Maria Marçal
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UMA CRÔNICA PARA HOMENAGEAR
Corre o tempo que os sentimentos de amor demoravam para chegar ao destinatário, mas compensava à espera porque, sentada frente a uma escravinha, se escrevia o que o coração nos ordenava com puro encantamento e a certeza de que rumávamos ao dono de nossos pensamentos.
Através das cartas alimentávamos as aves (sentido figurado).
Por outro lado, o custo da ansiedade em aguardar pela resposta era reparado pelas escritas recheadas de afeto, saudade, fato que gerava outro aditivo importante ao amor: a fidelidade.
O amar de antigamente tinha um cúmplice de peso: os Correios.
Às vezes, como agora nessa Era de relações informes, ocorriam equívocos também, porque não raro o que se postava não correspondia ao beijo dado, à selagem amorosa assumida no papel. Se formalizava ali um amor-fantasia.
E por que isso acontecia?
A resposta mais provável:
porque as cartas tinham – na sua essência – somente o melhor de cada um …vinham enfeitadas de sonhos, de ‘belas decisões’, que não se materializavam quando efetivamente ocorria o encontro.
As cartas enviadas (aqui genericamente falando) aos amores que não vingam merecem, hoje – como no mundo da internet, uma reflexão sobre a forma de conduzir experiências apaixonadas: é preciso que o pensamento de ambos reconheça quando se trata de vontade ou realidade.
As missivas da época, que omitiam – com certa infantilidade – sentimentos e comportamentos reais ao destinatário, não tiveram finais felizes já que nenhum relacionamento (serve para atualidade) sobrevive se não aflorarem as qualidades e defeitos dos envolvidos.
Os correios levam e trazem cartas, apenas isto, ficando com o amor a responsabilidade do reconhecimento das assinaturas.
Sejam bem vindas, portanto, as cartas que espelham a verdade de cada um.
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