O homem criava signos, seres e representações grandiosas, utópicas, oníricas, como deuses, dragões, heróis, seres divinos ou profanos

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Nelson Valente

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Deuses, Astronautas e Alienígenas? Já faz anos que exploro o mundo dos códigos e dos signos pelo estudo da linguagem, da comunicação, da psicanálise, do saber e de muitas outras formas. No entanto, nunca defini meu objeto! Porque cada linguagem propõe um paradigma de mundo diferente.

Quando jovem, meu professor de Semiótica, Naief Sàfady afirmou:

– “Nascemos apenas com uma ideia na cabeça e não fazemos outra coisa senão desenvolvê-la ao longo de toda a nossa existência.”

Disse para mim mesmo:

– “Será, então, que não é possível que haja uma mudança de vida?” Que reacionário! Perto dos 74 anos de idade, entendi que meu professor tinha razão: de fato, durante toda a minha vida persegui tão-somente uma única ideia. O único problema é que não sei que ideia é essa! Creio que estou chegando lá. De tanto me dedicar à semiologia, estou cada vez mais convencido da possibilidade de que o mundo não existe, de que ele nada mais é do que um produto da linguagem.

Houve momentos, no decorrer do século passado, que a filosofia se recusou a falar do mental sob o pretexto de que não podia vê-lo. Hoje em dia, com as ciências cognitivas, as questões do conhecimento – o que quer dizer conhecer, perceber, aprender? – tornaram-se centrais. Os progressos da ciência permitem tocar naquilo que antigamente era invisível, o que obriga a Semiótica questionar: como é que a linguagem estrutura a percepção que temos das coisas?

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A mente humana é um campo fértil para a propagação de ideias, é onde os anseios, os desejos de um indivíduo encontram seu apoio mais forte para se desenvolverem. É o campo de rompimentos com conceitos e de reorganização de sentidos.

O mundo era tangível e apreensível pela contemplação e pela indução, abarcado nas faculdades do imaginário. O homem criava signos, seres e representações grandiosas, utópicas, oníricas, como deuses, dragões, heróis, seres divinos ou profanos.

E de toda essa teia de signos regidos pelo regime da imaginação, nasceu o mito – a maneira de representar o mundo frente a uma consciência indutiva e representativa, num sentido de persistir, perdurar, de fixar um legado, algo a repercutir e não ser esquecido mesmo que possa ser distorcido.

O cérebro humano ainda é um mistério que não foi totalmente desvendado e isso implica no comportamento do ser humano dentro e fora de seu ambiente de trabalho. A mente humana é repleta de complexidades. Uma mesma ação pode causar dezenas de outras reações em uma dezena de pessoas diferentes. Cada uma tem uma forma de reagir a uma certa situação.

Cientistas norte-americanos, já no início da década de 80, descobriram uma onda cerebral que lhes permitiu observar o funcionamento da mente e até da consciência. Esta sutil onda cerebral só aparecia quando o indivíduo descobria uma falta de sentido no final de uma frase comum (“A faxineira varreu o chão com réguas”).

A onda aparecia registrada numa tela logo que a mente reagia ao absurdo. Trata-se então de uma sutil assinatura elétrica da mente humana, relatada pelo doutor Steven A. Hillyard da Universidade da Califórnia. Estes sinais que acompanhavam processos mentais específicos foram chamados event-related-potencials (ERPs).

A citada experiência científica comprova hoje, mais do que nunca, que, além de a vida do homem moderno ser regida por signos, os meios de comunicação empenham-se numa luta contra a ‘estereotipação’ da linguagem diária, uma vez que, quanto mais previsível for uma mensagem, tanto menor será a informação dessa mensagem. Isto não é nenhuma novidade. Compara-se a frase comum como “Ponha um vaso sobre a mesa” com a famosa e bem antiga frase de propaganda “Ponha um tigre no seu carro”.

