A Origem não Revelada do Cristianismo
A Origem não Revelada do Cristianismo

Ivani Medina 

Até hoje, temos uma lacuna de, pelo menos, um século (século I) sem evidência alguma de Jesus de Nazaré, seus doze apóstolos, Paulo e tudo mais que é descrito e aceito como histórico. Como isto só existe no NT seria científico tal acatamento pelos nossos renomados historiadores? Como puderam acatar aquilo que a história não confirma?

A mentira é uma anomalia para a psique humana, tanto que possibilitou a invenção do polígrafo, o popular detector de mentiras. A luta interior não permite a perfeição no ato de se enganar com totalidade. Todavia, quando imposta da maneira que foi, aliada ao sistema sensível humano, acaba virando “verdade” por estar interligada à realidade íntima do crente.

Os nossos renomados historiadores não tinham a intenção de esconder nada ao favorecerem o cristianismo, mas de confirmar uma versão falsa que para eles não era assim, pois favorecia a crença da qual compartilhavam. Por isso, é perfeitamente possível reconstruir o que esteve oculto por tanto tempo utilizando os mesmos livros.

O único historiador crente que conheço que questionou abertamente a história do cristianismo foi Edward Gibbon (1737-1794). Criticava Justino, tanto pela inabilidade dele como escritor, e dos apologistas que o sucederam, como lhe atribui o hábito de confundir a realidade com seus desejos e apelar para o recurso da fraude.

“Tal exame, todavia, por mais útil ou recreativo que seja, depara com duas dificuldades peculiares. Os minguados e suspeitos elementos de informação propiciados pela história eclesiástica raramente nos possibilitam desfazer a nuvem escura que pesa sobre os primórdios da Igreja. A grande lei da imparcialidade nos obriga com frequência, outrossim, a revelar as imperfeições dos insípidos mestres e crentes do Evangelho; e, para um observador descuidoso, os defeitos deles parecem lançar uma sombra sobre a fé que professam”. (GIBBON, 2005, p. 235)

O intelectual Maurice Lachatre (1814-1900) se queixava também da falta absoluta de historiadores verídicos e da multidão de livros em grego e latim como um obstáculo ao julgamento pessoal. (LACHATRE, 2004, p. 36)

É o vencedor quem conta a história. Mas também é ele quem a redige e ensina. Houve um confronto cultural no passado e o vencedor prefere não tocar no assunto. Na sequencia dos meus comentários optei por apresenta-lo aos caros colegas não antes de concluir o assunto que ora encerro, a despeito da impaciência do Leonardo. Escolhi para tanto um pensamento de Raymond Aron (1905-1983), reconhecido sociólogo francês, colega de Marrou e Sartre na École Normale Supérieure, em Paris.

A verdade histórica é a mais ideológica de todas as verdades científicas […] Os termos de subjetivo e de objetivo já não significam nada de preciso desde o triunfo da consciência aberta […]. A verdade histórica não é uma verdade subjetiva, mas sim uma verdade ideológica, ligada a um conhecimento partidário”. (ARON cit.por Marrou, s/data, p. 269).

Como ponto final para uma história de mentiras, nada mais adequado do que a opinião de um reconhecido especialista.

 

“Numa Grande Mentira há sempre uma certa força de credibilidade; porque as extensas massas de uma nação são mais facilmente corrompidas […] e assim na primitiva simplicidade de suas mentes eles mais prontamente caem vítimas de Grandes Mentiras do que de pequenas mentiras […] Nunca ocorreria às suas cabeças fabricar mentiras tão colossais e eles não podem acreditar que outros possam ter a imprudência de distorcer a verdade tão infamemente. Nunca ocorreria às suas cabeças fabricar mentiras tão colossais e eles não podem acreditar que outros possam ter a imprudência de distorcer a verdade tão infamemente. Mesmo que os fatos que provem que tal foi o que ocorreu possam ser apresentados claramente às suas mentes, eles, mesmo assim, duvidarão, hesitarão e continuarão pensando que deve haver uma outra explicação.” (Adolf Hitler, Mein Kampf, vol I, ch X)

Para mostrar as quantas andavam gregos, judeus e romanos no século I, optei por dissecar as informações de um parágrafo de Will Durant, que já apresentei em outro fórum do CH. Para facilitar aos colegas e ninguém precisar ficar procurando em nossas páginas, aqui vai novamente.

 

Essa separação religiosa e racial combinou-se com as rivalidades econômicas e despertou, por volta do fim desse período, um movimento anti-semita em Alexandria. Os gregos e os egípcios, afeitos à união da igreja e do estado, não viam com bons olhos a independência cultural dos judeus; além do mais, sentiam a concorrência do artífice ou do negociante judeu e ressentiam-se ante da tenacidade habilidade daquela gente. Quando Roma começou a importar trigo egípcio, eram mercadores judeus de Alexandria que em seus barcos transportavam o produto. Percebendo os gregos que haviam fracassado na helenização dos judeus, começaram a temer pelo próprio futuro, num estado em que a maioria continuava persistentemente oriental e se reproduzia com intensidade. Esquecidos da legislação de Péricles, queixavam-se de que as leis judaicas proibiam o cruzamento racial, e os judeus raramente se casavam fora das famílias judias. A literatura anti-semita cresceu. Maneto, o historiador egípcio, espalhou a história de que os judeus haviam sido expulsos do Egito, havia muitos séculos, por sofrerem de escrófula ou lepra. O preconceito anti-semita intensifica-se de ambos os lados, e no século I da era cristã estalou com grande violência. (DURANT, 1971, p. 468)

DURANT, Will. César e Cristo. Rio de Janeiro: Record, 1971.

