Presidenta Dilma: de Jânio e de Louco Todos Nós Temos um Pouco! 1

Nelson Valente

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Ao falso, prefiro o genuíno, ainda que áspero. Ao polido, o exato. Ao fosco, a crua luz do Sol (Jânio da Silva Quadros).

– “A presidenta Dilma Rousseff enviou um bilhete escrito à mão para as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente). A carta foi escrita, durante uma cerimônia no Palácio do Planalto, para cobrar explicações sobre o acordo firmado pela comissão especial mista que analisa o Código Florestal. “Por que os jornais estão dizendo que houve um acordo ontem no Congresso sobre o Código Florestal? Eu não sei de nada?”, escreveu a presidenta no “bilhete”, que foi entregue às ministras por um funcionário do cerimonial da presidência. O texto aprovado contraria as orientações dadas pelo governo no que diz respeito a recomposição de mata ciliar”.

De Jânio e de louco todos nós temos um pouco!

Nos sete meses de governo, Jânio Quadros despachou cerca de quinhentos “bilhetinhos”, como são chamados popularmente. Os bilhetinhos foram combatidos, mas temidos e respeitados. Neles se observa o humano e o sentido de humor de Jânio Quadros. Os célebres “bilhetinhos” só o eram para o público, pois para JQ, eram despachos, papeletas ou memorandos altamente enérgicos e exigentes. Essas ordens escritas foram cognominadas “bilhetinhos” por um jornal de São Paulo, com o intuito de depreciá-los, mas o efeito foi contrário, e eles ganharam a notoriedade e a importância que realmente importava.

De Brasília/Gabinete do Presidente da República Em 2/05/1961

Para o Ministro de Estado

Muito me contrariou notícia no Estado de São Paulo referente a um suposto convite a Kennedy. A despeito de parecer originária de Brasília não acredito seja essa a origem. Determinei inquérito a respeito. Solicito de Sua

Excelência o ministro rever, no Itamaraty, nosso sistema de segurança. O mesmo será feito aqui em Palácio.

JÂNIO QUADROS

Dizia-se que Jânio inspirara-se em Churchill quando deliberou utilizar-se do sistema dos bilhetinhos. Outros declararam que ele se inspirou em personalidade mais próxima, Getúlio Vargas, que os enviou ao seu antigo chefe da Casa Civil, Sr. Lourival Fontes.

Há quem diga que JQ inspirou-se em Abrahão Lincoln, que se utilizara dos bilhetinhos para vencer em seu país as barreiras burocráticas.

No entanto, os bilhetinhos foram lançados na pessoa do capitão-general Martim Lopes Lobo de Saldanha que, em 1877, quando era governador da Capitania de São Paulo, lançava mão de ordens escritas, sucintas e enérgicas para conseguir providências de caráter imediato.
É de se reconhecer, contudo, que os bilhetes de JQ foram a marca de sua personalidade vigorosa. Os relapsos os temiam. Os responsáveis os respeitavam. Os políticos profissionais os combatiam. O povo os aplaudia.

Os famosos bilhetes de Jânio, personalissimamente endereçados, tinham acolhida, irônica ou pitoresca nas colunas dos jornais e eram recebidos pelo povo com misto de admiração, reverência, credulidade e de pilhéria. O funcionalismo público desde logo foi alvo da moralização, através de decretos que dispunham quanto ao cumprimento de horário de funcionamento das repartições públicas, quanto à exoneração ou à dispensa. Em suma, a máquina burocrática deveria ser qualificada e produtiva, sem alteração de sua estrutura e métodos, através de medidas de moralização e bons costumes.

Memº JQ.4226/88, de 15.3.88

Cel. Geraldo Arruda Penteado – SMT

1 – Determinei, à semana passada, policiamento de trânsito à frente dos estádios, dos grandes clubes, restaurantes e boates, onde se reúnem, aos domingos, dezenas, centenas ou milhares de pessoas;

2 – Contudo, visitei as adjacências do “Paineiras”, no Morumbi. Não encontrei policial nenhum e precisei, em pessoa, multar vários carros sobre a calçada;

3 – Monte V.Exa. um esquema permanente para todos os domingos e feriados. Puna os infratores de forma impiedosa. Não podem escarnecer da fiscalização nesses dias, entendendo-a ineficaz, ausente;

4 – Rigor, sem complacência;

5 – Antes da posse de V.Exa., multei o meu próprio carro,porque estacionou sobre a faixa de segurança para pedestres. A multa foi paga.

6 – Aguardo providências ora determinadas.

J.QUADROS, Prefeito

 

 

Chefe do Executivo fosse municipal, estadual ou federal, o autoritarismo e o carisma foram seus traços característicos. Seus bilhetinhos, com ordens a subordinados, se tornaram célebres.

