(*) Nelson Valente

Quieto no meu canto, acompanhando em São Bernardo do Campo o voo lindíssimo dos beija-flores. Penso em Machado de Assis,Umberto Eco, Fernando Pessoa, na beleza das músicas de Tom Jobim e sua identificação com a Mata Atlântica, na riqueza incomensurável do nosso meio ambiente.

De forma quase automática, como se não quisesse me apartar do mundo, lembro de uma frase de Mário Quintana: – Os analfabetos funcionais são aqueles que aprenderam a ler e não lêem. E são mesmos! Pensa e escreve mal, a linguagem tropeça e cai. Intrujices e deformações, verdadeiramente circences. Lê-se hoje em dia por motivos variados, como nos diz o professor e acadêmico Arnaldo Niskier: -Lê-se por hábito, por entretenimento, pelo simples dever, na busca de informações, para realizar uma pesquisa universitária, por motivos religiosos ou até mesmo para preencher a própria solidão. O que não pode é deixar de ler, pois na variedade dos livros encontram-se atrações para todos os gostos.

Os pais devem considerar o livro como um instrumento com que a criança tenha um relacionamento íntimo, no qual vai aprender lições que ajudarão muito na sua formação posterior. Se uma criança não possui o gosto pela leitura na infância, na adolescência ou na fase adulta as coisas se tornarão difíceis.

O pré-escolar é o grande momento onde deve haver um estímulo à leitura. Essa relação deve ser bem natural, e de forma lúdica, tanto em casa quanto na escola. Mas temos uma grande preocupação com o que a criança realmente deseja. Afinal, o que ela pensa sobre os títulos que estão à sua disposição? Sendo ela a maior interessada, é justo que se faça um levantamento nacional sobre as aspirações do nosso público infanto-juvenil, isso evitaria o pseudodidatismo que pode ser detectado em muitas obras.

O que fazer para os estudantes leiam mais? A resposta não é tão simples. Os professores podem, discretamente, variar a oferta literária, entendendo que literatura não é língua somente.

A leitura da obra literária, luxuosa ou não, é o ponto de partida ou regra de ouro do ensino de letras, que lidará com gêneros ou tipos conhecidos desde Aristóteles. Assim são criados os fundamentos literários para trabalhar o lirismo, a narrativa ( conto, romance, epopéia etc.) e outros tipos, como as memórias, o diário, a máxima, identificar o gênero é um primeiro e fundamental exercício, a que se deve somar o exame da estrutura da narrativa: enredo, personagem, tempo, ordem de relato, suspense, apresentação e desfecho.

O bom professor , que estimula o gosto de ler, promove a leitura acompanhada, dialogada, comentada, leitura a dois etc., para identificar com os alunos a existência de uma obra de arte literária. Quando ocorre a descoberta, não há dúvida, estamos diante do intrincado e maravilhoso mundo da literatura. É o campo de ação das Salas de Leitura, que devem ser estimuladas em todo o Brasil.

(*) é professor universitário, jornalista e escritor

5 thoughts on “Lê-se hoje em dia por motivos variados

  1. Rose says:

    Tenho saudades do meu primeiro livro "Caminho Suave", ou seja, se todos começassem com uma simples leitura de uma cartilha, quem sabe…
    Sou do tempo em que minha professora primária incentivava a leitura e discussão do texto,a partir deste momento comecei a gostar de literatura.
    Valeu o texto de Nelson Valente, que nao é vc! rs

  2. gibanet says:

    Claudinha, a maior parte das pessoas com quem já conversei a respeito deste assunto tem a mesma opinião, quem os fez perder o gosto pela leitura foi a escola, empurrando goela abaixo livros chatos e de difícil entendimento.
    Acredito que o caminho correto seria despertar o gosto pela leitura durante o ensino fundamental e apenas no ensino médio, quando os alunos já fossem leitores vorazes, pedir que lessem os clássicos.
    Beijos
    Giba

  3. Claudinha says:

    Giba:
    Eu sou uma leitora voraz, compulsiva. Talvez tenham me ensinado as delícias da leitura na escola, talvez seja uma característica minha, não sei. Tive o exemplo de minha mãe, que lia com prazer.
    Meus filhos tem o meu exemplo e, embora os estimule, só vejo na filha do meio o mesmo gosto pela leitura. A pequena ainda não lê e o maior não quer "se dar o trabalho".
    Leio por prazer e por vários outros motivos que não vêm ao caso, mas posso te dizer que pouco estimulante foi aquela fase em que, nas escolas, só davam clássicos para as crianças lerem. Eu, de curiosa, lia tudo, mas convenhamos: Primo Basílio pode ser um clássico, mas também é um porre! Não haveria outra forma de estimular a leitura?
    Bjs!

  4. Robson Fernando says:

    Giba, o texto é muito bom. Valeu por tê-lo publicado =)

    Republiquei também no meu blog:

    Abs

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