Lino Tavares
O resultado da eleição do novo papa, anunciado quarta-feira, surpreendeu o mundo, com toda a certeza.. Antes de entrar no mérito da opção feita pelo colegiado de cardeais, temos que admitir que a escolha de um argentino para o cargo religioso mais importante do Planeta mexe com os brios tupiniquins, tornando-se um motivo a mais para que ‘los hermanos’ reforcem aquela empáfia, que os faz imaginarem-se – salvo honrosas exceções – uma espécie de ‘povo arianao’, vizinhando com “raças inferiores” no Sul do Novo Mundo. Afora a velha rivalidade entre brasileiros e argentinos, temos que admitir que a eleição do cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio , para ocupar o lugar deixado espontaneamente por Bento XVI no trono do Vaticano, foi um acontecimento de extrema relevância sob os mais diversos aspectos.
O dado mais significativo é que o mundo católico experimenta pela primeira vez o comando de um Papa não europeu, o que representa a quebra de algo que, se tivesse sido chamado um dia de “panela clerical europeia”, não configuraria nenhum absurdo. Do lado de cá do Atlântico, vive-se o começo da Era do primeiro Papa americano, e não apenas latino-americano, como andam falando, já que a parte não latina da América, Estados Unidos e Canadá, jamais teve um representante ocupando o chamado “Trono de São Pedro”. Voltando o foco para a pessoa do eleito, fica latente que, ostentando o nome papal de Francisco I, ele simboliza a humildade franciscana na mais alta cúpula do ‘Império’ Católico Apostólico Romano.
Isso vem ao encontro dos mais ardentes desejos da ala progressista da Igreja, que sempre pregou, usando a ideia-força “opção pelos pobres”, a necessidade de um pontificado essencialmente voltado aos mais necessitados, embora, à sombra dessa generosidade orquestrada, abriguem-se demagogos de plantão, alguns até arautos de regimes escancaradamente ditatoriais e ateus. Tudo quanto se espera desse simpático cidadão argentino que virou Papa, torcedor do San Lorenzo de Almagro – clube pelo qual até já rezou missa – é que ele confirme as expectativas, promovendo na Igreja as reformas necessárias. Mas que o faça em nome da verdadeira fé cristã, e não a reboque daquela pregação doutrinária, que de longa data tem tentado servir-se da Igreja, para alcançar objetivos outros e não para recolocá-la na rota do verdadeiro Cristianismo, inspirado na Saga Milagrosa de Cristo, ‘capitaneada’ pelo humilde pescador da Galileia, que se chamou Pedro e se tornou o primeiro Papa, segundo o Catolicismo Romano.
Para que não se diga que não falei aqui sobre o lado pitoresco relacionado ao novo Papa porteño, vamos torcer para que, em futuro próximo, possamos ter cantos religiosos em ritmo de tango e quem sabe até um show do Padre Marcelo Rossi, cantando “El día que me quieras”, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, para delírio dos fiéis fãs. Como curiosidade, vale lembrar nessa hora que, visitando o Rio Grande Sul, o Papa João Paulo II, repetiu a expressão “Papa gaúcho”, proferida pela multidão que o saudava em Porto Alegre. Dá para dizer agora que essa frase repetida por Carol Vojtyla, na capital gaúcha, representou uma espécie de ‘profecia’, considerando que os argentinos, como o novo Papa Missioneiro, também são considerados gaúchos, termo que atravessa a fronteira e se aplica igualmente aos habitantes do Pampa argentino, onde se localiza Buenos Aires, berço natal de Jorge Mário Bergoglio, que está se mudando “de mala, cuia, botas, bombacha, chiripá’ e lenço no pescoço, para a “xucrossanta Querência do Vaticano”. Falo sobre isso ‘de cadeira’, já que possuo o diploma do “I Congresso Sul-Americano de Tradição Gaúcha”, realizado em Uruguaiana-RS, reunindo tradicionalistas do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina.
Para finalizar, uma saudação ao novo Papa, ao ritmo sensualmente dançante de “La Cumparesita”.