Lino Tavares
Minha vó sempre dizia que atrás de um “guri sem vergonha” existe sempre um pai relaxado que não soube ou não quis educá-lo. Vive-se hoje no Brasil a era do eleitorado (em sua maioria) relaxado, que reelege “políticos sem vergonha e ladrões”, que reunidos em conluio num bloco político chamado “base aliada”, uma autêntica quadrilha, pintam e bordam nos altos escalões do poder, transformando o povo brasileiro em um enorme contingente humano de verdadeiros “bobos da Corte”, pagando os mais elevados impostos do mundo em troca dos piores serviços públicos do Planeta.
Como diz José Nêumanne Pinto – uma das vítimas da “censura democrática” pela mania de colocar o dedo na ferida dos poderosos – vamos “direto ao assunto”. Começo com uma pergunta simples e direta relacionada com o futebol. Você, que é torcedor colorado, aceitaria calado que o ex-presidente do Grêmio, Paulo Odone, assumisse a direção do Quadro de Árbitros da Federação Gaúcha de Futebol, ou, sendo gremista, que o ex-presidente do Inter, Fernando Carvalho, passasse a ocupar esse cargo ? Evidentemente que não. Pois é, caro leitor, mas vamos ter que aceitar “na marra” que o advogado José Antônio Dias Toffoli, atual ministro do STF, assuma a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, sob cuja fiscalização, logicamente, estarão as eleições deste ano, inclusive a de presidente da República.
Dias Toffoli, como a maioria sabe, é aquele ex-advogado do PT, que, depois de haver rodado duas vezes no concurso para juiz de comarca, “acertou na Mega Sena”, sendo nomeado por Lula para juiz da Suprema Corte, ,caindo de paraquedas no topo de uma montanha que já tinha tentado escalar a partir da base sem, contudo, lograr êxito. Vejam o que temos pela frente, depois da Copa deste ano no Brasil. Uma eleição em que a facção Petralha tentará a reeleição de Dilma Rousseff, para que possa dar continuidade a essa trama macabra que tem no Foro de São Paulo o “QG do golpe esquerdista, que vem sendo engendrado, visando à implantação, na América do Sul, de um regime totalitário, nos moldes dos que existem em Cuba, na China e na Coreia do Norte. Raciocine comigo. Se a urna eletrônica, que não registra os votos sufragados de forma impressa, tem sido alvo de suspeitas por sua vulnerabilidade a possíveis fraudes eleitorais, imagine o que ela pode representar numa eleição em que o “fiscal mor do pleito eleitoral” é nada menos do que um ex-militante e fiel servidor jurídico do partido de quem está no poder, marcado aliás pelos mais escabrosos escândalos de corrupção de nossa história republicana !
É claro que quem consegue racionar com um mínimo de coerência tem todo o direito de suspeitar, com sobradas razões, da lisura das próximas eleições que vêm aí. Gente do povo tem se manifestado nesse sentido nas redes sociais, como o advogado Delmar Antônio Marques de Souza, da Região Metropolitana de Porto Alegre, que me dirigiu a seguinte mensagem, autorizando-me a divulgá-la na mídia em que atuo profissionalmente.
A Mensagem
Editorial do Estadão de domingo, 13/4/2014
Quando uma autoridade de primeiro escalão considera uma indecência ser perguntado por um jornalista sobre um assunto que o incomoda; quando acusa o profissional de atitude preconceituosa e desrespeitosa porque faz perguntas cujas respostas interessam à opinião pública, mas não a ele; quando, depois de responder de bom grado a todas as perguntas que lhe interessavam, proclama que o representante de um órgão da imprensa não tem legitimidade para questioná-lo – uma evidência se impõe: a autoridade está completamente despreparada para o cumprimento de seu ofício.
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O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), condição em que estará no comando da fiscalização e do julgamento dos litígios legais do pleito de outubro. Natural, portanto, que os cidadãos estejam interessados em saber o que ele pensa sobre o papel da Justiça Eleitoral num momento certamente decisivo para o País, quando estarão em jogo os mais importantes mandatos executivos e legislativos, inclusive a Presidência da República. Com a intenção de prestar esse serviço jornalístico, o repórter Roldão Arruda entrevistou Dias Toffoli.
O resultado foi totalmente frustrante em termos de conteúdo, diante das platitudes proclamadas, mas ao final o caçula da Suprema Corte confirmou que se filia a uma conhecida corrente do pensamento – digamos assim – político que tem ojeriza pelo dissenso e, quando se sente confrontado, apela para o revide agressivo.
O ministro Toffoli já deveria saber, a esta altura da vida, que numa sociedade democrática a imprensa verdadeiramente livre, descompromissada com os interesses dos donos do poder ou de quem quer que seja, tem não apenas o direito, mas o dever de fazer perguntas que eventualmente os poderosos se sintam embaraçados para responder.
Esse direito e esse dever é que conferem à imprensa livre, a este jornal, a seus repórteres, plena legitimidade para fazer perguntas que o ministro tem medo de responder.
O final do diálogo entre o repórter e o ministro é estarrecedor.
Repórter: “Ministro, o senhor já foi advogado do PT e agora vai presidir o TSE. Há alguma incompatibilidade?”. Toffoli: “Você tem que perguntar isso para o Aécio Neves, o Eduardo Campos e a Marina Silva. Não para mim”. Repórter: “Por quê?”. Toffoli: “Ora, o que está no substrato de sua pergunta é uma indecência. É preconceituosa e desrespeitosa. Você não tem legitimidade para me impugnar, nem a mídia. Vá fazer a pergunta para o Aécio, o Eduardo e a Marina, porque eles têm”.
É difícil entender o que Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva têm a ver com o fato de Toffoli ter sido advogado do PT, estar na iminência de assumir a presidência do TSE e a possibilidade de isso resultar em conflito de interesses.
Mas a evocação dos líderes políticos que no momento são os principais adversários do PT certamente pode dizer muito sobre os reflexos condicionados do ministro.
De qualquer modo, pelo menos quando se trata de fugir de incompatibilidades, Toffoli traz consigo alguma experiência, como a que viveu na fase de prejulgamento do mensalão. Incessantemente acossado por jornalistas indecentes, preconceituosos e desrespeitosos que queriam a todo custo saber se ele, por suas notórias ligações com o PT, não se sentia eticamente impedido de participar do julgamento, simplesmente deu as costas a todos e foi fazer o que sua convicção mandava.
Por uma questão de justiça, porém, não se pode deixar de levar em consideração que o ministro Toffoli tenha lá suas razões para se sentir inseguro – e melindrado – com a curiosidade malsã dos jornalistas. Afinal, o dele é um caso raro, de pessoa que foi nomeada para compor a mais alta Corte de Justiça do País depois de ter sido reprovado em concurso para ingresso na Magistratura de primeira instância. Ou seja, deve seu sucesso às notórias amizades.