Evangelhos Apócrifos
(Fragmento aramaico)
4 […] A paz e toda satisfação das primícias dos frutos da terra, tudo para alimentação e domínio. Espada, luta, guerra, massacre, carência, raiva, assassínio, fome. As vezes deves comer, outras vezes jejuar; ora trabalhar, ora descansar; ora dormir, ora foge o sono das tuas pálpebras.
5 Em verdade! Como é que Ele te fez maior do que todos? Como é que eu te concedo o grande bem de uma paz eterna? Duas semanas se passaram, quando então me recuperei do meu sono (Test. de Levi, VIII, 5). E eu disse: “Esta visão é semelhante à outra”. Muito me admirei, porque a inteira visão relacionava-se com a anterior. Mas tudo isso guardei em meu coração, e nada disse a ninguém (VIII, 5).
6 Então fui ter com o meu pai Jacó, e ele também abençoou-me, tal como o fizera antes. Quando ele percebeu que tudo se cumprira conforme os seus votos, que eu me situava, como o primeiro, no ápice do sacerdócio, e, dentre todos os seus filhos, tendo confiado a mim as oferendas, deu graças a Deus e revestiu-me da veste sacerdotal. Assim, tornei-me um sacerdote de Deus. (VIII, 3), realizei o sacrifício das oferendas e abençoei pela primeira vez o meu pai e todos os meus irmãos.
7 Em seguida, todos me abençoaram. Abençoou-me também o meu pai, e em Betel ofereci o sacrifício das suas últimas oferendas. Depois saímos de Betel e fomos morar na vivenda do nosso pai Abraão, junto ao nosso pai Isaac (IX, 1). Quando o nosso pai Isaac nos viu a todos, abençoou-nos e alegrou-se.
8 Ao perceber que eu era um sacerdote do Deus Altíssimo, do Senhor dos céus, passou a instruir-me e a ensinar-me as prerrogativas do sacerdócio (IX, 2). Dizia-me: “Meu filho Levi! Defende-te de toda contaminação e pecado! Os teus direitos são maiores do que os de toda carne. E agora, meu filho, vou instruir-te sobre a Lei da Verdade, nada te ocultando, a fim de introduzir-te nos direitos do sacerdócio.
9 Acima de tudo! Guarda-te, meu filho (IX, 2), de toda voluptuosidade e impureza, e de toda luxúria! Toma para ti uma mulher (IX, 3) do seio da minha família, e não contamines a tua estirpe com a fornicação! Pois tu és um tronco santo, e santa é a tua estirpe como o próprio Lugar Sagrado, pois entre toda a descendência de Abraão serás denominado um sacerdote santo.
10 Tu estás perto de Deus (IX, 1) e de todos os Seus Santos. Portanto, seja a tua carne isenta de toda conspurcação humana (Jub. 21, 16)! E enquanto te preparas para entrar na Casa de Deus (IX, 3), lava-te com água! Só depois veste o paramento sacerdotal! Uma vez vestido, lava-te as mãos e os pés, antes de oferecer qualquer coisa sobre o Altar!
11 E quando te dispuseres a sacrificar as oferendas selecionadas, lava-te uma vez mais as mãos e os pés! E ao separares as achas da lenha, examina bem para que não estejam carunchadas! Só depois as colocarás sobre o Altar! Sei que o meu pai Abraão dava grande atenção a isso. Ele indicou-me doze espécies de lenhas (IX, 3), apropriadas para a queima sobre o Altar, pois a sua fumaça emite um perfume agradável. São elas: cedro, louro, amendoeira, pinho, abeto, freixo montanhês, cipreste, figueira, oliveira, zimbro, murta e planta balsâmica (Jub. 21, 12).
12 Essas ele me apontou como adequadas para o sacrifício sobre o Altar. Deitada essa lenha sobre ele, e começando o fogo a arder, darás início à limpeza do sangue nos lados do Altar! Depois disso, purifica-te uma vez mais as mãos e os pés do sangue, e principia a oferenda das partes, salgadas! Oferece primeiro a cabeça! Sobre ela espalha a gordura! Cuida que nelas não apareça nenhum sangue do animal sacrificado!
13 Depois a peça do pescoço, e em seguida os quadris com as coxas; depois dos quadris, as pernas traseiras, juntamente com as entranhas, lavadas! E salga tudo, conforme é preciso!
14 Após isso, vem a farinha, misturada com óleo; e finalmente o vinho, como oferenda de bebida. E por cima de tudo queima incenso! Sejam todos os teus atos realizados na mais perfeita ordem, e que todas as tuas oferendas sejam agradáveis, como doce aroma diante do Altíssimo, Deus!
