Nelson Valente
Outro dia, em conversa com o acadêmico Arnaldo Niskier, um dos maiores exemplos de fertilidade literária, falou-se sobre a inspiração de escritores que tiveram a infelicidade de sofrer de tuberculose. É impressionante a relação dos quais padeceram desse mal, a começar por Castro Alves, que morreu antes mesmo de completar 25 anos de idade.
A primeira referência à tuberculose, no continente americano, está nas cartas dos jesuítas, que a reconheciam em si mesmos, como fizeram os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, que para aqui vieram desde 1549.
A tuberculose apareceu em nosso folclore e na nossa literatura – e de tal modo que Tristão de Ataíde, ao analisar a Revolução de 64, escreveu que “os brasileiros se ponham de acordo com o tratamento da nossa atual tuberculose política, pois a terapêutica assenta no emprego de uma penicilina de liberdade e de confiança”.
Durante o romantismo literário, a tuberculose chegou a fazer-se querida, desejada por homens que nela viam a libertação de um mundo que não os satisfazia.
A enfermidade tornou-se até elegante, pois dela morriam os poetas e suas amadas. Esse é o lado lírico de uma doença que, lamentavelmente, agora volta ao cenário das discussões públicas.
Os motivos são os mesmos: condições insatisfatórias de higiene, saneamento e uma ausência quase completa de medidas preventivas. Fala-se novamente em desasseio, como se fôssemos voltar aos tempos de Rodrigues Alves, Pereira Passos e Oswaldo Cruz.
O fenômeno é cíclico, mas indesculpável. Fala-se hoje em tuberculose, abstraindo a carga poética, é um verdadeiro absurdo, que pode envergonhar a nossa geração. Ainda há tempo para reagir, com ações preventivas que não devem tardar. O Dia Mundial da Tuberculose é comemorado no dia 24 de março, a data em que, em 1882, Dr. Robert Koch descobriu que a infecção bacteriana se espalhava pelo ar.
O Brasil é o 16º país com maior incidência de tuberculose no mundo, porém, ao contrário do que muitas vezes é divulgado, esta incidência tem caído substancialmente nos últimos anos. Em 1999 a incidência era de 51 casos para cada 100.000 habitante. Em 2007 já havia caído para 38 por 100.000. Rio de Janeiro e Amazonas são os estados com o maior número de casos (incríveis 73 por 100.000). Portugal é um dos países da Europa com maior taxa, aproximadamente 32 casos por 100.000. Só como comparação, a Alemanha tem 6 casos por 100.000 habitantes.
Caro Prof. Nelson, sinto-me na obrigação de complementar sua abordagem e alertar seus leitores e seguidores que a tuberculose (doença) é uma grave enfermidade que afeta não apenas os pulmões, como é de domínio público, mas também outros orgãos e que uma das grandes dificuldades no tratamento reside na falta de continuidade e constância do paciente uma vez que o tratamento é longo (mais que seis meses) e a medicação deve ser obrigatoriamente administrada, por boca, diariamente e sem interrupções.
Apenas mais um detalhe: a tuberculose(doença) tem tratamento viável e cura, já as outras patologias (morais e sociais) requerem décadas de tratamento e sua cura é, infelizmente, pouco provável.
Era também conhecida como "Mal do Século",toda uma visão de mundo centrada no indivíduo.
Era o período que mais gostava de estudar na Faculdade, achava lindo eles morrerem de mal de amor, acho porque sou romantica.