Davambe
“Nunca vi um gajo ordeiro como aquele”, dizia Albertino, um coelho observador e madrugador, chegava cedo ao escritório, disputando assiduidade com o seu chefe. Albertino chegava antes, mas em seguida seu chefe não tardava a chegar. Sempre ajoelhava, murmurava palavras indecifráveis e fazia sinal de cruz e levantava.
“Estamos juntos!”, finalmente dizia o chefe quando trombava com o coelho.
“Eh! Estamos!”, respondia sem entender.
Aqueles dizeres haviam perdido o sentido real, que era esperado que produzissem ou fizessem.
O gerente do coelho era excessivamente tímido. Acreditava em todos os seres, até que numa madrugada sua esposa o surpreendeu gemendo de frio sem coberta caindo no chão.
“Querido, levanta desse chão frio”, mas ele continuava impotente.
“Dê o fora verme nojento”, repetia a parecer um disco quebrado. Sua esposa amavelmente se aproximou, segurou-o. Ele despertou tristemente magoado.
Imediatamente contou o pesadelo que o atormentava.
“conta o que houve”, implorou ela.
“Não se conta sonho, não posso contar”, concluiu ele, muito lentamente a subir, ocupando o lugar devido na cama.
“Seu diretor ordenou que fosse disponibilizada a carne de rinoceronte no açougue, em uma semana. Haviam procedimentos a serem observados para a realização daquele projeto “Rinoceronte no Açougue”.
“Em uma semana, não é possível”.
“O quê? Contrate, trabalhe dia e noite. Quero a carne em uma semana.”
Concluiu se trancando para o diálogo.
O Leão desesperado ajoelhou-se, fez as suas rezas, levantou e tombou. O coelho gritou: “Chefe!”.
“Estamos juntos…”, foi recuperando a noção de espaço físico. Levantou e seguiu para viabilizar a matança. Não podia assassinar o rinoceronte, não era tradição daquela terra. Imediatamente procurou siriris e gafanhotos para, em volta do animal, cantarem até ele desabar de desgosto.
Em uma semana o rinoceronte estava despido de vida e sua carne iniciava a fase de putrefação. Foi então que começou a guerra departamental.
“O que garantiria a qualidade da carne a essa altura?”, exclamava a dona QA.
“Não! Sem essa, não temos infra para transporte e manuseio dessa carga”, dizia o arquiteto de infra.
“Certificado! Esqueça não há como emitir certificado de aderência a metodologia.”, retirava-se o expert em metodologia.
“Cadê a documentação dessa trouxa?”, concluiu outro.
A gazela atenciosa sugeriu que a jiboia engolisse o rinoceronte para postergar a decomposição.
“Nem pensar”, tentou escapar, entretanto, quando o Leão, quase a tremer, disse que eram ordens do Cinzano; Imediatamente se formou uma corrente em volta da jiboia para executar a atividade proposta.
“Se eu engolir como tiramos da minha…”, o silêncio foi geral. O tigre maldoso confortou:
“Xiquenta não. Será resolvido depois”.
Conseguiu-se postergar a disponibilização da carne em mais uma semana, duas semanas também se seguiram, mais um mês se somara a semana.
“Cadê o rinoceronte?”, perguntou o Elefante.
“Na barriga da jiboia.”, respondeu a gazela.
“Caracas, vocês não entenderam. Era para o Açougue!”, num gesto não usual.
O Tigre maldoso, rasgou a barriga do réptil para retirada do defunto, foi então que todos saíram correndo abandonando o rinoceronte morto à vista do indiretor Cinzano.”
Nesse momento o Chefe Leão foi despertado do pesadelo pela Leoa.
“Marido, Precisa se benzer “, concluiu a leoa virando-se para um sono profundo.