15 Tudo o que fizeres, faze-o em ordem, segundo peso e medida! Não acrescentes nada que não convenha, e nada omitas de aproveitável nos próprios gravetos que devem ser postos sobre o Altar! Pois um boi grande precisa de lenha de um talento de peso; se for sacrificada apenas a gordura, bastam seis mines; sendo um bezerro a ser sacrificado, […]
Fragmento grego
16 E para o segundo boi, cinqüenta mines; se for apenas para a gordura, cinco mines. E para um boi grande, quarenta mines. Se for sacrificado um carneiro, ou um bode, trinta mines para ele; pela gordura, três mines. Para um cordeiro ou um cabrito, vinte mines; para a gordura, dois mines. Para um cordeiro de um ano e sem mancha, ou para um cabritinho, quinze mines; para a gordura, meio mine.
17 Espalha sal sobre a carne do boi grande e sacrifica-o sobre o Altar! Uma medida é suficiente para o boi. Se ainda sobrar sal, salga com ele o couro! E para o segundo boi, toma cinco sextos! Para o novilho, a metade! Para o carneiro a metade, e assim também para o bode! Para o cordeiro e o cabritinho, um terço! E correspondente quantidade de farinha!
18 Para o boi grande, para o segundo boi, e para o novilho, uma medida de farinha. Para o carneiro e o bode, dois terços; para o cordeiro e o cabritinho, um terço. E óleo correspondente! Um quarto de medida para o boi, misturado com farinha! Para o carneiro, um sexto; para o cordeiro, um oitavo! E também vinho, para oferenda de bebida, na mesma quantidade do óleo para o boi, para o carneiro e para o cabritinho.
19 Coloca seis sequeis de incenso para o touro; a metade disso para o carneiro, e uma terça parte para o cabritinho. E tudo deve ser misturado com farinha! Quando ela não for espalhada sobre a gordura, faze queimar sobre esta dois sequeis de incenso! Um terço de uma medida corresponde a um terço de efá. Duas partes de Bath e o peso de um mine correspondem a cinqüenta sequeis. A quarta parte de um shekel é um peso. O shekel corresponde a cerca de dezesseis tenes de igual peso.
20 Agora, meu filho, presta atenção às minhas palavras! Obedece ao meu mandamento! Por toda a tua vida não permitas que as minhas palavras desapareçam do teu coração. Pois tu és um sacerdote santo do Senhor. Todos os teus descendentes serão sacerdotes. Ordena a todos os teus filhos que se comportem da maneira como eu ‘te ensinei! Foi essa a conduta que me foi ensinada pelo meu pai Abraão, e que mandou-me transmitir aos meus filhos.
21 Meu filho! Alegro-me que foste escolhido para o sacerdócio sagrado e que te cabe oferecer sacrifícios ao Senhor altíssimo, na forma que lhe convém. Ao ofereceres ao Senhor um sacrifício de qualquer espécie de carne, toma a correspondente quantidade de lenha, segundo te instruí; utiliza também sal, farinha, vinho e incenso, para todo animal! Lava sempre tuas mãos e teus pés ao acederes ao Altar; e ao afastar-te da oferenda sagrada (Jub. 21,16-18), purifica tuas vestes de toda mancha de sangue! E não deites fogo ao sacrifício no mesmo dia.
22 Purifica constantemente mãos e pés de toda carne, para que não mostres em ti nenhum vestígio de sangue! Pois o sangue é a vida na carne. Quando preparares em casa alguma carne para comer, cobre primeiro com terra o seu sangue, antes de consumi-la! E de forma alguma deverás aproveitar o sangue, pois foi assim que me ordenou o meu pai Abraão; e foi assim que ele encontrou escrito no livro de Noé sobre o sangue.
23 Meu dileto filho! Digo-te: tu serás amado pelo teu pai, e és santo diante do Senhor altíssimo. E gozarás da profunda consideração de todos os teus irmãos. Por meio da tua estirpe haverá bênção sobre a terra, e ela será inscrita no Livro-memória da Vida, para todo o sempre. O teu nome e o nome da tua estirpe jamais serão apagados. A tua estirpe, meu filho Levi, será bendita sobre a terra pelas gerações de todos os tempos!
24 E quando se completaram quatro semanas de anos de minha vida, isto é, no meu vigésimo oitavo ano de idade (XI, 1), escolhi por esposa uma mulher da linhagem do meu pai, a saber, Milka, filha de Betuel, filho de Labão, irmão de minha mãe.
