Para que e para quem ? 3

(*) Por: Lino Tavares

Quando olho o cálculo final da minha declaração do Imposto de Renda e vejo que  existe “imposto a recolher”,  mesmo tendo  sofrido, na minha folha salarial,  o desconto mensal de cerca de um quarto do meu salário, fico possuído de uma indignação tal, que me dá vontade de sair rua afora, gritando para que todos ouçam que acabo de ser assaltado pela Receita Federal  do meu país.
Mas isso não acontece pelo simples fato de ter que arcar com a pesada carga tributária, pois isso poderia até ser motivo de satisfação, caso existisse a contrapartida desse ônus, em forma de obras públicas e assistenciais compatíveis com a enorme receita tributária arrecadada pelo estado, cujo tesouro nacional virou “caixa única”, destinada a bancar os gastos, não raro injustificados, com a “companheirada” do poder e com seus  colaboradores políticos da iniciativa privada.
Em nome desse clientelismo – um vício próprio dos que se elegem devendo favores – estamos assistindo hoje a algo que se poderia  chamar de “leilão do dinheiro do povo”, tendo no martelo aqueles que detêm as chaves dos cofre públicos, oferecendo  “de mão beijada”  os recursos do erário a quem, dotado de poder de barganha, se dispuser a hipotecar ampla, total e irrestrita solidariedade aos que, encastelados no poder, pintam e bordam no exercício da coisa pública, como se estivessem administrando um cassino clandestino.
Por conta desse caos administrativo pleno de mazelas  indescritíveis ,  temos que assistir de braços cruzados, fingindo-nos de tolos, por não ter a quem apelar, a fatos estarrecedores, como a comentada participação do BNDS, injetando dinheiro público na anunciada fusão do Grupo Pão de Açúcar com o Carrefour,  prenúncio do surgimento de mais um “monstro avassalador” do mundo empresarial, bem como a liberação de recursos públicos por parte da prefeitura de São Paulo, para a construção do estádio do Corinthians, como se o clube pelo qual torce o ex-presidente Lula fosse um “filho único” da Federação Paulista de Futebol, com direito a usufruir sozinho dos recursos gerados pelos impostos pagos por palmeirenses, são-paulinos  e torcedores dos demais clubes de São Paulo.

Diante dessa farra representada pela gastança governamental desenfreada , que vai desde a “compra de parlamentares no congresso”, da era mensalão,  até a injeção de dinheiro público nas entidades privadas dispostas a barganhar, política e/ou financeiramente, a perpetuação no poder dos que aí estão, paira na mente de cada contribuinte deste país uma pergunta que não quer calar: “afinal, eu pago imposto para que e para quem ?”


(*) Lino Tavares é jornalista diplomado, colunista na mídia gaúcha e catarinense, integrante da equipe de comentaristas do Portal Terceiro Tempo da Rede Bandeirantes de Televisão, além de poeta e compositor.

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