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As mensagens criptográficas foram usadas nos anos 60 também como recurso de publicidade: no L.P. “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, lançado pelos Beatles em abril de 1967 na Inglaterra, e em outros long-playning subsequentes, havia uma série de “pistas” que indicavam uma suposta morte de um dos componentes da banda, Paul MacCartney. A capa do LP, que é uma verdadeira obra artística de montagem, apresentava uma série de índices e ícones como a mão espalmada sobre a cabeça de Paul (indicando parada) e, dentre numerosas fotos, a do poeta da morte, Edgar Allan Poe.

O cérebro do homem é uma máquina hipercomplexa que, embora com funcionamento globalizante, é inteiramente fracionado em suas funções, as quais vão desde a lembrança do nome de um amigo até as de resolução dos problemas mais intricados da vida de uma pessoa. O cérebro tem perto de trinta bilhões de neurônios, uma parte dos quais especializados, outra a ser desenvolvida ao longo da vida, conforme a vivência de cada pessoa. Há neurônios capazes de identificar cores; outras, formas; alguns, movimentos.

Os dois hemisférios cerebrais apresentam características diferentes.

O esquerdo encarrega-se das atividades lógicas, verbais e matemáticas: respeita a sequência, nomeia, encaixa, verifica linearmente, analisa, conceitua, usa signos linguísticos, considera importante a sintaxe.

O direito processa as imagens e a intuição: vê similaridade (é analógico), é emoção, busca os paradigmas e rejeita os sintagmas, usa signos icônicos (navega melhor no “Windows” do que no “DOS”, enxerga diversas informações ao mesmo tempo (simultaneidade).

A mente ocidental tende para o pensamento linear e a mente oriental para o pensamento em imagens. Os orientais utilizam intensamente os dois hemisférios cerebrais, uma vez que o idioma japonês é composto de ideogramas que correspondem a sons.

Quando lidos, a “imagem” ou desenho do ideograma é processado pelo hemisfério direito, enquanto o som correspondente ao vocábulo é interpretado pelo esquerdo. O mundo ocidental, reduzindo tudo ao discurso lógico ou ideológico, acabaria com o lobo direito do cérebro atrofiado.

Cremos nós que com a “invasão dos ícones” em todas as grandes cidades do ocidente, sobretudo nas mensagens publicitárias, nos videoclips, nas navegações pelo cyberspace (rede mundial de informação eivada de ícones), quebrar-se-á a “ilusão de contiguidade” e o mundo inteiro se orientará.

Tudo no mundo de hoje parece girar em torno da “informação”. As abordagens novas não se referem tanto à capacidade que o homem pós-moderno tem para aproveitar adequadamente suas potencialidades cerebrais. Fala-se em “revolução digital”, traduzindo-se a como competência para acesso à informação. Oras, o simples acesso à informação não se traduz por conhecimento. Haverá talvez necessidade de, num futuro próximo, automatização interpretativa do volume de informações que chegam até nós.

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Desde os primórdios da humanidade, buscam-se explicações para o processo do conhecimento humano. Muito cedo, pensadores da antiguidade formularam hipóteses e geraram teorias que definiam a expressão humana como um processo representativo de suas formas de ver o mundo. Assim descobriram o signo, conceituaram-no e o decompuseram na intenção de, desta forma, compreender o conhecimento humano.

A investigação semiótica abrange virtualmente todas as áreas do conhecimento envolvidas com as linguagens ou sistemas de significação, tais como a linguística (linguagem verbal), a matemática (linguagem dos números), a biologia (linguagem da vida), o direito (linguagem das leis), as artes (linguagem estética) etc.

Creio que agora podemos divisar, na História da Cultura, a ocorrência de um processo gradativo de abstração sígnica que vai do ícone ao símbolo (segundo a graduação das categorias de Peirce), pois o desenho da pedra mencionada anteriormente é um ícone, bem como o desenho da cabeça de um boi para representar o boi é índice do boi.

O índice, segundo Peirce, está fisicamente conectado com seu objeto, ambos formando um par orgânico. O desenho, enfim, da cabeça de um boi, feito nas paredes de uma caverna pelo Homo Sapiens, é em si um ícone, mas, como tem o objeto (boi) uma conexão de contiguidade (proximidade física), tornou-se um índice naquele momento. Poderá passar, no transcorrer dos séculos, porém, na escrita pictográfica, o símbolo. Como se viu, confirma-se a hipótese: primeiro veio a similaridade, depois a contiguidade.

