Nelson Valente
O candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, rebateu as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o comparou aos também ex-presidentes Fernando Collor e Jânio Quadros.
Os pronomes não aguardam a ética para que se coloquem nos seus lugares. Estão sempre neles. A boemia dos verbos é que mutilam a boa ordem das frases. Há que lhes perdoar. Não se desgrudam da ideia de movimento.
Depois das denúncias de corrupção/mensalão é um erro levantar a bandeira da ética e da moralidade, tudo isso faz crer que a ética está em pane, promovendo a prevalência da tristemente famosa “Lei de Gerson” (a vida é dos espertos).
Senhor Luiz Inácio,
o candidato, Adhemar de Barros, sempre marcava seus comícios numa cidade antes de Jânio Quadros. Certa feita, os dois grupos se encontraram em Mogi-Guaçú – SP.
Os janistas da cidade foram ver o comício de Adhemar:
“- Entre as várias obras que fiz em São Paulo está o Pinel, hospital de loucos. Infelizmente, não foi possível internar todos. Um desses loucos havia escapado e fará comício nesta mesma praça amanhã”.
Para delírio do povo (ademarista) a gargalhada era geral.
No dia seguinte, Jânio Quadros é recepcionado na cidade e dirigindo ao palanque que estava instalado no centro da Praça. Após alguns segundos de silêncio e com calma faz um relato do velho mundo, conta algumas histórias sobre o período republicano e dá o troco:
“- Quando fui governador de São Paulo, construí várias penitenciárias, mas não foi possível trancafiar todos os ladrões. Um escapou e fez um comício aqui mesmo nesta praça ontem”.
A gargalhada ultrapassou as cidades circunvizinhas da nossa querida hinterlândia.
Senhor Luiz Inácio,
saindo do PDC, Jânio apoiou-se nas legendas do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e mais o Partido Trabalhista Nacional (PTN). Este passou a ser o bloco chamado “janista”.
Nas eleições de 3 de outubro de 1954, houve quatro candidatos ao governo do Estado: Jânio Quadros, pelo PSB e PTN; Prestes Maia apoiado pelo governador Garcez; Adhemar de Barros; Wladimir Piza.
Jânio Quadros mandou fazer 2 milhões de vassourinhas, o símbolo de sua campanha. Os cartazes de sua propaganda tinham uma grande vassoura fazendo correr os ratos (políticos) assustados. No interior aparecia a frase: “Jânio vem aí!”.
A campanha se desenvolveu nos moldes da que o levou à Prefeitura de São Paulo. Ninguém acreditava na vitória de Jânio, porque todos sabiam que no interior do Estado havia a influência de delegados, escrivães, coronéis, que eram ligados ao governador Garcez, o qual apoiava Prestes Maia.
Todos sabiam que só ganhava no interior quem tinha a máquina montada, a famosa máquina eleitoral. Outra força na época estava com Adhemar de Barros, que já fora ex-interventor no Estado e ex-governador do Estado. Seu partido era organizado tanto no interior como na capital: Partido Social Progressista.
Jânio não tinha partido forte, não tinha amigos em todos os cantos do Estado. Como pretendia, então, ganhar as eleições?
Todos os prognósticos falharam e Jânio passou por todas as cidades do interior de São Paulo em comícios espetaculares. Ele repetia a frase maliciosa dos seus adversários nos comícios nas praças:
“– Dizem que quero ganhar essa eleição com a palavra, com a conversa. E como queriam que eu ganhasse as eleições? Com palmadinhas nas costas? Com churrascos? Com chopadas? Com dinheiro gasto em propaganda paga, cuja origem ninguém confessa?”
Jânio atacava o governador Garcez e, consequentemente, seu candidato Prestes Maia, dizendo que este pretendia ser o “continuador de obras inexistentes, com finanças públicas à beira do descalabro”.
Já sobre Adhemar de Barros, como respondeu a processo-crime de automóveis adquiridos ilicitamente, embora o Supremo Tribunal tivesse declarado ser ele inocente, Jânio dizia: “– Aprendi, no berço, com minha mãe, que não há homem meio honesto e meio desonesto. Ou são inteiramente honestos ou não o são.”
Alguns setores começaram a espalhar mentiras a respeito dos bens de Jânio. Este deu à publicidade a sua “declaração de bens”.
No auge da campanha, aconteceram três episódios marcantes: atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, morte do major Rubens Vaz, renúncia à própria vida de Getúlio Vargas. Estes impactos foram de grandes proporções e atingiram os candidatos.
As eleições de 3 de outubro de 1954 revelaram os seguintes resultados:
Jânio Quadros 660.264 votos
Adhemar de Barros 641.960 votos
Prestes Maia 492.518 votos
Wladimir Piza 79.783 votos
Jânio derrotou Adhemar de Barros, por 18.304 votos. Jânio ficara no Palácio dos Campos Elíseos até 31 de janeiro de 1959.
Senhor Luiz Inácio,
Em 1989, não comparece à entrega do cargo à prefeita petista Luiza Erundina. E sobre Fernando Collor, Jânio Quadros, disse:
“- Não tenho nada haver com este rapaz”.
Nelson Valente é jornalista, professor universitário e escritor. Pesquisador nas áreas de psicanálise, comunicação, educação e semiótica. É mestre em Comunicação e Mercado e doutor em Comunicação e Artes. O autor também é especialista em Legislação Educacional, Psicanálise,Teoria da Comunicação e Tecnologia Educacional e já publicou 16 (dezesseis) livros sobre o ex-presidente Jânio Quadros e outros sobre educação, parapsicologia, psicanálise e semiótica, no total de 68 (sessenta e oito) livros e alguns no prelo. Ex-presidente da Academia Blumenauense de Letras/ALB, Acadêmico. Membro da Sociedade dos Escritores de Blumenau/SEB
Embora tenhamos avançado na busca pela ética e consequentes punições (a saber ainda) se tem a visão que muito se escondeu e esconderá nesse campo.
Maria Marçal – Porto Alegre – RS