Seus bilhetinhos ficaram famosos em São Paulo. Sua administração sacudiu o funcionalismo público. Muita gente teve medo dele e muita gente o admirava fundo. Também o chamavam de “messiânico”. Já foi imaginado que túnica branca e ampla, cabelos derramados pelos ombros, pregando às margens do rio Ipiranga. Daria um bom apóstolo.

Os bilhetinhos de JQ foram uma excelente estratégia política para o governador atrair a imprensa, sem pedir que ela o procurasse.

A política dos bilhetinhos, com os quais Jânio Quadros trazia a administração pública em constante sobressalto pelas incertas que atingiam diariamente os chefes das repartições públicas.

O próprio presidente Jânio Quadros, às vezes transmitia seus bilhetinhos para os ministros por meio do aparelho de Telex que mandou instalar em seu gabinete, ligado diretamente com os Ministérios em Brasília e no Rio de Janeiro.  Ele mesmo datilografava os “memorandos”.

                   Transmitiu ele um bilhete para um ministro e na mesma hora recebeu a seguinte resposta, pelo telex:

                   “Prezado colega. Não há mais ninguém aqui.”

                   Ao que o presidente respondeu:

                   “Obrigado, colega.  Jânio Quadros.”

                   Do outro lado do fio, porém, o outro não se perturbou:

                   “De nada. Às ordens, John Kennedy…”

Jânio foi considerado um precursor do marketing político e refez a linguagem política no Brasil. Sabia criar eventos que seriam notícia. Ele sempre conseguiu criar fatos políticos. Usava a vassoura como símbolo da promessa de “varrer” a corrupção. Ele falava com a mídia e com o eleitorado por meio de imagens. Ao pendurar um par de chuteiras na porta do seu gabinete na Prefeitura em 86 indicando disposição de se aposentar conseguiu o efeito desejado: políticos e jornalistas passaram a especular sobre o gesto. Jânio não saía do noticiário.

A marca de Jânio sempre foi a surpresa. Irritado ou de bom humor, sempre oferecia um bom ângulo. Era capaz de reações intempestivas e de grande ironia. Jânio foi inimitável, sem herdeiros políticos.

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Nelson Valente  é jornalista, professor universitário e escritor. Pesquisador nas áreas de psicanálise, comunicação, educação e semiótica. É mestre em Comunicação e Mercado e doutor em Comunicação e Artes. O autor também é especialista em Legislação Educacional, Psicanálise,Teoria da Comunicação e Tecnologia Educacional e já publicou 16 (dezesseis) livros sobre o ex-presidente Jânio Quadros e outros sobre educação, parapsicologia, psicanálise e semiótica, no total de 68 (sessenta e oito) livros e alguns no prelo. Ex-presidente da Academia Blumenauense de Letras/ALB, Acadêmico. Membro da Sociedade dos Escritores de Blumenau/SEB

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4 thoughts on “Presidenta Dilma: de Jânio e de Louco Todos Nós Temos um Pouco!

  1. Nelson Valente says:

    Prezado Lino Tavares,

    você tem o meu respeito e admiração. Queira desculpar-me pela brincadeira, meu caro R2.

    Abraços,

  2. Lino Tavares says:

    Pois é, Professor Nelson !
    Na minha cidadezinha, onde na época da renúncia eu era guri, falava-se que o Jânio se referia a Forças Ocultas. talvez, com os parcos recursos da comunição social da época (só havia rádio), algum radialista tenha dito isso e ficou sacramentado, por lá. Coisas como o “Independência ou Morte !”, que há quem afirme que o Pedrão nunca disse isso. Dizem, no campo do humor, que, na verdade, faltou papel para ele se limpar no matinho, e – irado – teria dito: “Essa Intendência é de Morte !

  3. Nelson Valente says:

    Prezado Lino Tavares,

    a expressão “forças ocultas” é de Vargas. Jânio Quadros, falou em “forças terríveis”. Ocultas por quê?

    Na caserna,utilizamos: mensagem a Garcia. Conhece?

    Abraços,

  4. Lino Tavares says:

    Desta vez, minha participação será breve e tem inspiração no lado satírico do meu jornalismo polivalente. Já que foram colocadas aqui essas duas figuras controvertidas de Jânio e Dilma, devo observar que o que eles mais têm em comum é a VASSOURA. Ele, como político sagaz agarrado a um símbolo que denota limpeza. Ela, como boa bruxa, que é, assombrando o país com suas vacilantes atitudes, próprias de quem está na direção de um carro sem saber o caminho por onde trafega. Bem que ela poderia imitar o JQ, fazendo aquilo que ele fez depois de sete meses de governo. Se Dilma renunciasse, eu assumiria o papel de “forças ocultas” a que Jânio se referiu.

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