Durant foi mais filósofo do que historiador e era um cristão que possuía uma visão grande angular. Também, este parágrafo que ele escreveu foi o único que se prestou a demonstração que pretendo fazer aqui. Assim, o comentarei a cada informação substanciando-as com exemplos tomados de outros historiadores.

 

 “Essa separação religiosa e racial combinou-se com as rivalidades econômicas e despertou, por volta do fim desse período, um movimento anti-semita em Alexandria.

A questão da rejeição dos judeus (e aos judeus) era antiga e ficou como um espinho encravado no orgulho heleno. Era assim que eles se chamavam. De grego, chamavam-nos os romanos. O ideal universal helenístico de Alexandre Magno pretendia reunir a humanidade num único povo, com uma única cultura, um único deus e um único governo. Qualquer semelhança com a pretensão cristã não é mera coincidência. A isso os judeus disseram não. Queriam continuar com suas crenças e o tradicional modo de vida.

Os gregos viam seu oikoumenê, isto é, o universo civilizado onde suas idéias prevaleciam, como uma sociedade multirracial e multinacional, e aqueles que recusavam a aceitá-lo eram inimigos do homem. Em sua grande ofensiva contra o judaísmo mosaico, Antíoco Epífanes jurou abolir as leis judaicas “prejudiciais” à humanidade, e ele sacrificou porcos sobre os livros sagrados judaicos”. (JOHNSON, 1989, p. 138)

A concessão do status de religio licita ao judaísmo, por Júlio Cesar no século anterior ao que ora exploramos, em agradecimento aos favores políticos e militares prestados por João Hircano, sumo sacerdote judeu, e por Antípatro, idumeu agregado aos judeus e pai de Herodes, militar que comandava as tropas judias. O status de religio licita tinha o reconhecimento do estado independentemente de quem fosse o governante. Uma concessão que em nada agradara aos gregos e cujo desagrado ficaria mais evidente nos acontecimentos da segunda metade do século I.

Enquanto os judeus assim desfrutavam de governo próprio, pareceu a Roma que, lisonjeando-os nessa posição, eles seriam menos cansativos que os gregos e mais aptos a suportar o poder administrativo. Por isso, Augusto, ao mesmo tempo em que refreava os gregos alexandrinos, confirmava os privilégios judaicos.” (GRANT, 1977, p. 61).

Quando os romanos modificaram as definições de status junto à população de Alexandria, novas categorias foram estabelecidas e repercutiram diretamente na cobrança de impostos dos quais cidadãos alexandrinos estavam isentos. Para obter a cidadania alexandrina era necessário provar ascendência helenizada paterna e materna. A partir da revisão romana, a taxação demarcou ainda mais a diferença entre as comunidades. Os egípcios foram sujeitos às taxações mais elevadas porque eram considerados elementos de menor nível social. Tais inovações desencadearam um conflito por status, principalmente entre os gregos e judeus, porque estes começaram a conquistar privilégios antes restritos àqueles. Os judeus reinvindicaram aos romanos a cidadania alexandrina para pagarem o mesmo que os gregos, o que foi considerado por estes um absurdo. Confrontos sangrentos resultaram daí, não só em Alexandria, mas em Cirene e Chipre em diversos momentos. Segundo os críticos dos judeus eles estavam querendo sempre mais. (CLÌMACO, Joana, d/m).

Os romanos não se envolviam nas questões entre gregos e judeus quando não perturbavam a ordem pública. No entanto, os acontecimentos em Alexandria pediram medidas mais enérgicas para que o problema não se disseminasse por todo império. Aqui vai a transcrição de um papiro recuperado no Egito com uma severa advertência de Cláudio a gregos e judeus.

 

“Quanto à vossa rebelião ou quebra de paz, conquanto relutante em examinar as responsabilidades demasiado profundamente, acumulei em mim implacável cólera contra quem quer que provoque nova perturbação. Digo-vos francamente que, se não detiverem essa suicida e fanática disputa com todos os outros, ver-me-ei forçado a mostrar o de que um príncipe humano pode ser capaz, quando concentra justa indignação.”

“E no ano de 53 d.C., dois dirigentes antijudeus, cujo caso Cláudio acedera em ouvir, foram condenados à morte e canonizados como mártires anti-semíticos.” (GRANT, 1977, p. 61)

É curioso que o estudo “científico” da história tenha negligenciado aspecto tão importante para a elucidação do quadro que envolve os principais povos figurantes no NT. Quando muito poucas e pequenas referencias podem ser encontradas relacionadas à insatisfação grega com o domínio romano. Ainda assim, esparsamente e fora de um contexto aprofundado com o estudo das suas causas e efeitos.

