Maria Marçal

No Caderno Donna de Zero Hora dominical me deparo com um texto significativo do surpreendente Fabrício Carpinejar.

O título: Sempre tem espaço no amor

Trata daquele momento tão decisivo em nossas vidas que é dividir ou retirar as roupas daqueles que ocupam o coração da gente por longo tempo ou numa eventual temporada de paixão.

Diz Carpinejar:

“Retirar as coisas é me selecionar. Não sofro com o ato, não é nenhuma renúncia.
É a alegria de mostrar que a minha vida estava incompleta mesmo, que ela veio me preencher” (nesse caso é sobre sua namorada para quem este abriu espaço no seu guarda-roupa).

Escovas de dente, pijamas e camisolas … balançam ora cá ora lá por conta de seus donos e também fazem parte desse universo de compartilhamentos.

Mas aqui estamos ditando sobre ‘armários para dois’.

Não acho que abrir espaço no guarda-roupa para alguém que estamos convivendo vá configurar plenitude existencial.

Percebi, nestes anos de divorciada e sozinha, que manter o armário com as minhas coisas e ter dificuldade de desocupar gavetas para o amor e/ou paixão é um divisor de águas.

As-Roupas-que-Entram-e-Saem

Dar espaço ao outro dentro de nossa casa é como chegarmos numa estrada bifurcada: de um lado está a liberdade – velha conhecida –  e, do outro, vimos a incógnita e persuasiva dualidade.

É quando paramos de viver nossa intrínseca individualidade e damos lugar a uma segunda pessoa, a outra escova de dente, gavetas desocupadas e, acima disso, temos que nos sentir melhores do que antes nesse compasso.

Acostumamos tanto com o mundo que criamos que a chegada do companheiro/a para dividir espaço, acrescer intimidades, de certa forma, nos põe em xeque-mate.

A mudança afeta o estabilizador.

Contudo, vejo como indispensável que as roupas que entram e saem de um relacionamento sejam postas ou retiradas dos armários pelas mãos do destino que queremos para nós sob o olhar atento do realismo.

Talvez Carpinejar ao dizer “Eu me cuido melhor quando alguém está comigo” tenha pensado com alma de apaixonado.

Eu, nas idas e vindas do destino, chego à conclusão que abrir gavetas, tirar e pôr roupas num relacionamento requer, antes de tudo, constatar se os espaços que disponibilizaremos ao outrem não me desabrigarão daquilo que já possuo como indispensável para meu conforto de bem viver.

Assim que penso, s.m.j..

cc. Fabrício Carpinejar (carpinejar@terra.com.br)

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