25 Ela concebeu e gerou meu primogênito (XI, 1), a quem pus o nome de Gerson, pois eu dizia que os meus descendentes estabelecer-se-iam na terra em que nasci. Nós éramos estranhos naquela terra (XI, 1). E eu vi na minha visão que o menino e toda a sua descendência seriam excluídos do sacerdócio. A ocasião do seu nascimento, eu tinha trinta anos de idade; ele nasceu no décimo mês, ao pôr-do-sol. E ela concebeu uma vez mais, e deu à luz no tempo certo para as mulheres, e dei ao menino o nome de Kohat (XI, 1).
Fragmento aramaico
26 Eu vi que tudo se reunia ao seu redor; pois ele haveria de ser sumo-sacerdote em Israel. Ele nasceu no meu trigésimo quarto ano de idade (XI, 1), no primeiro dia do primeiro mês, ao nascer do sol. E mais uma vez procurei minha esposa, e ela gerou-me um terceiro filho, a quem pus o nome de Merari, por ter sido extremamente amargo para mim que ele morresse logo após o nascimento (XI, 2). Foi muito duro para mim, porque ele queria morrer, enquanto eu suplicava e rezava por ele; tudo isso causou-me profunda tristeza. Ela havia dado à luz no terceiro mês do meu quadragésimo ano de vida.
27 Deitei de novo com minha mulher, que concebeu e deu à luz uma filha, a quem pus o nome de Lochebed (XI, 2), pois eu disse: Nascida para honrar-me; nascida para glorificar-me em Israel.’ Deu à luz quando eu tinha quarenta e seis anos de idade, no primeiro dia do sétimo mês após a nossa chegada ao Egito. No décimo sexto ano, fomos ao Egito. Aos meus filhos foram dadas por esposas filhas dos meus irmãos. Os filhos de Gerson chamaram-se Libnai e Simei (XII, 1): os filhos de Kohat Araram, Izhar, Hebron e Uzziel (XII, 1); os filhos de Merari Machli e Musai.
28 Amram casou-se com minha filha Lochebed (XII, 1), quando eu contava noventa e quatro anos de idade. Quando ele nasceu, chamei-o Amram, pois eu disse naquele momento: ‘Este menino tirará o povo do Egito’. Por isso ele foi chamado “o povo enaltecido”; ele e minha filha Lochebed nasceram no mesmo dia. Eu tinha dezoito anos quando me transferi para Canaã; aos dezenove, golpeei. E exterminei os autores da violação. Aos dezenove anos tomei-me sacerdote, e aos vinte e oito casei-me. Quarenta e oito anos eu tinha quando nos transferimos para o Egito, e lá morei por setenta e nove anos.
29 Minha vida inteira alcançou cento e vinte e sete anos, chegando a ver a terceira geração dos meus filhos, antes da minha morte (XIX, 1). No centésimo décimo oitavo ano da minha vida, isto é, no ano da morte do meu irmão José, chamei os meus filhos e netos, e comecei a transmitir-lhes tudo o que eu guardava no meu coração. Dizia-lhes: Escutai a palavra do vosso pai Levi, e obedecei aos mandamentos de Deus, que é digno de todo louvor! Indico-vos a vossa obrigação, meus filhos (XIII, 1), e mostro-vos a verdade, meus amados.
30 Deixai que a Verdade seja a substância dos vossos atos, e permiti que a retidão habite sempre em vós! (S/. 118, 160). A Verdade […] e abençoada será a sua colheita. Quem semeia o bem, colherá o bem. Quem semeia o mal, terá de volta o fruto dessa semente (XIII, 2). Ensinai aos vossos filhos o Livro da Sabedoria (XIII, 2)! Deixai, meus filhos, que a sabedoria se encarne em vós, para que seja perpétua a vossa honra! A sabedoria é uma honra para aquele que a aprende (XIII, 3); quem a despreza será igualmente desprezado.
31 Considerai, meus filhos, o meu irmão José, que instruiu e deu lições de sabedoria através da Escritura (XIII, 3). […] em qualquer cidade ou região […] ele não será um estranho, e não se parecerá com um, forasteiro, pois todos lhe prestam honra e desejam aprender a sua sabedoria (XIII, 3). Numerosos são os seus amigos (XIII, 3), e grandes aqueles que o saúdam. Fazem-no assentar-se num lugar de honra, para ouvirem as suas palavras de sabedoria.
32 A sabedoria constitui um tesouro grande e honroso; um tesouro precioso para aqueles que o herdam. Quando reis fortes e numerosos povos atacam, trazendo inimigos, cavaleiros e carros, subjugando cidades e campos, e saqueando tudo o que neles existe, não conseguirão pilhar os tesouros da sabedoria, nem descobrir os seus segredos. Fim