 

 

Os gregos ou grecizados orientais [anatolianos] achavam-se bastante mais articulados e sentiam o conflito ideológico com mais intensidade. Mas mesmo entre eles a extensão do sentimento anti-romano não é de modo algum fácil de avaliar, uma vez que a grande maioria dos escritores gregos – como a maioria dos escritores latinos – pertencia às classes cultas, prósperas e leais e, portanto, não refletiam habitualmente (mesmo pelos métodos indiretos de Dio Crisóstomo) tudo o que virulentamente existia de sentimentos anti-romanos. (GRANT, p. 78)

Pior ainda ocorre com informações relacionadas ao negado confronto cultural daqueles com os judeus. A guerra romano-judaica de 66-70/3 mais parece uma armadilha grega contra o judaísmo do que outra coisa. Os judeus não consideravam os galileus como iguais. “[…]. Geralmente, porém, Josefo faz distinções claras entre os galileus e idumeus e os judeus como ethnoi ou povos distintos”. (HORSLEY, 2000, p. 33) Eram os galileus os oprimidos e explorados pelos romanos e pelos judeus (com os impostos do templo). Os zelotes e o messianismo eram galileus, e não judeus. Até hoje os judeus negam esse messianismo inventado e no meio judaico “galileu” é sinônimo de bandido.

“[…]. Consequentemente é importante compreender que a revolta judia contra Roma era, no fundo, um conflito entre a cultura judaica e a grega.” (JOHNSON, p. 124)

Os gregos e os egípcios, afeitos à união da igreja e do estado, não viam com bons olhos a independência cultural dos judeus; além do mais, sentiam a concorrência do artífice ou do negociante judeu e ressentiam-se ante da tenacidade habilidade daquela gente. Quando Roma começou a importar trigo egípcio, eram mercadores judeus de Alexandria que em seus barcos transportavam o produto.

Originalmente a tradição helênica não privilegiava a religião no exercício do governo, como os orientais. Não havia uma casta de sacerdotes dirigindo ou influenciando os costumes e as decisões dos cidadãos. No entanto, na chamada fase helenística, quando elementos da cultura oriental se mostram eficientes como auxiliares da produção de bens e controle social, tudo mudou. Claro que não devemos restringir a isso, mas abemos que é bem por aí.

Na confrontação da Grécia com o Oriente, provocada pela conquista de Alexandre, é difícil medir o que é que o Oriente forneceu à civilização helenística, por assim dizer nada na literatura e na ciência, um pouco mais na arte e na filosofia e quase tudo na religião”. (LÉVÊQUE, 1967, p.160)

 A experiência grega anatoliana na Ásia Menor confirma isso, quando o ato de privilegiar os cultos indígenas com a construção de templos suntuosos e a participação da sociedade helênica nas procissões desses cultos sincréticos obteve ótimo resultado. Era o único momento na vida de um trabalhador humilde que ele compartilhava de um esplendor de beleza e riqueza dos homens por uma graça divina. Dá para imaginar o impacto psicológico disso no sentimento dele.

O não comparecimento de um cidadão, sem uma aceitável justificativa, era duramente censurado. Não pela falta ao suposto deus, mas pela falta ao interesse comum de preservar algo que contemplava a todos. Era um cimento social muito forte e uma boa oportunidade de exibir prestígio. Quando Augusto esteve em visita a Ásia Menor encontrou templos que se erguiam em sua homenagem, como se fazia para os reis antigos, em Pérgamo e Nicomédia.

Havia um culto que estava preste a se espalhar por toda a Ásia Menor, inicialmente. Augusto havia sido elevado pelos espertos gregos anatolianos à condição de um deus, tomando o deus pai todo poderoso, Zeus, como modelo. Havia o cuidado para que a devoção não se traduzisse apenas em algumas cidades, mas em toda a Ásia grega. Jogos solenes foram organizados em honra de Roma e de Augusto e altares foram devotadamente erguidos. (FERRERO, 1965, p. 136)

Ao desembarcar na Ásia Menor, Augusto entrara em contato com uma das três maiores regiões industriais do mundo antigo, e que eram, precisamente, a Ásia Menor, a Síria e o Egito”.  (FERRERO, 1965, P. 138)

Essas três regiões estavam tradicionalmente sob o domínio cultural e econômico grego. “Na Ásia Menor, na Síria e Egito, onde a classe média e as instituições cívicas helênicas se haviam enraizado (…).” (TOYNBEE, 1983, p. 215).

Esse culto era uma novidade estranha, a adoração de um deus vivo era apenas praticada no Egito, o costume na Ásia Menor era incluí-los na legião dos deuses somente depois de mortos. Por que esse costume egípcio surgira repentinamente? Por que, enquanto na Itália se tentava restaurar a república, essa planta de solo monárquico enroscava-se como hera no primeiro magistrado da república? (FERRERO, 1965, p. 138). “[…] a visão egípcia do mundo procede de uma alta magia de Estado, coerente, raciocinada, admiravelmente perceptível e serena.” (YOYOTTE cit. por JACQ, 2001, p. 19).

 

“O maior centro de magia do Egito era provavelmente a cidade santa de Heliópolis, a cidade do Sol (à altura do Cairo), onde se elaborava a mais antiga teologia. […]. A maior parte dos sábios e dos filósofos gregos dirigiu-se a Heliópolis para lá receber comunicação de uma parte dessa ciência acumulada durante séculos. Foi ali, nomeadamente, que Platão tomou conhecimento da lenda da Atlântida que fez correr tanta tinta e cujo verdadeiro significado ainda hoje nos é desconhecido, e só pode ser deduzido dos textos egípcios.” (JACQ, 2001, p. 19 – 20).

