Davambe
“Quanta saudade da ética, que é praxe jurar, mesmo nos cursos de catequese…”
Andava incomodada como se um ventre estivesse sem vontade de exercer suas funções regulares, cara amarrada à poste nenhum. Não havia árvore em sua mente.
Desejava novos desafios e a ocupação não podia oferecê-lo, contra sua vontade bateu pernas, portas e janelas a buscar a oportunidade. Não foi difícil, um amigo procurou e confidenciou.
“Apresentei o seu currículo à empresa e você está entre os mais indicados”, disse concluindo, “ estamos a apostar em você”.
Sem levar à sério continuou a buscar, buscou de procurar em todos os lados, até que recebeu uma ligação. “Ainda tem interesse?” Ele ficou constrangido, estava em uma reunião, não podia atender. Perdeu a ligação, não havia como retornar, seu retrovisor acusava ligação restrita.
Por várias semanas foi sediado pela ligação misteriosa que nunca se efetivava, por motivos diversos, até que finalmente recebeu um email para entrar em contato. Foi-lhe apresentado uma proposta para liderar a região latino-americana.
“7 dias para pensar na nossa proposta”, disse o proponente, deixando o Leopardo à vontade.
O desejo do Leopardo era sair correndo daquele lugar e transformar os sete dias em 70, para que, bem lá no Mato Grosso do Sul pudesse pescar pitangas e corimbas, enquanto pensava na resposta.
Andou apressado para o escritório cocegado, queria postergar para analisar a proposta do amigo, que relutava em aparecer, mas que parecia ter alguma simpatia.
Ele andou a ruminar por alguns dias, enquanto aguardava a prerrogativa do último minuto concedido.
No sexto dia, recebeu o convite que tanto esperava da outra firma, o convidando para assumir a gerência da sucursal de Madagascar. Quando ouviu a proposta ficou a imaginar aqueles raios do sol refletidos nas águas do Oceano Índico, se consumindo com imagens que o anestesiava, até que foi despertado pelo proponente, que após a introdução, concluiu dizendo “O Que acha?” Acordou. Tinha que dar resposta naquele momento.
“Tudo bem, tudo bem!”, disse ele animado, pronto para viajar.
“Tudo bem o quê?“, disse a outra parte, “Aceita ou não aceita?”
“Aceitado!”
Enquanto regressava, pensava qual resposta daria a outra empresa que aguardava há aproximadamente seis dias. Andou alegremente como se estivesse a caminhar descalço na orla da praia, a sentir a areia a penetrá-lo na profundeza dos dedos dos pés. Pegou Taxi.
Contatou a outra empresa “Não vou poder fazer parte da vossa equipe.”
Disse, muito feliz, “ Vou para Madagascar representar outra companhia”.
“Gostaria que reconsiderasse essa decisão”, disse o interlocutor, “Temos uma oportunidade para assumir a gerência em Braga”.
O Gerente Leopardo teve um desassossego e suas pernas não alcançavam o chão, o sol parecia lua, alguém lhe ofereceu água. “Não precisa responder agora”.
Andou a consultar seus amigos para saber que caminho seguir. “Já dei a minha palavra para aquela apresenta de Madagascar, mas agora estou em dúvidas, Braga é uma das mais antigas cidades da Europa, nada mal.”
“Peça a orientação divina!”, aconselhou um dos amigos.
“Ih, ainda meu amigo, há pouco o que pensar!”, disse outro.
“Como assim?”
“Como assim?”, foi então que lhe fizeram meditar sobre a ética, “Hoje em dia não há quem não jure a ética”.
“Puxa pedi o conselho e você tem que me lembrar a ética agora?”
“Ué, ela é um dos pilares que nos sustenta na atual conjuntura.”
O Leopardo ficou a amargar as doces propostas que de qualquer forma lhe eram altura do que tanto queria.