*André Ferretti e Juliana Ribeiro
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No dia 2 de agosto o Rio de Janeiro sediará a edição brasileira do Diálogo Talanoa, iniciativa global ligada à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que busca discutir alternativas e pensar ações efetivas para a redução das emissões de gases de efeito estufa e combate à intensificação do aquecimento global por consequências antrópicas. A UNFCCC estimula a realização desses diálogos antes da 24ª Conferência das Partes (COP 24), que será realizada na cidade de Katowice, na Polônia, em dezembro. O principal objetivo é incentivar países e sociedade a incrementar esforços para que os objetivos do Acordo de Paris sejam atingidos.
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Iniciativas como essa são importantes para relembrar o que temos feito para enfrentar a mudança global do clima. Mas, será que nossos esforços estão sendo suficientes? Pelo Acordo de Paris, ratificado por 179 países para conter as emissões de gases de efeito estufa e garantir o desenvolvimento sustentável, o governo brasileiro colocou como sua meta de contribuição a redução de 37% das emissões até 2025. Além disso, indicou uma contribuição indicativa subsequente de redução de 43% em 2030. No entanto, é importante relembrar que o País usou como referência 2005, ano em que foi registrado o recorde de emissões do País e de desmatamento na região Amazônica. Na época, a destruição da área chegava a 30 mil quilômetros quadrados por ano. Hoje, o desmatamento no local fica em torno de 7 mil quilômetros quadrados/ano. Números esses que praticamente garantiram a meta de redução de emissão de gases, quando a mesma foi estabelecida.
Apesar do avanço da entrada em vigor do Acordo de Paris, estamos longe de ter somente motivos para comemorar. O Observatório do Clima – rede que reúne mais de 40 instituições brasileiras atuantes na agenda climática – propõe um teto para emissão de gases de efeito estufa no Brasil. O valor máximo seria de 1 giga tonelada/ano em 2030. Em 2016, foi emitido 1.58 giga tonelada/ano (GtCO2e/ano). A distância da meta reflete que ainda é preciso somar muitos esforços. Além disso, o Brasil é o País que mais desmata florestas tropicais no mundo. Fator que, juntamente com as mudanças de uso do solo, é responsável por metade das emissões nacionais. É preciso enfrentar esse dilema e aproveitar melhor as áreas que já são utilizadas para a produção. Mais de cem milhões de hectares desmatados para a agropecuária estão abandonados no País e o investimento em tecnologias garantiria um melhor aproveitamento dessas áreas, possibilitando um aumento significativo da produção sem a necessidade de novos desmatamentos.
Apesar de praticamente cumprir as metas propostas no Acordo de Paris, o Brasil ainda carece de políticas claras de redução de emissão com a diminuição do desmatamento, fortalecimento de tecnologias e iniciativas que promovam o uso de energias limpas e reduzam o consumo de combustíveis fósseis. Não podemos esquecer também da importância de conservar as áreas naturais que ainda resistem à expansão urbana e da agropecuária. As Soluções baseadas na Natureza são a chave na busca pela melhoria da qualidade de vida. Quanto mais equilibrado estiver o ecossistema, menos impacto a sociedade vai sentir em relação às mudanças climáticas.
É preciso pensar em soluções agora. As alterações climáticas não são consequências que deixaremos apenas para as futuras gerações. Em várias regiões, vemos problemas gerados por chuvas excessivas ou secas extremas. Em relação à biodiversidade, há o risco de que várias espécies sofram os impactos das alterações do clima. Assim como nós, que já sofremos com tantos eventos climáticos extremos como as fortes chuvas que assolaram a região serrana do Rio de janeiro, em 2011, ou a estiagem que secou torneiras no estado de São Paulo, em 2015. Pensar em ações de adaptação para enfrentar as mudanças que já ocorrem são essenciais, assim como políticas eficientes capazes de frear o aquecimento global. E a resposta para conseguir esse salto está na própria natureza. O uso de Soluções baseadas na Natureza para aumento da capacidade adaptativa de regiões vulneráveis pode também ser parte das ações de mitigação, uma vez que florestas absorvem carbono durante seu desenvolvimento, contribuindo para o atingimento das metas do Acordo de Paris de forma estratégica.
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*André Ferretti é gerente na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.
*Juliana Ribeiro é bióloga especialista em Mudanças Climáticas e analista de projetos ambientais na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
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