A partir de os romanos iniciarem o avanço sobre o mundo grego, no século II a.e.c., os judeus da Palestina se veriam em melhor situação do que sob os Selêucidas. Os gregos deixariam de serem os senhores do Mediterrâneo e os judeus aproveitariam para expandirem seus negócios. O Senado Romano tinha um bom relacionamento com os ashmonenos antes da anexação por Pompeu, em 63. Porém com a continuação do domínio romano, a concessão de Júlio Cesar do status de religio licita ao judaísmo, houve uma sensível melhora em termos de oportunidades individuais. No geral, os judeus viviam bem. Gozavam de direitos que nenhum outro povo dominado desfrutava: isenção do serviço militar, isenção de cultuar o imperador como um deus e podiam recolher seus impostos ao templo sem embaraços.

Percebendo os gregos que haviam fracassado na helenização dos judeus, começaram a temer pelo próprio futuro, num estado em que a maioria continuava persistentemente oriental e se reproduzia com intensidade. Esquecidos da legislação de Péricles, queixavam-se de que as leis judaicas proibiam o cruzamento racial, e os judeus raramente se casavam fora das famílias judias.

Segundo o professor Uriah Zevi Engelman os judeus constituíam, no mundo clássico, de oito a dez por cento da população. Se a mesma proporção fosse mantida atualmente em relação à população total, haveria mais de dez vezes mais judeus nas terras que foram outrora parte do Império Romano. (RATTNER, 1972, p. 23) O povo judeu era o único povo que, como o grego, se encontrava numerosamente espalhado pelo mundo inteiro.

A área da dispersão é considerável! Foi possível avaliar em 8 milhões a população judaica mundial na época helenística. Ela está principalmente agrupada em 4 zonas: Babilônia, Síria, Anatólia, Egito, possuindo cada uma delas mais de 1 milhão de judeus. Mas encontram-se igualmente em grande número na Cirenaica, nas ilhas do Egeu, na Grécia e até na África, na Itália, na Hispânia. Registram-se conversões por toda parte – sobretudo das mulheres, porque muitos homens consideravam a circuncisão repugnante – e forma-se uma categoria de meio-convertidos, os sebómenoi (os que temem a Deus)”. (LÉVEQUÊ, 1967, p. 50)        

“Os sebómenoi, também denominados “metuentes” ou prosélitos da porta, pois assistiam aos serviços religiosos no fundo da sinagoaga, muitas vezes, convertiam seus filhos ao judaísmo, circuncidando-os e integrando-os de forma plena”. (FELDMAN, p. 4)

A concessão romana ao judaísmo do status de religio licita, o progresso econômico-financeiro das famílias judias estimulou ainda mais o crescei e frutificai. A despeito da influencia grega o persistente judaísmo prosseguiu influenciando locais e gregos menos favorecidos com seu proselitismo. É fácil imaginar, pois em todo mundo antigo quase todos falavam grego ou o koiné. A pregação nas sinagogas era nessa língua e os deuses gregos prometiam nada, enquanto o deus de Israel prometia tudo a quem cumprisse as suas leis.

 

“[…] Podemos assim descobrir, sobretudo nos escritos mais recentes do Antigo Testamento, certo encontro e certa superposição de estratos culturais hebraicos e gregos. Não obstante, importa afirmar que a cultura hebraica conservou sua vitalidade própria e consistente. Finalmente, desenvolveu-se uma certa forma de cultura mista que “não é nem hebraica nem grega, mas, sim, helenística” (Thorleif Boman cit. Por LÄPPLE, 1973, p. 74).

 

Muitos gregos e grecizados já estavam acostumados com muitas das concepções judaicas. O avanço do proselitismo e as conversões nos faz crer que o temor grego de que o mundo se judaizasse era real. Alguma providencia devia ser tomada para conter essa escalada que inicialmente contava com a proteção romana. Se os helenos não mexessem os pauzinhos por trás das cortinas estriam perdidos. Parece que a única saída seria usar a força do adversário contra ele mesmo. Tradicionalmente na cultura helênica, religião era coisa de mulher e escravo. No repertório grego não havia nada voltado para as massas, principalmente tão poderoso quanto o AT, que pudesse oferecer resistência.

A literatura anti-semita cresceu. Maneto, o historiador egípcio, espalhou a história de que os judeus haviam sido expulsos do Egito, havia muitos séculos, por sofrerem de escrófula ou lepra. O preconceito anti-semita intensifica-se de ambos os lados, e no século I da era cristã estalou com grande violência”. (DURANT, 1971, p. 468)

DURANT, Will. César e Cristo. Rio de Janeiro: Record, 1971.

Conta-se que Maneton era um historiador e sacerdote egípcio, possivelmente greco-egípcio, que por encomenda de Ptolomeu I Soter (salvador) teria ajudado a conceber um novo deus – Serápis – para unir gregos e egípcios. O símbolo desse deus era a cruz e seus devotos eram chamados de cristãos. Maneton escreveu a história do Egito (Aegyptiaca) na qual se refere pejorativamente aos judeus.

