a construir sobre o mundo o lar verdadeiramente cristão, entre os sentimentos mais elevados da vida, quando, então, a fraternidade humana florescerá por toda parte, em manifestações espontâneas, dispensando todas as organizações e todos os programas.

Pela pena mediúnica de Chico Xavier, falam neste belo volume as grandes vozes líricas do simbolismo e do parnasianismo do Brasil e Portugal
Aos espíritas sinceros que revivem nos corações e nos agrupamentos, as claridades suaves do cristianismo em sua simplicidade primitiva, punge o espetáculo angustioso das mãozinhas magras e miúdas que se desdobram pelas praças públicas, escrevendo a história da mais amargurada indigência. Em todas as cidades, vemo-los ativos, organizando postos de assistência, fundando escolas, edificando asilos de carinho e de amor, imolando-se pela coletividade. Na sua compreensão cristã do sofrimento, os seus corações de lutadores conseguiram apreender as grandes realidades da vida. Simples e humildes, conscientes da proteção da Providência Divina, não marcham para o campo das reivindicações de ordem política. Integrados no conhecimento da necessidade das provas salvadoras, não apregoam recursos extremos, nem rubras teorias revolucionárias. Multiplicam-se no terreno de sua obscuridade, trabalhando no silêncio e na sombra, longe das vaidades corruptoras do século. Suas possibilidades materiais são as do seu próprio trabalho construtivo que o Senhor converte em moedas de luz no câmbio do céu e, tomados de fé e de esperança, realizam sozinhos, sem os bafejos oficiais, as obras mais vastas de benemerência, ao mesmo tempo que educam os seus irmãos da humanidade, formando os perídromos da mentalidade cristã, com vistas ao porvir.
O “Abrigo Jesus” é uma organização dessa natureza. Seus fundadores são os milionários da esperança e da boa vontade. Seus esforços se erguem em súplicas ao Infinito, em preces que voltam do tesouro celeste, como dádivas de energia realizadora. Dentro das suas preocupações de beneficência, ouvem aquela voz suave da Galileia: – “Deixai vir a mim os pequeninos!” – e, ansiosos, multiplicam as suas forças na oficina da caridade cristã. Constroem com as suas abnegações e com as suas lágrimas, centralizando os seus interesses, em favor das mais largas afirmações da doutrina da verdade e da luz sobre a face da Terra.
É pensando nisso, leitor, que apresento a você este livro. Ele se constitui dos acordes da lira imortal de quantos atravessaram o Aqueronte da sepultura. Guarde as suas rimas no coração e não negue o seu auxílio aos órfãozinhos.
Quero crer que o verso, no Brasil, nunca interessou o mercado dos livros. Lembro-me de que, certa vez, a máquina aguardava a composição de minha crônica sobre a memória de Camões, mas nesse dia, a paixão do verso empolgava-me o coração de brasileiro. Recordando o esplendor e a mediria da maior figura da língua portuguesa, não resisti à inspiração do poema que saiu da minha alma, em rimas espontâneas, ao ritmo das lembranças profundas da subconsciência. Precisava, porém, escrever a crônica. Mas, sem tempo e sem oportunidade, enganei a máquina de escrever, tentando mistificar o próprio coração. Transformei os versos em prosa para não escandalizar os consumidores, e a crônica rimada aí ficou nos meus livros, sem que os editores procurassem desvalorizar a minha humilde produção.
Narrando o fato, não desejo ofender as grandes entidades que deixam nestas páginas o traço indiscutível de sua personalidade sobrevivente. Com isso, apenas apresento um subsídio ao estudo do gosto artístico da época.
É por essa razão que, apresentando a você o volume, quero lembrar-lhe a missão da caridade cristã nos dias que passam. Sei que o seu coração vibra na harmonia santificada de sua luminosa oficina e é considerando essa verdade que eu lhe peço guardar as melodias do mundo invisível, em troca de um pedaço de pão para os que não têm um teto.
Atenda ao meu pedido e quando descansar os seus olhos sobre o painel de sentimentos que estas páginas refletem, sentirá o seu espírito que a mão compassiva e misericordiosa de Jesus virá, de mansinho, numa onda de claridades e de perfumes, entornar o mel das suas bênçãos divinas sobre o mundo das mais sagradas esperanças do seu coração.

Humberto de Campos
(3 de fevereiro de 1938)
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