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Em um tempo muito antes do advento tecnológico, havia uma hiena de nome Zé que vivia em uma fazenda árdua, não no deserto do Saara, mas no nordeste do país; como o nordeste sempre é desfavorecido na distribuição de recursos para desenvolvimento em qualquer governo, o Zé com a família lá vivia cercado de fome, muita fome. Ele ainda tinha doze filhos menores para sustentar, além da esposa, cunhada, sogra e uma cabra que ganhou do governo, como fonte no fornecimento de leite. Todos cuidavam bem do animal e batizaram com o nome de uma santa. Aquela cabra tinha sua contribuição para alimentar a família do Zé; mas a natureza às vezes é cruel. O animal, que fornecia o único alimento regular, deixou de fazê-lo sem nenhuma explicação convincente. Naquela época Zé chegou a comer raízes, triste; dormia de barriga para cima, pensativo, afinal as lombrigas exigiam comida e ali nada disso havia. Chorava escondido das crianças e mascava capim. Num belo dia decidiu sair a procurar algum animal comestível. Andou 25 quilômetros até que encontrou duas gazelas que namoravam. Pareciam um casal feliz. A fêmea parecia ter crias. Quando o Zé as viu ficou alegre pela possibilidade de levar uma carninha para a família.
– Que família linda, minha bela gazela. – Disse pensando na estratégia de atacar.
– A natureza é generosa comigo, disse a gazela alegre, dando alguns pulos de felicidade naquele pedaço do chão, que não se conhecia carência.
O Zé se contentou, tinha o que precisava para a família. “Carninha, carne, carninha”, salvava, fazia tempo que não saboreava uma carne.
A inteligência criadora foi sábia, demais até, porque colocou no ser algumas “funcionalidades”, que fazem com que haja compadecimento e às vezes arrependimento. Às vezes sentimos pena dos outros e não resistimos ao vê-los chorarem. Choramos juntos, Estamos juntos mecanicamente:
Choramos imitando os outros abrimos a boca por imitação, sorrimos e choramos juntos.
Depois de muito conversar com as gazelas Zé se esqueceu do seu propósito, na verdade não esqueceu, ficou com choraminhices, o suficiente para não assassinar uma das gazelas, afinal era uma família feliz, sem preocupação e nisto se lembrou da sua faminta, com problema de falta de alimento. Ele chegou com os seus problemas e, no entanto, estava diante de outro problema, porque acabaria com a felicidade dos outros. Por que mataria a gazela para alimentar seus filhos, qual era o seu deus? Ficou a questionar-se da infelicidade que traria para a família das gazelas se decidisse matar um dos dois, afinal era um casal e tinha filhotes que ficariam sem papai ou mamãe. Isso seria horrível, segundo o Zé. Os filhotes estariam em algum lugar a esperar pelo regresso do seu pai ou mãe que jamais voltaria. Pode experimentar o sofrimento dos filhotes.
– Nossa! Nosso pai nos abandonou, diria um dos filhotes.
Seria esse o sentimento que tomaria a família, foi então que se viu na pele da gazela. Qual seria a reação dos seus filhos se ele nunca mais regressasse por algum motivo? Se um leão malvado o pegasse? As lágrimas saíram dos seus olhos como uma tempestade repentina. Sentou sobre o capim. As lombrigas cobraram atitude, imediatamente pegou o capim e começou a mastigar; mas tinha família para sustentar e o casal de gazelas alegremente a olhá-lo.
Zé estava diante de um desafio: matar a gazela para desgraçar a família alheia ou simplesmente regressar com as mãos a abanarem para sua família onde seus filhos morriam de fome.
– Que coisa!
Chorou de tristeza, chorou pelos filhos e pelas suas lombrigas que, sem dó, emitiam som esquisito. Sentou debaixo da fresca sombra e dormiu instantaneamente. Sentiu uma sensação muito gostosa e sonhou que estava diante de um mar que molhava seus pés. Sentiu eternas cócegas, descobriu-se acordado, mas fechou os olhos e começou a sonhar profundamente. Uma cobra desceu da árvore, começou a andar sobre o seu corpo, lambendo-o desde as pernas até a boca. Enquanto isso, se sentia acariciado, ficou sem saber o que era sonho e o que era realidade, mas pouco se interessava em decifrar, dormiu.
Ele foi acordado por duas onças famintas prontas para devorá-lo, despertou desesperado e ofegante, subiu em cima da árvore. Pensou novamente na família, mas seu maior desejo era escapar dos animais ferozes e regressar a casa, mesmo de mãos abanando.
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Davambe é consultor de TI, mais de 25 anos de experiência em TI, Professor, Escritor, Autor dos romances: O Segredo da Felismina, Tanto Lá Quanto Cá e a Sereia de Tupa.
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