Lino Tavares
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É muito temerário e pode até soar petulante, dependendo da forma como for dita, afirmar que a vitória de um calouro foi justa ou injusta. Quem se arrisca a isso está assumindo o papel de juiz uno, não raro sem credenciais para o fazer, de uma decisão que é essencialmente subjetiva, posto que depende do gosto de cada um, em função de uma série de fatores ainda enigmáticos na limitada compreensão humana. Sam Alves, jovem cearense abandonado pelos pais biológicos com apenas dois dias e reabilitado para a vida em sociedade por uma família americana, é tão brasileiro quanto qualquer um de nós, que nasceu em berço digno e cresceu sob os acordes do Hino Nacional, enfrentando as limitações dessa Pátria gigante socialmente anã.
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Sam não é mais importante do que seus concorrentes da grande final do The Voice Brasil, pela singela razão de ter sido escolhido por 43% dos 29 milhões de brasileiros que votaram nessa grande disputa promovida pela Rede Globo. Ele é simplesmente o grande vencedor, não na condição de “o melhor entre os melhores”, posto que o padrão de qualidade dos que chegam a uma final desse nível é praticamente o mesmo. Sua vitória, tão merecida quanto seria a de qualquer dos outros três concorrentes (Lucy Alves, Pedro Lima e Rubens Daniel), é fruto de preferência popular e não de uma suposta supremacia técnica na arte de cantar. Como se sabe, esse brasileiro chamado Sam, criado curiosamente em terras do Tio Sam, que faz lembrar, com seus cabelos encaracolados, o cantor Wanderley Cardoso, no tempo da Jovem Guarda, havia participado, no começo deste ano, da versão americana do “The Voice”, cantando “Feeling Good”, sucesso de Nina Simone. Não venceu, mas longe esteve de decepcionar, o que fica comprovado no fato de os jurados Blacke Shelton, Adam Levine, Usher e a estrela Shakira não terem virado a cadeira para ele, como é de praxe fazer como sinal de reprovação a calouros que não se saem bem no palco da disputa. É claro que, se Sam Alves não fosse um “produto” da Globo, que costuma sustentar o monopólio de suas revelações artísticas, eu o convidaria para uma entrevista, a exemplo do que já fiz com Bruna Braga e Keyla Vilaça, componentes da dupla vencedora da primeira edição do quadro “Mulheres que Brilham”, do programa Raul Gil, no SBT, bem como com a cantora Hellen Caroline, ganhadora do referido concurso, na temporada deste ano. Mas isso é irrelevante. Como comunicador e amante da boa música, deixo aqui minha referência jornalística sobre essa acontecimento artístico que acaba de nos brindar com um excelente intérprete musical, que nasceu no Brasil, cresceu nos Estados Unidos e voltou ao chão natal para vencer, em consonância com o provérbio que diz “O bom filho à casa torna”.
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