(*) Por: Nelson Valente
Respeitar a nossa língua é uma forma de fazer educação.
Um livro didático de português adotado pelo Ministério da Educação e Cultura este ano para atender à mais de 4 mil escolas públicas do País está causando polêmica. A obra: “Por uma Vida Melhor”, da Coleção
Viver e Aprender, da editora Global dispensa a conjugação de verbos , contendo frases como: ” nós pega o peixe”.
O exemplar está sendo utilizado por alunos Ensino Fundamental ( cujo objetivo: ler, escrever e contar) , do sexto ao nono ano; e pela Educação de Jovens e Adultos em escolas públicas fluminenses.
Os autores do material defendem o uso da norma popular da Língua Portuguesa no lugar da norma culta.
O MEC informou, através de nota, que o livro atende à Matriz de Competências do Exame Nacional de Certificação de Jovens e Adultos, reconhecendo e valorizando a linguagem dos diversos grupos sociais e
variedades da língua portuguesa. O objetivo seria o de combater o preconceito linguístico.
Desconhecer as línguas sempre produz a intolerância. Conhecê-las, porém, não é garantia de tolerância.
O assunto é recorrente e retorna, quando estamos às voltas com a revolução da educação, discutindo sua gênese e os seus objetivos. Na educação superior, uma das provas mais importantes e decisivas do
exame vestibular é a redação, primeira manifestação dos educadores no sentido de acabar com a prevalência das provas totalmente baseadas na múltipla escolha ( as famigeradas cruzinhas).
A conclusão é óbvia: sem leitura, como escrever adequadamente? O primeiro passo é mesmo a entrega de voluptuosa aos livros, sobretudo os nossos clássicos, sem esquecer os jornais e revistas também podem
ser fundamentais.
Criar o hábito ( ou gosto) pela leitura é um primeiro passo que depende basicamente de pais e professores. Há uma idade para isso, que infelizmente para os calouros não coincide com os seus 17 ou 18 anos.
Começa antes, na altura ainda do ensino fundamental. Depois, é só alimentar a cabeça de bons produtos, a fim de que persista o interesse.
Em primeiro lugar, pode-se registrar o fato, facilmente comprovável, de que nunca se escreveu e falou tão mal o idioma de Ruy Barbosa . Culpa, quem sabe, da deterioração do nosso sistema de educação básica.
Em segundo, o pouco apreço que devotamos ao gosto pela leitura.
Em terceiro lugar, para não ir muito longe, podemos citar a “contribuição” dos meios televisivos. Donos de uma força descomunal, salvo as exceções de praxe, como os programas gerados pela TV Cultura de São Paulo, praticam um magistral desserviço à educação brasileira. Comunicadores falam mal, atores não se expressam adequadamente, dublagens são feitas de forma chula, programas infantis deseducam – o que se pode esperar desse triste universo?
Certos erros de linguagem que aparecem na mídia impressa, falada, audiovisual, livros didáticos e mesmo na letra de músicas são rápida e inconscientemente assimilados e usados pelo público, que chega mesmo a
considerá-los modelos. Frequentemente ouve-se: “a TV diz assim”, “o locutor fala deste modo” , “a letra da música é assim” , “o jornal publicou” , “vi no cartaz, no outdoor”, etc.
Infelizmente, esta é a realidade em que vivemos, tratando-se da relação público e linguagem dos meios de comunicação de massa.
Diante desta real e preocupante situação, urge fazermos tudo o que está a nosso alcance para preservar a pureza desta língua tão bela e tão sonora, falada há quase um milênio, merecedora, portanto, de ser resguardada das distorções grosseiras a que é submetida,freqentemente, na mídia.