A Semiótica, sabemos, está bem perto da origem da vida, uma vez que, sem informação e energia, aquela última não existe. Presume-se que o Universo tenha quinze bilhões de anos e sabe-se que ele não é somente este punhado de estrelas que vemos no céu à noite, quando não poluição. Apenas na nossa galáxia há 250 bilhões de estrelas; o que vemos é parte dela e há bilhões de galáxias no Universo.

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Se passaram a existir seres vivos na Terra, após o “Bing-Bang”, grande explosão de toda matéria universal, foi graças às fusões nucleares do interior das estrelas. Muito tempo deve ter passado até que nosso sistema planetário tivesse esta trajetória estável e talvez um bilhão de anos até o aparecimento de moléculas orgânicas sobre a Terra.

A descoberta do código genético revela-nos a vida como linguagem. Na análise da evolução da molécula de ADN (ácido desoxirribonucléico), substância universal portadora do referido código, percebeu-se que aquela é capaz de armazenar informações mediante uma linguagem entre átomos. Esta linguagem é valiosa e legítima para todos os seres vivos, chamados “máquinas químicas” que perambulam sobre a Terra.

A vida, portanto, depende de informação que, por sua vez, coordena a energia-geradora dos processos dinâmicos no meio biológico. O homem é um universo em miniatura. As vibrações de energia existentes no Cosmo também existem em cada célula do corpo e da mente do ser humano.

Cada célula cumpre sempre o papel que deve cumprir no instante biológico exato. Segundo Crocomo, cada molécula tem de saber o que as outras moléculas estão fazendo e cada molécula deve ser capaz de receber mensagens, devendo, por assim dizer, ser suficientemente disciplinada para obter ordens e em muitos casos transmitir mensagens.

Já neste ponto, é importante ressaltar que a biologia moderna se compõe de dois grandes ramos: a biologia molecular ou celular e a biologia evolutiva. A cronologia cósmica, a natureza foi conseguindo estocar mais e mais informações na molécula de ADN, e assim conseguiu organismos mais e mais complexos na escala evolutiva.

Se pudéssemos perguntar a Peirce sobre os fatos da História que ninguém conhece, por estarem perdidos na noite dos tempos, ele nos responderia com inúmeras indagações:

Deixarão essas coisas de realmente existir por inexiste qualquer esperança de o nosso conhecimento alcançá-las?

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Depois da morte do universo e depois de a vida ter cessado para sempre, não continuará a colisão de átomos, conquanto já não exista espírito que possa notar isso? E responderia: – ” Há uns poucos anos, não sabíamos de que substâncias são constituídas as estrelas, cuja luz para atingir-nos pode ter exigido tempo superior ao da existência da raça humana. Não se pode dizer, enfim, que haja uma questão que não possa vir a ser resolvida. Seja o que for que pensemos, temos presente à consciência ou sensação, imagem, concepção ou outra representação, servindo de signo. Mas segue-se da nossa própria existência que tudo aquilo que nos é presente constitui manifestação fenomenal de nossa pessoa”.

Outra pergunta a Peirce: – Que tipo de criaturas seremos dentro de 100 anos? Como hoje, ou profundamente diferentes?

Será que com isso estaremos mais perto de construir um cérebro artificial, uma máquina capaz de não só obedecer a comandos, mas também de mostrar que tem consciência de si mesma, “personalidade”? Ou de seu desejo de nos destruir. Potencialmente, seria um retorno ao mito de Frankenstein, mas, nesse caso, ganharia a criatura.

Algo a se pensar, não?

Peirce responderia:

– “A ideia é que máquinas inteligentes — a inteligência artificial (IA) — não só serão uma realidade como nos sobrepujarão. De certa forma, segue a ideia, nos tornaríamos obsoletos. A visão de um cérebro sem um corpo é muito simplista; se criarmos uma máquina inteligente, não será uma inteligência humana. Será outra coisa. E não temos a menor ideia da moral desse tipo de inteligência.”