Trecho da carta do imperador Adriano a seu cunhado o cônsul Serviano.

“Queridíssimo Serviano, o Egito que tanto elogiavas parece-me ser leviano, vacilante e borboleteador entre os rumores de cada momento. Os que adoram a Serápis são cristãos. E os que dão o título de bispos de Cristo são devotos de Serápis. Não há chefe da sinagoga dos judeus, nem samaritano, nem presbítero cristão, que não seja também numerólogo, adivinho e saltimbanco. São gente altamente sediciosa, vã e injuriosa, e sua cidade é rica, opulenta, fecunda. Nela ninguém está ocioso. Uns sopram vidro, e outro fabricam papel, e todos parecem ser tecedores de linho ou têm algum ofício. Têm trabalho os reumáticos, os mutilados, os cegos e até os inválidos. O único deus de todos eles é o dinheiro, a quem adoram os cristãos, os judeus e toda classe de pessoas” (GONZALEZ, 2003, p.117).

Outro autor se refere a essa dificuldade entre gregos e judeus que justificaria a referência pejorativa de Maneton, no século III a.e.c., foi GRANT.

“A hostilidade entre gregos e judeus no Egito foi intensa ? de longe a mais séria tensão inter-racial do Império. Surgido pelo menos nos primeiros anos do século terceiro a. C., o anti-semitismo pagão brotou do exclusivismo judaico e do consequente ressentimento das cidades gregas contra um povo que recusava tomar parte nos seus interesses sociais e divertimentos. (GRANT, 1977, p. 61)

É inegável que a campanha difamatória contra os judeus no século I apresenta claras características de uma reação cultural helênica que não pode ser minimizada como se fosse fruto de incidentes isolados, como querem alguns. Reação que não ficou limitada aos boatos perversos que visavam incitar o ódio popular.

 

“Eles (os judeus) raptavam um grego, engordavam-no durante um ano e então o conduziam para uma floresta, onde eles o matavam, sacrificavam seu corpo de acordo com seus rituais costumeiros, partilhavam sua carne e, enquanto imolavam o grego, faziam um juramento de hostilidade contra todos os gregos. Os restos de sua vítima eram lançados num buraco”. (Josefo, Contra Apionem)

 

Outro aspecto importantíssimo no estudo dessa campanha difamatória se prende também às formas de expressão religiosa. O deus de Israel foi execrado como um maligno que trouxe almas ao mundo desditoso da matéria. Devia ser repudiado como o povo que o seguia.

“[…] Muitas seitas pagãs desse período eram, também, violentamente antijudaicas, e as de tendências dualistas identificaram ‘o execrável deus dos judeus’ com o poder maligno de Saturno e com o Diabo.” (GRANT, 1977, p. 63).

Foi desse ambiente conturbado que mais tarde, no século II, surgirá o cristianismo do meio dessas seitas desorganizadas, com a perspicácia de homens como Irineu, que percebeu a impossibilidade de combater o judaísmo sem o deus de Israel. Sem aquele deus, sem o AT. Derrota na certa. “A unidade e a existência do cristianismo dependiam do Antigo Testamento que preparava a humanidade para o dom do Espírito”. (IRINEU cit. por DANIÈLOU, 1966, p. 129).

O sentimento antijudaico jamais se apartará da religião cristã. Trataremos melhor desse assunto na seguinte postagem. A sua origem grega não revelada retém esse segredo de um ódio milenar que não se explica somente nos evangelhos. “As palavras mais autênticas do Senhor dos Evangelhos não são as palavras judaicas, mas sim as não-judaicas e as anti-judaicas”  (STAUFFER cit. por LÄPPLE, 1973, p. 84)

Além disso, como nos tempos atuais, o anti-semitismo era estabelecido não só pelo boato vulgar mas também pela propaganda deliberada de intelectuais. Por certo, no primeiro século d.C. o sentimento antijudaico, que crescia constantemente, era, em grande escala, a obra dos escritores, sendo a maioria deles os gregos”. (JOHNSON, 1989, p. 138)

 

“A maioria desses intelectuais procedia de cidades gregas da Ásia Menor, da Síria e do Egito gregos: Clearco de Soli (filósofo da escola de Aristóteles), Diodoro Sículo (historiador), Queremon (historiador), Lisímaco, Apolônio Mòlon (retor), Apion (professor de literatura e escritor)entre outros tantos” (MESSADIÉ, 2003, p. 42, 446, 47, 50).

Finalizando, como eu havia comentado anteriormente que a guerra romano-judaica de 66-70/3 mais parecia uma armadilha grega contra o judaísmo, na qual JOHNSON reconhece o conflito entre as duas culturas, uma vez que tal situação se arrastava desde o século III a.e.c. e só vai virar notícia no século I da e.c., em Alexandria, creio não ter deixado dúvidas quanto a esse conflito cultural que a maioria de vocês nunca ouviu falar. Nada está explícito no que se refere a esses acontecimentos. Estudar história é trabalhoso mesmo. Talvez não devamos ter como exemplos historiados, mas policiais da polícia científica.

 

“[…] A extrema hostilidade entre estes judeus e os gregos egípcios (assim como os naturais do Egito) acabou por arrastar os judeus, também, para greves conflitos raciais com os romanos. […]” (GRANT, 1977, p. 60).

