A estranha intimidade de Sergio Moro com a mídia

Lino Tavares

Antes de julgar Bolsonaro, é preciso ter em mente os reais motivos que o levaram a assumir esse enorme desgaste, perdendo Sérgio Moro no governo

Não sabemos ainda se a razão disso consubstancia-se na tentativa do presidente, como afirmou Sergio Moro, de interferir no trabalho investigativo da Polícia Federal, à guisa de interesses pessoais, ou numa iniciativa de governo procurando, através de uma mudança no comando da força policial, agilizá-la no sentido de uma atuação mais efetiva na busca de resultados concretos, uma vez que até hoje a melhoria na segurança pública do país é muito acanhada em relação às promessas de campanha que focavam nesse tema de forma contundente.

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O que fica claro desde já é que tanto a imagem de Jair Bolsonaro quanto à de Sérgio Moro saem bastante arranhadas desse episódio, uma vez que a credibilidade de um estava intimamente atrelado à do outro, suscitando agora um racha inevitável que resulta no surgimento de dois grupos antagônicos, com “bolsonaristas” figurando de um lado e “moristas” de outro.

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A questão desse “divórcio” no âmbito do Planalto, que caiu como uma bomba em meio às correrias do combate ao Coronavírus, foi parar no Supremo Tribunal Federal por iniciativa do procurador geral da República, Augusto Haras, como não poderia ter sido diferente. Isso sugere que a tomada de posição, contra ou a favor de uma ou de outra das partes envolvidas, seja colocada em “banho-maria”, porque no curso desse processo presidente e ministro demissionário terão que sustentar seus argumentos com provas concretas. O que cumpre dizer agora é que não ficou nada bem para a imagem do ex-ministro o fato de ter escancarado à mídia as mensagens contidas em seu celular, relativas a conversas com o presidente da República. A boa ética sugere que, em casos assim, tais meios probatórios sejam declinados com primazia ao poder judiciário e não aos veículos de comunicações, que não são partes envolvidas no processo.

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É verdade que a grande maioria da população aprovou atitude semelhante de Sérgio Moro em relação àquela conversa telefônica em que a então presidente Dilma tratava da concessão de foro privilegiado a Lula através de uma nomeação espúria em um ministério de seu governo. Trata-se contudo de situações parecidas na forma de divulgação, mas diferentes no aspecto funcional. Naquela, tivemos um juiz tornando público um fato grave que precisava ser evitado de imediato, não podendo esperar por resultados processuais demorados.

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Nesta, estamos diante da divulgação prematura de tratativas de caráter pessoal entre o presidente da República e aquele em quem havia depositado confiança ao nomeá-lo Ministro de Estado de uma das mais importantes pastas governamentais. Essa atitude de Sérgio Moro, sem dúvida, causa estranheza, pois denota intimidade nada palaciana com essa mídia pouco confiável, que temos hoje no Brasil. E se torna mais condenável ainda por ter colaborado com a mídia, sabe-se lá em troca de que, fornecendo o print de uma conversa privada que teve com uma deputada amiga e afilhada de casamento, expondo a moça publicamente sem o seu consentimento, denotando falta de respeito e consideração para com uma pessoa de sua intimidade.

Veja como foi: