Lino Tavares
Nelson Motta, jornalista, autor, compositor e extraordinário crítico de música – talvez o maior do país – tem uma visão muito simples e objetiva acerca dos fatos do cotidiano. Sempre foi assim desde os anos “dourados” para os cidadãos de bem e “de chumbo” para os traidores pátrios a serviço de Moscou, quando, nos júris de televisão, era considerado o fiel da balança, aquele jurado moderador que atenuava, com palavras doces, a impaciência dos colegas que exigiam dos jovens calouros performance de cantor consagrado, já na primeira apresentação. Atualmente, resgatando a história da música brasileira e internacional, através de comentários lúcidos no Jornal da Globo, Nelsinho Motta mostra as gerações de hoje, que não vivenciaram aquela explosão de sucesso que o tempo levou, que as décadas de 1960 e 1970, época da Bossa Nova, da Jovem Guarda, do Tropicalismo e de outros movimentos musicais, eram realmente “tempos felizes”, como canta Roberto Carlos, na sua música “Jovens tardes de domingo”. Mas Nelsinho também revela sua “ótica afiada” na atualidade política de medos e descréditos em que vivemos hoje, como pode ser constatado nesse comentário procedente acerca da “bendita denúncia do esquema mensalão”, que torna o ex-deputado Roberto Jefferson, no mínimo, merecedor de nossa gratidão, já que, graças à sua “santa delação”, livramo-nos das garras de um tirano até então a caminho do poder, configurado na pessoa do abominável “ex-tudo o que não presta” José Dirceu”.
A Jefferson também devemos a criação do termo “mensalão”. Ele sabia que os pagamentos não eram mensais, mas a periodicidade era irrelevante. O importante era o dinheirão. Foi o seu instinto marqueteiro que o levou a cunhar o histórico apelido que popularizou a Ação Penal 470 e gerou a aviltante condição de “mensaleiro”, que perseguirá para sempre até os eventuais absolvidos. O que poderia expressar melhor a ideia de uma conspiração para controlar o Estado com uma base parlamentar comprada com dinheiro público e sujo? Nem Nizan Guanaes, Duda Mendonça e Washington Olivetto juntos criariam uma marca mais forte e eficiente. Mas antes de qualquer motivação política, a explosão do maior escândalo do Brasil moderno é fruto de um confronto pessoal, movido pelos instintos mais primitivos, entre Jefferson e Dirceu.
Como Nina e Carminha da política, é a história de uma vingança suicida, uma metáfora da luta do mal contra o mal, num choque de titãs em que se confundem o épico e o patético, o trágico e o cômico, a coragem e a vilania. Feitos um para o outro.
O “chefe” sempre foi José Dirceu. Combativo, inteligente, universitário – não sei se completou o curso – fala vários idiomas, treinado em Cuba e na Antiga União Soviética, entre outras coisas. E com uma fé cega em implantar a Ditadura do Proletariado a “La Cuba”.
Para isso usou e abusou de várias pessoas e, a mais importante – pelos resultados alcançados – era Lula. Ignorante, iletrado, desonesto, sem ideais, mas um grande manipulador de pessoas, era o joguete ideal para o inspirado José Dirceu.
Lula não tinha caráter nem ética, e até contava, entre risos, que sua família só comia carne quando seu irmão “roubava” mortadela no mercado onde trabalhava. Ou seja, o padrão ético era frágil . E ele, o Dirceu, fizera tudo direitinho, estava na hora de colher os frutos e implantar seu sonho no país. Aí surgiu Roberto Jefferson… e deu no que deu.