O cristianismo do NT só pode contar com referências não cristãs a partir do século II. Mesmo assim as críticas dos seus adversários não judeus, como Celso, Luciano de Samósata e Porfiro, são tardias, nenhum deles pertenceu ao século I. Tais críticas só aparecem a partir do final da segunda metade do século II. Justino, que escreve no século II, acusa os judeus de maldizerem os cristãos em suas sinagogas. A pretensão histórica ao século I sempre ofereceu dificuldades quanto à confiabilidade das datações dos documentos cristãos.

 

“Durante a primeira metade do século II, verifica-se uma excessiva pobreza de fontes e um silêncio quase total dos ecritores greco-romanos sobre a nova religião, porém esta situação se modifica nos começos da segunda metade desse século.” (LENTSMAN, 1963, p. 168).

“Resta, no referente ao século IV, a admirável floração, função dos Padres da Igreja, tanto gregos como latinos. Não haverá inconvenientes em encará-los agora, e sob o ângulo da literatura. Sem dúvida, eles escrevem, alguns com grande abundância, e ouvintes atentos estenografam frequentemente suas próprias palavras a fim de assegurarem a publicação. […]. Não há vida sem luta: nos séculos II e III os primeiros escritores cristãos tiveram de polemizar contra os inimigos exteriores: após o triunfo, coube-lhes defender a fé contra a heresia e, ao mesmo tempo, instruir seus fies e guiá-los numa vida terrena semeada de emboscadas. O dogma, o ensino, a moral, eis os objetos de seus tratados doutrinais, de seus sermões e suas cartas.”   (AYMARD; AUBOYER, 1974, p. 62)

A mesma informação por fontes diferentes é algo significativo. A inexististência de escritores cristãos no século I soma-se a outras informações que contradizem o que é ensinado.

“A única referência a um Evangelho cristão antes do ano 150 é a de Pápias, que lá por 135 fala em um desconhecido “João, o Velho”, a dizer que Marcos havia composto seu Evangelho com base no que Pedro contara”. E Pápias acrescenta: “Mateus transcreveu em hebraico a Logia” (DURANT, 1971, p. 435).

“Os evangelhos canônicos são mencionados pela primeira vez nos escritos de Pápias, apologista cristão da primeira metade do século II. Eusébio assinala na obra citada (III, 39) que Pápias criticava os escritos de Marcos e, em parte, os de Mateus.” (LENTSMAN, 1963, p. 179, 180)).

“[…] o Novo Testamento – um processo que ocorreu ao longo de 200 anos (de cerca de 160 a 360) […]” (PAGELS, 2004. p. 46).

Pelo que foi exposto até o momento, entre os povos antigos que tinham motivos e condição para criar uma nova religião universal, como resposta ao século I, era o grego. Culturalmente o mundo ainda pertencia a ele. Parecia que tudo o que era grego era bom.

 

 “O império deles, através do progresso das colônias e da conquista, se difundira desde o Adriático até o Eufrates e o Nilo. A Ásia estava coberta de cidades gregas, e o longo reinado dos soberanos macedônios causara uma revolução silenciosa na Síria e no Egito. Em suas cortes pomposas, esses príncipes uniam a elegância de Atenas ao luxo do Oriente, e o exemplo da corte era imitado, a humilde distância, pelas camadas mais altas de seus súditos.” (GIBBON, 2005, p. 63)

Não haveria dificuldades maiores para que qualquer sincretismo patrocinado por ele obtivesse sucesso, senão o profundo corte na própria carne se quisesse mudar para permanecer no comando e no topo do mundo, como há muito estavam. Os antigos costumes helenos teriam que dar lugar à severidade judaica.

Um século depois da morte de Alexandre (323) os hábitos e costumes de todo o Oriente estavam impregnados de helenismo. As escolas gregas, os teatros gregos, os banhos gregos, as instituições gregas de todo tipo, podiam ser encontrados em todas as cidades do Oriente”. (MONROE, 1978, p.71–72)

Do lado judeu, não se tem notícia da pretensão de uma reforma religiosa. Nenhuma seita judia propunha uma nova religião ou coisa parecida. O que certamente havia, era da parte dos gregos o anseio de que essa religião parecesse judia. Oriunda de uma das suas seitas em confronto com o templo seria a versão perfeita, justificada pelas formas marginais do judaísmo entre os descendentes dos povos convertidos. Destacam-se galileus e samaritanos, povos que odiavam os judeus. Ódio igualmente oportuno.

 

“[…] Parece que a Galiléia, a Samaria e a Transjordânia se transformaram em centros de grupos dissidentes, simonianos, zelotes ou ebionitas, todos eles reflexos de formas marginais do judaísmo”. (DANIÉLOU; MARROU, 1966, p. 45)

 Como o judaísmo se beneficiava do status de religio licita, nada mais natural que seus adversários gregos desejassem uma equiparação para ultrapassarem o judaísmo em igual condição. Convencer a todos de tal origem era fundamental e não deve ter sido difícil, senão aos próprios judeus mais informados. Um antídoto era a única salvação para os gregos que não tiveram dificuldade em sintetizá-lo. O cuidado dos cristãos, que mesmo odiando afirma a linhagem judaica, é facilmente percebido no desenrolar desses fatos, quando identificada a origem histórica do desapreço aos judeus.

