(*) Nelson Valente

O senhor Hugo Chávez não é democrata, adepto do sistema representativo
da interdependência dos poderes, de eleições secretas e livres, dos
mandatos a prazo determinado, dos intangíveis direitos individuais, da
liberdade de pensamento.

O presidente da Venezuela, traí as prerrogativas mais elementares de
seu país. Nega-lhes a liberdade de trabalho ao povo venezuelano.
Destrói os sindicatos. Proíbe a luta pelo acesso legítimo. Converte em
crime o que é de direito. Cerceia a livre expressão do pensamento.
Suprime as assembleias. Desmancha a família. Subtrai, ao convívio
humano, o calor da amizade e a ternura da confiança. A ditadura
exercitada a pretexto de interesse nacional venezuelano,cometem as
mesmas ferocidades, incidem em violências idênticas.

A terminologia política a quem muitos continuam apegados, na velha
Europa, não tem mais o sentido lógico que assumiu em certa fase da
história das ideias. Os conceitos que alicerçaram esquerda e direita,
na fase que culminou com o embate entre fascismo e bolchevismo,
mudaram de natureza, em consequência da Segunda Guerra Mundial e da
explosiva evolução que se opera em nossos dias, e que também a nós nos
abarca.De um lado, vemos tradicionais partidos socialistas da
Inglaterra e da Alemanha, revendo postulados fundamentais de seus
programas, mas, de outro lado, assistimos – sem que os preceda um
ideário nítido – a saltos sociais da envergadura dos operados no
Egito, na Índia, em Cuba, na África.

A mentalidade política do senhor Hugo Chávez se refaz ao empurrão dos
acontecimentos, e destes deverá resultar uma nova definição para
velhos problemas.Nem mesmo as supostas “cortinas” separam homens e
não-homens, e a impossibilidade de uma direção monolítica para os
povos se evidencia na rebelião iugoslava, na insurreição húngara, na
afirmação de independência da Polônia, no atrito entre a China e a
União Soviética (hoje Rússia) com o corolário das crises que
proliferam nas organizações partidárias internacionais que se inspiram
no exemplo desses países. Não há lugar, na América Latina, para o
exercício de curatelas europeias ou asiáticas, a nenhum título.

Sempre soubemos, nesta comunidade de Nações livres, solucionar as
pendências emergentes, diria inevitáveis, sem que tais desacordos
justificassem malignas intervenções extracontinentais.Não as concebo,
nem as tolero. Insisto, entretanto, em que a melhor, quiçá a única
maneira de exorcizarmos os “fantasmas dos chavismos” que rondam o
Continente. Chávez também tem criado tensões no cenário político,
interferindo publicamente nas eleições presidenciais do Peru e
oferecendo fornecimento de gás a preços reduzidos para populações
carentes nos EUA (numa clara demonstração de desafio ao presidente
norte-americano), apesar de não haver feito qualquer demanda por
territórios pertencentes a países vizinhos.Hitler usou de meios legais
para chegar ao poder e para obter o poder absoluto. Chávez fez o
mesmo. A história mostra que quando poderes absolutos são concedidos
ao dirigente de uma nação, surgem tensões e conflitos internos e
externos. Irá a história se repetir, dessa vez na América Latina? Em
batalha com o principal meio de comunicação opositor em seu país, o
presidente da Venezuela, Hugo Chávez, renovou ameaças ao canal de
notícias Globovisión, acusando-o de “terrorismo midiático”. A imprensa
venezuelana hoje é alvo de muitas críticas por parte do senhor Chávez,
algumas mais, outras menos generalistas. Com falhas ou não os meios de
comunicação ainda são, muitas vezes, a única opção de acesso a certas
informações que a grande massa da população tem ao seu alcance. Do
ponto de vista tecnológico isso tem sido feito. Um bom exemplo são os
sites de notícia, veículos dinâmicos que alcançam proporções
inimagináveis na América Latina.

O século XXI têm sido um crematório implacável de filosofias
políticas, e é preciso, para que Hugo Chávez encontre o justo caminho,
que, servidos por mente arejada, animados de ideais amplos e
generosos, guiados por espírito de luta e afirmação, dispostos a
encarnar a soberania da Venezuela, ávidos de liberdade e só entendendo
a política em função do amor ao povo.

Hugo Chávez,não é liberal, nem marxista. É um caso freudiano.
Presumo! Suas teorias explicam tudo e, portanto, nada.

(*) é professor universitário, jornalista e escritor

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.