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O cérebro humano é uma enorme megalópole eletrificada, em funcionamento 24 horas por dia, residência de bilhões de diferentes “etnias” de neurônios. Nessa grande urbe, cada um tem sua “profissão”. Visto como indivíduo, um neurônio pode parecer pouco importante. Se concebido como parte de uma fantástica teia de trabalho e produção, no entanto, consistem em uma das mais perfeitas e misteriosas criações da natureza.

O termo abrange um conjunto difuso de funções cognitivas, que incluem percepção, memória e várias outras. Assim, fica cada vez mais evidente a necessidade de se compreender a relação do homem e a infinidade de signos existentes em nossa sociedade atual.

A linguagem humana tem se multiplicado em várias formas e novas estruturas e novos meios de disseminação desta linguagem têm sido criado. Mas, precisamente sobre a monstruosidade, esta seria entendida como uma transgressão das leis estabelecidas, e tenta, através de sua presença singular, gerar o sentimento de temor, dúvida, aviso contra infrações ou punição. Tanto heróis quanto monstro vêm da crença, são estabelecidos pela forma de pensar de uma época, dando-se por trato ou pacto social, sempre gerado de um pensamento.

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O pensamento é o que gera a crença, e uma crença, nada mais é do que algo que se torna comum, que age sobre o indivíduo e que repercute, após fixar-se, em sua posterior maneira de pensar.

O surgimento da vida na Terra permanece um mistério. Apesar das várias explicações e teorias sobre a expansão da vida humana no planeta, a maioria dos conceitos acaba caindo em ensinamentos religiosos, ou em algum poder divino ou espiritual. A impossibilidade de vida alienígena parece bastante sólida para muita gente, mas a esperança é a última que morre e imaginação não falta aos humanos.

Como disse Einstein numa carta de 1955: “A distinção entre passado, presente e futuro é só uma ilusão, ainda que persistente”. Mas por que ilusão? Poucas coisas são mais concretas que a passagem do tempo.  A gente nasce sabendo que as horas passam no mesmo ritmo pra mim e pra você, que corremos para o futuro juntos.  Mas Einstein descobriu que não: no mundo de verdade a gente viaja pelo tempo toda hora. Seu próprio corpo é uma máquina do tempo.  Uma dimensão por onde a gente caminha sem parar. O futuro já aconteceu. E o livre-arbítrio não existe

Enquanto você está sentado, lendo este artigo, os segundos continuam passando, certo? Então é como se você cruzasse o tempo num trem invisível agora mesmo.

O futuro já aconteceu. E o livre-arbítrio não existe. É a última fronteira da ciência – e ela diz que o futuro, de certa forma, já está escrito.

Nesse mundo mágico, a liberdade de escolha, a sensação de livre-arbítrio, é absolutamente ilusória. As pessoas têm tanto poder para determinar seu amanhã quanto uma pedra tem para escolher o dela.

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Você vive, sim, num mundo mágico. Só não temos esse problema com jogos de futebol e vizinhos que moram no futuro porque as distorções do tempo na realidade que a gente enxerga são infinitesimais. Mas todas as propriedades do mundo mágico lá estão aqui mesmo: no fundo, nenhum relógio marca a mesma hora, ninguém vive o mesmo presente.  No fundo, nenhum relógio marca a mesma hora, ninguém vive o mesmo presente.

A mais bela e profunda experiência é a sensação do mistério. Esta é a semeadora da verdadeira ciência. Aquele a quem seja estranha tal sensação, aquele que não mais possa maravilhar-se e ser arrebatado pelo encantamento, não passa de um morto. (Einstein, 1954)

Como escritor, sempre me diverti, sem malícia, com as questões que as pessoas me fazem, por e-mail ou telefone, em palestras, em festas, no banco. “O que é um buraco negro?” “É verdade que encontraram água na Lua?” “Quando o Sol vai acabar?” Questões importantes para o sujeito, mas que não têm uma utilidade evidente.

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