“O grego era poeta e artista, apto para imaginar fábulas e formas cheias de encanto, de graça e vida. Era sábio e filósofo, inclinado a levar até à extrema audácia a reflexão sobre o universo, sobre a natureza e sobre si mesmo. Repartiam-se entre uma tendência racionalista, que o conduzia às mais ousadas negações, e uma tendência mística, que seu antigo e ininterrupto contato com o Oriente sempre alimentara, mas à qual a simbiose criada pela conquista de Alexandre atribuía vigor especial.” (AYMARD; AUBOYER, 1974, p. 200). 

Desconheço imitação que não se pareça com o original. O engodo da comparação do pensamento grego como o judaico é pura retórica. No caso, em nada se presta ao conhecimento histórico. A ideia é complicar mesmo, dificultar para que o estudante não chegue a uma conclusão indesejável. Não menos insincera é a afirmação de que os evangelhos foram escritos originalmente em aramaico. Esta afirmação já foi desmentida por diversos estudiosos.

“Do verdadeiro texto das sentenças de um Jesus histórico, nada temos. Ele supostamente falou a seus seguidores e outros caminhantes em aramaico, e exceto quanto a umas poucas frases espalhadas pelos evangelhos. Nenhuma dessas sentenças aramaicas sobreviveu. Durante algum tempo fiquei a me indagar como isto podia ser assim, e me indaguei ainda mais na medida em que os estudos cristãos nunca participaram da minha indagação. Se você acreditasse na divindade de Jesus, não desejaria ter preservado as verdadeiras sentenças aramaicas que ele pronunciou, já que elas eram para você as palavras de Deus? Mas o que foi preservado foram traduções gregas dessas sentenças, e não as próprias sentenças aramaicas. Será que se perderam, para serem encontradas em uma gruta em alguma parte de Israel? Nunca foram escritas, de modo que os textos gregos foram baseados apenas na memória? Já faz alguns anos que faço essas perguntas sempre que encontro um estudioso do Novo Testamento, e até agora só encontrei vazio. No entanto, este quebra-cabeças com certeza tem importância. Aramaico e grego são línguas muito diferentes, e as nuances de espiritualidade e de sabedoria não se traduzem prontamente de uma para outra. […](BLOOM cit. por MAYER, 1993, p. 126).

 

“Mack (Burton) com justeza enfatiza que todo texto que temos de Jesus é atrasado; eu diria um pouco além e os consideraria angustiantemente “tardios”. De fato, retorno à minha questão inicial sobre nossa falta de texto aramaico do que Jesus disse: não é um extraordinário escândalo que todos os textos decisivos do cristianismo sejam tão surpreendentemente tardios?” (BLOOM cit. por MAYER, 1993, p. 127).

Desconhecesse-se um único nome de judeu no alegado processo de transição do cristianismo do judaísmo para o mundo grego. Para o judaísmo o cristianismo é uma religião pagã, portanto não surgiu de suas fileiras. Não é judeu. A igreja primitiva era basicamente grega. As principais lideranças cristãs eram de origem grega. Repudiavam os judeus, mas não abriam mão dos livros sagrados deles, quando o que é dos adversários se desdenha. Fizeram de tudo para tomarem o AT deles e desconverter os que haviam bandeado para o judaísmo e ministrar ao mundo o novo remédio.

 

“A atitude de Justino em relação ao judaísmo é dúplice. De um lado, reconhece sem reservas o Velho Testamento, considera Jeová como Deus-Pai, e acentua que os profetas hebreus eram imcomparávelmente superiores aos a qualquer dos filósofos gregos.”

“De outro lado, este apologista não oculta sua hostilidade contra os judeus enquanto nação acusa-os de difundir calúnias absurdas contra os cristãos, de maldizer estes últimos em suas sinagogas etc. Segundo justino, a lei judaica perdeu sua autoridade depois do advento de Jesus, ideia essa que coincide inteiramente com o espírito das primeiras epístolas paulinas. […]” (LENTSMAN, 1963, p. 157)

“[…] Irineu se volta para a questão prática de quem cultua a Deus corretamente e quem não cultua. Primeiro, diz ele, os judeus não cultuam, pois se recusaram a ver que “o verbo do Senhor” que falou a Abraão e a Moisés foi nada mais, nada menos, do que Jesus Cristo. […]

 

Visto que não reconhecem Jesus como “o Deus que falou em forma humana” a seus ancestrais, os judeus, diz Irineu, foram deserdados por Deus, que os privou do direto de serem sacerdotes. Embora continuem a venerá-lo, Deus rejeita suas oferendas, assim como rejeitou as de Caim, pois exatamente como Caim matou Abel, os judeus “mataram o Justo” – Jesus -, portanto, “têm as mãos cheias de sangue”.

