Em resposta ao artigo de Lino Tavares intitulado “Revolução de 1964 – Golpe ou Contragolpe?”, o engenheiro e colunista Tiago Marquesi deixa abaixo seu ponto de vista.
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Tiago Marquesi
Golpe de Estado é um movimento político que, à margem da lei, objetiva depor um governo institucional de determinado país, a fim de instalar outro, ilegítimo, notadamente apoiado na força e no interesse de grupos ou países alheios à vontade popular. Os golpes colocam asteriscos no mapa geopolítico mundial: regimes de exceção, nascidos sem amparo constitucional, tampouco respeitam limites impostos pela lei. Nesses governos, o autoritarismo, a arbitrariedade e a violência tornam-se, então, lugar comum.
A América Latina conheceu, pois, muitos golpes durante o século passado, lamentavelmente patrocinados pelos EUA, em um período negro da história do subcontinente. Para relacionar apenas alguns, em 1973 forças militares depuseram o presidente Salvador Allende, alçando ao poder chileno o general Augusto Pinochet, numa ditadura que estendeu até 1990. Já em 1976, Isabelita Perón perdeu o governo para uma junta militar ditatorial formada pelos comandantes das três Forças Armadas argentinas, num regime auto-intitulado “Processo de Reorganização Nacional”. Nesses países, muitos dos que se opuseram desapareceram, cruelmente torturados e assassinados.
No Brasil de 1964, João Goulart era o presidente, conduzido democraticamente ao cargo após a renúncia de Jânio Quadros. Acusado de comunista, enfrentara um ensejo de golpe malogrado pela chamada “Campanha da Legalidade”, e aceitara governar sob um parlamentarismo parido para negar-lhe poderes. Desgastado, procurou fortalecer-se, promovendo manifestações e comícios onde defendia suas propostas. No “Comício da Central”, no Rio de Janeiro, lançou o embrião do que chamava de as reformas de base: ampliação do direto de voto aos analfabetos e a militares de baixa patente, tomada de refinarias de petróleo e a desapropriação de terras às margens de rodovias e ferrovias federais para reforma agrária, iniciativas modestas se comparadas aos movimentos da revolução russa. Então, forças conservadoras organizaram-se numa reação ao perigo vermelho iminente – a Marcha da Família com Deus pela Liberdade –, o que criou o ambiente social adequado para que forças militares assaltassem o poder, derrubando Jango e estabelecendo um regime alinhado aos EUA e cerceador das mesmas liberdades que antes se temia perder.
O país experimentava, então, um golpe típico por assim dizer, não uma revolução ou outra coisa. As revoluções têm marca popular, ainda que haja líderes e heróis. Elas pretendem libertar, logram retirar os asteriscos do mapa, ainda que muitas tenham acabado por colocá-los de volta. Por exemplo, a Revolução Cubana pôs fim à ditadura corrupta e violenta de Fulgêncio Batista; a Revolução Russa terminou com a autocracia dos Czares. A Revolução Francesa, talvez a mais importante delas, inspirada nos ideais do Iluminismo, aboliu a servidão e os direitos feudais, proclamando, contra os privilégios do clero e da nobreza, os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade.
Finalmente, analisar a história com precisão e respeito é imperativo para que não se permita outros golpes, para que aqueles valores que emanam da condição de ser humano não se percam, e para que haja tantas revoluções quanto forem necessárias quando esses valores forem negligenciados.
Tiago Marquesi é engenheiro e quer ir embora para Pasárgada – lá poderia estabelecer a Embaixada do Brasil, quando acrescentaria às suas insígnias “diplomata”.
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Todas essas explicações e definições fariam sentido, caro Tiago Marquesi, se na contramão desses movimentos não houvesse a marcha desenfreada do totalitarismo soviético, tentando pintar de vermelha a Terra, com sua ditadura implacável do proletariado, bem antes que o Internacional, de Porto Alegre, o fizesse, conquistando o título de campeão do mundo, naquela “zebra” que aprontou diante do poderoso Barcelona. Se os Estados Unidos não tivessem apoiado essas tomadas de posiçao anticomunsitas, certamente teriam que enfrentar uma União Soviética Imbatível, numa guerra de proporções catastróficas, posto que, com o comunismo conquistando a América Latina, os Esados Unidos (ou seja a democracia ocidental) estaria com os dias contados. Olhar só um lado da questão e chamar os patriotas veradadeiros de golpistas é f’ácil. Difícil é admitir que os verdadeiros golpistas eram aquels que já haviam engolido a metade da Europa, com a famigerada Cortina de Ferro, que fazia lembrar a música “Pinton de gafieria”: Quem está fora não entra e quem est'[a dentro não sai”‘.
Então os EUA patrocinaram ditaduras para defender a democracia: ok!