Adolescente invadiu duas escolas no Espírito Santo, atirou em 11 pessoas e matou três professoras e uma criança

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Nelson Valente

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Sobre a ação do adolescente em Aracruz, por todos os canais abertos e fechados, pululam especialistas em tudo. Psicólogos, Psiquiatras, Psicanalistas Religiosos, Políticos Policiais e os “analistas” de tudo tentam emplacar uma “explicação”.

A informação é cada vez mais estilizada, pasteurizada, e os fatos recortados da realidade sem nexo, sem contexto, sem passado, sem história, sem memória, numa destruição clara da temporalidade, como se o mundo fosse um eterno videoclipe.

O máximo da violência moderna é o terrorismo, que ainda tem um sentido político. Mas a pós-moderna não tem sentido nem político nem psicológico. É um ato de ruptura, de um nonsense absoluto, uma explosão cega. É um “sair de si”, na linguagem da psicanálise.

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Aceitar que a violência possa ser banalizada e naturalizada é uma tentativa de diluir o seu impacto, seu terror; de se evadir de seus efeitos, de não se implicar com a existência de suas manifestações e com as possibilidades, por pequenas que sejam, de sua transformação. “Esta banalização da violência é, talvez, um dos aliados mais fortes de sua perpetuação.

Resignado à ideia, inculcada pela repetição do jargão de que somos ‘instintivamente violentos, o homem curva-se ao destino e acaba por admitir a existência da violência, como admite a certeza da morte.

A virulência deste hábito mental é tão daninha e potente que, quem quer que se insurja contra este preconceito, arrisca-se a ser estigmatizado de “idealista”, “otimista ingênuo” ou “bobo alegre”.

Que a violência aterrorize e que diante de uma cena assim todos pareçam dizer: “já que não é comigo não vou me meter”, que a solidariedade desapareça por um risco de se expor a própria vida, a isso já nos acostumamos!

O sujeito que sente medo no sonho não o vive como coisa própria, mas no episódio onírico haverá um outro personagem que viverá um estado de medo. Na realidade, o que se produz é um deslocamento da carga psíquica do sujeito para o objeto.

Na paranoia, a pessoa projeta sua agressividade, mas também o faz com outros afetos, sem se dar conta de que a essência de tudo está nela.

Um exemplo é o caso do menino que, diante da jaula dos leões no zoológico, diz: “Vamos embora, vovô, por que você está com medo.” Como ação específica de uma pulsão, a agressividade não é somente uma busca de destruição do objeto (atacar), mas também a mobilização com vista a realizar uma tarefa, sem matiz de destruição (atacar um problema).

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Nos últimos escritos de Freud, a agressão é derivada do instinto de morte, em oposição ao instinto sexual ou instinto de vida, Eros.

O desenvolvimento de Eros neutralizaria a agressão.

As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura. Muito mais desagradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer.

As emoções do cão, acrescentou Freud pensativamente, lembram-nos os heróis da Antiguidade. Talvez seja essa a razão por que inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis antigos, como Aquiles e Heitor.

Alguma coisa muito errada, maligna, se esconde nas entranhas da sociedade brasileira. Quando vem à tona, todo o mundo se pergunta como é possível que horrores assim ocorram num país como o Brasil.

Adolescentes ou adultos desequilibrados, malucos com manias conspiratórias e outras anomalias não são, obviamente, exclusividade americana. Não se encontra em outros países, contudo, nada similar em termos de explosão gratuita de violência assassina.

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Professores e colegas também não aquilataram o perigo, mas para isso pode haver uma explicação. No ambiente ferozmente competitivo das Escolas Públicas e Particulares, os alunos são virtualmente forçados a se agrupar de acordo com seu prestígio e seus talentos. No topo do microcosmo estão os atletas, os bons alunos com vaga garantida na universidade e as garotas bonitas.

A agressão física cedeu espaço ao trabalho de convencimento verbal do educador em relação aos seus alunos. Chegou o momento de compreender que é preciso dar tratamento de choque à nossa educação.

Agora, no entanto, parece que há uma crise na ciência do comportamento nas escolas brasileiras – chegam notícias de uma violência inaudita contra professores em sala de aula ou fora dela, sobretudo as de ensino médio.

A problemática da violência, seja aquela em que o jovem é vítima seja aquela que é protagonizada por ele, vem provocando crescente perplexidade e sendo objeto de grande preocupação no meio escolar. Em geral, violência é conceituada como um ato de brutalidade, física e/ou psíquica contra alguém e caracteriza relações interpessoais descritas como de opressão, intimidação, medo e terror.

A violência não pode ser reduzida ao plano físico, podendo se manifestar também por signos, preconceitos, metáforas, desenhos, isto é, por qualquer coisa que possa ser interpretada como aviso de ameaça, o que ficou conhecido como violência simbólica.

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A violência, provavelmente, sempre fez parte da experiência humana. Seu impacto pode ser mundialmente verificado de várias formas. A cada ano mais de um milhão de pessoas perdem a vida, e muitas mais sofrem ferimentos não fatais resultantes de autoagressões, de agressões interpessoais ou de violência coletiva. Em geral, estima-se que a violência seja uma das principais causas de morte de pessoas entre 15 e 44 anos em todo o mundo.

Com o avanço da psicologia e da psicanálise, que são relativamente recentes, valorizou-se o uso da palavra. Os professores e os pais mais esclarecidos repreendem os alunos e filhos faltosos com este instrumento poderoso e insubstituível de comunicação, que é a palavra.

Uma frase dita na hora certa pode valer muito mais do que os castigos, que provocam ira, o que é contraproducente no processo educacional. Quem tem paciência para pesquisar sabe disso.

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Como sobrevivemos nós a um cotidiano tão ameaçador para a vida? Que custo isso nos traz? Estes que morrem nas ruas, nas chacinas, nos assaltos, não são nossos parceiros de guerra? Ao menos cinco ataques a tiros ocorreram em escolas brasileiras desde 2019.

Pela extensão, o espetáculo macabro avançou um patamar no rol de explosões periódicas de insanidade. Volta e meia, malucos saem atirando contra multidões. Movidos por convicções obscuras.

O previsível, porém, é que gente muito desajustada no Brasil, sempre consegue acesso desimpedido às armas de fogo. Prefiro fazer uma previsão tristemente óbvia: “Há um grande número de outros garotos por aí que estão acumulando ressentimentos dentro de si, e fora do nosso alcance”. Ou seja: vai acontecer de novo.

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