Vejamos alguns exemplos de incorreções colhidas aleatoriamente nos meios de comunicação e que poderiam ser facilmente sanadas:
– “Faz o que eu digo, mas não faça o que eu faço.” (Faze o que eu digo…)
– “Obedeça seu velho. Gaste bem sua mesada.” (Obedeça a seu…)
– “Diga-me com quem andas e eu te direi quem és.” (Dize-me com quem…)
– “Fi-lo por que quilo.” (Fi-lo porque quis)
– “A nível de administração.” (Em nível de ..) (Jorge S.Martins)
Segundo o acadêmico, Arnaldo Niskier: “É preciso, porém, ainda mais agora com a decadência do ensino e a enormidade de erros veiculados pelos meios de comunicação, distinguir o que pode ser (ou vir a ser) que agride o vernáculo, transfigurando-o, impregnando-o de palavras e expressões alienígenas, absolutamente dispensáveis, tolos modismos e até mesmo erros crassos”.
Os cartazes, os anúncios, a imprensa, a letra de música populares refletem o desenvolvimento cultural da sociedade da qual todos fazemos parte. Cabe-nos denunciar os maus uso da língua nessas formas de
comunicação, para que seus erros não venham a ser motivo de vergonha para nós.
Entre as incorreções que destoam no uso da língua, são freqentes pequenos descuidos, até perdoáveis, mas há casos de barbarismo contra a pureza da língua nos aspectos sintáticos, regenciais, ortográficos, sem falarmos de troca tão comum de tratamento, como também de organização ilógica de ideias, o que acarreta, freqentemente, ambigidades e interpretações errôneas de pensamento.
A língua é uma força biológica: não se pode modificá-la com uma decisão política. Pode-se, quando muito, influenciar o uso. É uma função dos jornalistas, escritores e da mídia. Um bom uso mostra-se pela flexibilidade com que as palavras são aceitas. Todas as línguas estão repletas de palavras estrangeiras que foram naturalizadas.
Hoje em dia, as pessoas falam sua língua nativa mais corretamente, leem mais jornais, mais livros. Isso não significa que a humanidade esteja melhorando e tampouco quer dizer que há menos banalidades, esterótipos e bobagens.
Os editores, os donos de televisão, jornais e os críticos literários não entenderam que houve uma revolução espiritual, que o nível geral subiu.
Os franceses fazem de conta que brigam com o inglês, mas têm medo mesmo é do alemão. Desde a queda de Berlim, a Europa do Leste transformou-se num bolsão de poliglotismo alemão e há muita probabilidade de que o alemão se imponha na Europa!
Nunca, no mundo, alguém conseguiu impor a língua estrangeira dominante. Os romanos foram mestres do mundo, mas seus eruditos conversavam em grego entre si. O latim se tornou a língua européia quando o império romano desmoronou. No tempo de Montaigne, o italiano era o vetor da cultura. Depois, durante três séculos, o francês foi a língua da diplomacia. Por que o inglês, hoje? Porque os Estados Unidos ganharam a guerra e porque é mais fácil falar mal o inglês do que falar mal o francês ou o alemão. O que não impede que os franceses falem de uma “colonização” de sua língua pelo inglês.
Contudo, neste momento em que os países lusófonos se unem no fortalecimento da Comunidade Linguística da Língua Portuguesa: em que se luta para que o português seja reconhecido também como língua oficial da ONU: em que o português vai alcançando o 4º lugar entre as línguas mais falada no planeta. Não podemos deixar que ela se desfigure e se deturpe de maneira tão galopante, como está acontecendo nos meios de comunicação e nos livros “didáticos”.
Em geral, o erro lingUístico depõe contra quem o cometeu. Vamos preservar a “Língua nossa de cada dia”.
É,quando os erros são cometidos por pessoas comuns é fato que se pode desculpar, mas não se pode deixar de apontá-los. Já os erros cometidos por agências de publicidade e imprensa são inescusáveis.
Os jornais, por exemplo, publicam com grande frequência palavras grafadas de forma totalmente equivocadas, e em muitos casos os erros são crassos, para não dizer ridículos.
É lamentável que não há nenhum órgão que puna a imprensa por cometer erros linguísticos, nem que obrigue esses veículos de comunicação a terem profissionais capacitados para evitar a, digamos, deseducação dos leitores.
As rádios da cidade, também, não ficam de fora. São bastante comuns nas propagandas e nas falas dos radialistas os erros de pronúncia.
Valeu !
Rose*