Pesquisa da Oxford Economics alerta que a indústria de tabaco deixa de criar 27 mil empregos ao ano por causa das marcas clandestinas, que já representam 57% do mercado no Brasil
O contrabando de cigarros, que detém 57% do mercado de tabaco no Brasil segundo dados do Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), fez com que a indústria legal deixasse de gerar 27 mil empregos diretos e indiretos no ano passado, segundo a consultoria Oxford Economics. Hoje, a indústria do tabaco gera 25,9 mil empregos no País, sendo 4 mil diretos, nas fábricas de tabaco que atuam no território brasileiro; 16,6 mil indiretos, nas cadeias de fornecimento que dão suporte às fábricas, como é o caso dos produtores de tabaco; e 5,3 mil induzidos. Esta última categoria compreende os benefícios econômicos em sentido amplo, que se dão quando os trabalhadores empregados por essas fábricas e também pelas empresas de suas cadeias de fornecimento gastam o que ganham, por exemplo, em lojas e estabelecimentos de lazer.
Segundo Marcos Casarin, economista da Oxford Economics, a inundação de cigarros contrabandeados no mercado brasileiro tem efeitos em cascata em toda a economia nacional e afeta sensivelmente a geração de empregos. “O impacto vai muito além do fechamento de fábricas no País e a redução dos postos de empregos diretos. A produção de cigarros requer a aquisição significativa de bens e serviços de terceiros, provenientes de todas as partes da economia. Estes terceiros, por sua vez, compram de outros fornecedores, que consomem de outros, sustentando atividades econômicas em todo o Brasil.”, afirma o pesquisador, autor do estudo “A economia do mercado ilegal de tabaco no Brasil”, que debateu o tema no seminário “Agro em Questão – As ameaças do comércio ilegal no agro”, na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), quarta-feira 4 de março, em Brasília. De acordo com Casarin, o principal prejudicado com essa perda de empregos é o agricultor. “Ele é o mais afetado pelo contrabando de cigarros.”
Campeão de ilegalidade
A mesma Oxford Economics coloca o Brasil no topo de um triste ranking. O País está em primeiro lugar no mundo no consumo de cigarros ilícitos e em dois anos deve se tornar também o líder mundial em penetração de cigarros ilegais, superando o atual primeiro colocado, a Malásia, que atualmente tem 59% de comercialização de contrabando no mercado – o Brasil tem 57%. “Nota-se que desde 2011, quando houve o aumento da tributação, o consumo total não caiu, o que caiu foi a adesão às marcas legais e o volume maior de ilegais chegando ao mercado”, diz Casarin.
O aumento da tributação refletiu também na queda da arrecadação fiscal. De acordo com o estudo, a sonegação de impostos causada pelo mercado ilegal de tabaco fez o país perder R? 62,4 bilhões em receitas fiscais na década a partir de 2009.
Esse ranking expressivo é confirmado pelo Ibope, que indica que, dos 57% de cigarros ilegais consumidos no Brasil em 2019 , 49% foram contrabandeados (principalmente do Paraguai) e 8% produzidos por fabricantes nacionais que operam de forma irregular, oferecendo seus produtos abaixo do preço mínimo estabelecido por lei, de R? 5. O aumento do mercado ilegal de cigarros no País foi de três pontos percentuais a mais em relação ao levantamento Ibope de 2018. E as projeções revelam que, em 2020, 60% dos cigarros consumidos por aqui serão clandestinos.
Fiéis ao contrabando
A enxurrada de produtos do crime no mercado também mudou o comportamento do consumidor. O número de clientes fiéis aos cigarros contrabandeados aumentou, segundo a pesquisa da Kantar disponibilizada para a Oxford Economics. O estudo constatou que o índice de fumantes que se declaravam leais ao contrabandeado “Gift” aumentou de 2% em 2015 para 7,7% em 2019. Já a “Eight”, também ilegal, aumentou de 11,8% para 16,2% no mesmo período. “Eight” e “Gift” são duas das três marcas mais consumidas no País. Ilegais, representam mais de um quarto do mercado total.
Segundo o economista Marcos Casarin, a fidelização dos consumidores ao cigarro ilegal, que saiu das sombras da marginalidade para ocupar o centro do consumo no País, impacta toda a sociedade. Há menos recursos advindos da arrecadação fiscal, uma diminuição substancial da oferta de empregos e o crescimento exponencial do crime organizado, que se alimenta do cigarro ilegal para suas transações ilícitas.
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