Rolando Boldrin, com sua partida aos 86 anos, abre uma lacuna tão grande na cultura popular brasileira quanto a grandiosidade do legado que deixa
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Por Lino Tavares
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Às vezes a “equipe de produção de São Pedro” dá um pulinho aqui na Terra para levar algum astro do Planeta para fazer shows lá na Dimensão da Divindade. Acontece também de levar dois no mesmo dia, deixando os milhões de fãs de ambos chorando em dose dupla.
Como costumo homenagear os grandes artistas que partem com um artigo veiculado nos diversos veículos em que atuo, quando dois deles vão embora no mesmo dia, fico meio atrapalhado sem saber se devo homenageá-los no mesmo texto ou em textos diferentes.
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No dia 14 de maio de 1998, eu redigia uma homenagem ao cantor internacional Frank Sinatra, que havia morrido naquele dia, e, quando estava na quinta linha do artigo, meu filho me interrompe para dizer que César Passarinho, o intérprete de “Guri” e tantas outras canções nativistas gaúchas, tinha falecido também naquela mesma data, Como fiquei sabendo de ambos os desenlaces quase no mesmo momento, homenageei os dois artistas no mesmo artigo, sob o título Planeta Terra chora a perda de Sinatra. Planeta Pampa, a de Passarinho.
Quarta-feira, dia 9 de novembro, tivemos mais um caso de dupla perda, com a morte de Gal Costa e Rolando Boldrin.
Eu já havia escrito e mandado para as editorias o artigo em homenagem à cantora, quando fiquei sabendo que Rolando Boldrin havia morrido na mesma ocasião. Por essa razão, o estou homenageando neste artigo.
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Quem foi Rolando Boldrin ? Eu poderia não entrar em detalhes acerca dessa pergunta, dizendo simplesmente que artistas consagrados como ele dispensam apresentação.
Mas, isso seria dizer o óbvio que obviamente não estaria à altura de um texto que se propõe a homenagear alguém famoso que partiu. Então, vamos aos fatos.
Rolando Boldrin, com sua partida aos 86 anos, abre uma lacuna tão grande na cultura popular brasileira quanto a grandiosidade do legado que deixa a seus compatriotas em termos de manifestações artísticas relacionadas ao universo da música, da literatura, da dramaturgia e da comunicação social.
Se eu fosse escalado para colocar uma coroa na cabeça de Rolando Boldrin, eu colocaria a de Rei da Música Sertaneja de Raiz.
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Falo daquele gênero musical, também conhecido como Música Caipira, que esse formidável artista já interpretava, no rádio e na televisão, no tempo em que reinava ainda um certo preconceito contra a música brotada nos sertões longínquos da mãe-Pátria brasileira.
Rolando Boldrin nasceu em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo. Estreou como músico em 1960, participando no disco da futura esposa Lurdinha Pereira.
Em 1974, lançou seu primeiro disco solo, pela Continental, intitulado O Cantadô.
A partir de então, afloraram suas múltiplas vocações artísticas, vivenciando momentos de sucesso como ator de teleteatro da TV Tupi, ao lado de nomes consagrados como Lima Duarte, Laura Cardoso, Dionísio Azevedo e outros.
Entre as décadas de 1960 e 1980, atuou em cerca de 30 novelas nas TVs Record, Tupi e Bandeirantes.
Como apresentador de televisão, brilhou em programas como Som Brasil, na Globo, Empório Brasileiro, na Bandeirantes, Empório Brasil, no SBT, e Sr Brasil, na TV Cultura de São Paulo.
Foi laureado, no Festival de Brasília, com o prêmio de Melhor ator coadjuvante, por sua participação no filme O Tronco, em 1990, onde viveu o personagem Pedro Melo.
Essa foi um breve síntese da estrada percorrida pelo magno Rolando Boldrin, cuja partida desfalca o meio artístico brasileiro de um monstro sagrado da música, da poesia, das artes cênicas, da dramaturgia e da mais genuína manifestação cultural tipicamente regionalista, com suas modas de viola, suas prosas e versos e seus “causos galponeiros”.
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