 

Os judeus, portanto, cultuam Deus em vão, pois ele transferiu o sacerdócio deles para quem reconheceu o seu “verbo” – ou seja, os apóstolos, a quem Jesus ensinou a fazer “o sacrifício do novo pacto” quando lhes disse que oferecessem o pão a que chamou de seu corpo e o vinho a que chamou de seu sangue. Desde que Jesus morreu na cruz, a eucaristia que reencena o seu sacrifício é o para-raios que atrai o poder de Deus para a Terra. […].  (PAGELS, 2004, p. 160)

Essa evidência de uma conspiração teve o respaldo do destino, com a importação de grande número dos talentosos e cultos escravos anatolianos que projetaram e construíram a nova Roma do império. Já no final do século I os habitantes daquela cidade em nada se assemelhavam aos de outrora. Não abriram mão do orgulho da própria origem e continuaram falando grego, como seus ascendentes. Motivo da Roma bilíngue da qual ouvimos falar na escola.

 

“Possivelmente ? embora não passe de uma suposição ? noventa por cento da população de Roma, no ano 100, era formada de não italianos de origem escrava. Os romanos do principado constituíam uma raça nova e cosmopolita, diferente na composição étnica dos italianos que havia no passado […].” (GRANT, 1977, p. 123).

Foi, justamente, na segunda metade do segundo século, sob o reinado de Antônio Pio (138-161), soberano muito tolerante com os cultos estrangeiros, que os propagandistas cristãos começam a chegar à capital do Império, vindos em sua maioria da Ásia Menor, para prepararem àqueles que, além de formarem a continuidade dos seus descendentes, se tornariam os futuros homens da igreja. Marcião (Ponto) chega em 140, Justino (Samaria) em 150, Policarpo (Anatólia) em 155 e Hegesipo (Anatólia) em 160. Praxéas (Cartago), Epígono (Anatólia), Teódoto (Anatólia) para lá se dirigem. No final do século II são muitas as escolas cristãs de Roma. “No fim do segundo século, temos em Roma uma pululância de escolas.” (DANIÉLOU; MARROU, p. 125).

“[…] Mas a Hélade conquistadora não conseguiu cativar a Jerusalém cativa, e sua tentativa de introduzir a civilização, tal como a entendia, na Judéia rústica, foi rejeitada com indignação. Por fim, a Hélade frustrada chegou a termos com a Judéia indomável, adotando uma versão helenizada da sua religião fanática. Esse tempestuoso encontro e a final união do helenismo com o judaísmo deram origem ao cristianismo o ao islamismo, duas religiões heleno-judaicas que são hoje professadas pela metade da raça humana”. (TOYNBEE, 1983, p. 173)

“O documento principal de que dispomos para conhecer as primeiras décadas da Igreja é constituído pelos Atos dos Apóstolos […]. Quem escreve é grego e escreveu para gregos […].” (DANIÉLOU; MARROU, 1966, p. 27)

Nunca será proibido acreditar na versão da origem do cristianismo do NT, como um dia o contrário já foi. Aqui ofereço uma opção a este estudo no qual me debrucei por um longo tempo. O fiz porque não vejo evento de maior importância na história ocidental, senão o advento do cristianismo. Espero que esse trabalho que, ora ofereço graciosamente aos colegas, lhes tenha alguma serventia.

Referências

AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine. História geral das civilizações. São Paulo:  Difusão Européia do Livro. 1974.

DANIÉLOU, Jean; MARROU, Henri. Nova história da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis: Vozes, 1966.

DURANT, Will. César e Cristo. Rio de Janeiro: Record, 1971.

FERRERO, Guglielmo. Grandeza e decadência de Roma. vol. I, Porto Alegre: Globo, 1965.

GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. Ed. abreviada. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

GONZALEZ, Justo L. A Era dos Mártires. São Paulo: Vida Nova, 2003

GRANT, Michael. História das civilizações: o mundo de Roma. Lisboa: Arcádia, 1977.

HORSLEY, Richard A. Arqueologia, história e sociedade na Galiléia. São Paulo: Paulus,  2000.

JACQ, Christian. O mundo mágico do antigo Egito. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2001.

JOHNSON, Paul. História dos judeus. Rio de Janeiro: Imago, 1989.

LACHATRE, Maurice. Os crimes dos papas. São Paulo: Madras, 2004.

LÄPPLE, Alfred. As origens da Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1973.

LENTSMAN, J. A origem do cristianismo. São Paulo: Fulgor, 1963.

LÉVÊQUE, Pierre. O mundo helenístico. Lisboa: Edições 70, 1967.

MARROU, Henri Irénée. Do conhecimento histórico. 2 ed.Lisboa: Áster, s./ data.

MESSADIÉ, Gerald. História geral do anti-semitismo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

MEYER, Marvin. O Evangelho de Tomé: as sentenças de Jesus. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.

MONROE, Paul.  História da educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978.

NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na Antigüidade cristã. São Paulo:

PAGELS, Elaine. Além de toda crença : o Evangelho desconhecido de Tomé. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

RATTNER, Henrique. Nos caminhos da diáspora. organização: Prof. Henrique Rattner. São Paulo: Centro Brasileiro de Estudos Judaicos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências  Humanas da Universidade de São Paulo,  1972.

REIS, José Carlos. História & Teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

TOYNBEE, Arnold J. Helenismo – História de uma civilização. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

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Ivani de Araujo Medina é um Homem com a percepção do descompasso existente entre a história e o favorecimento ideológico ao cristianismo.

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2 thoughts on “A Origem não Revelada do Cristianismo

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