Nelson Valente
De uma feita, em visita a Israel, assisti a uma velha senhora aprendendo a ler. Estava diante de um computador e provinha do norte da África, embora falasse espanhol, dados conhecimentos do ladino.
Aproximei-me dela e perguntei se estava progredindo nos estudos. Ela me olhou com interesse e disse-me de pronto: “Na minha idade é muito difícil. Tenho cabeça dura”.
É claro que protestei. Para o aprendizado, não há limite de idade. Pode-se registrar o que ocorre no Japão nos dias de hoje, em que a expectativa de vida alcança os 80 anos para homens e 82 anos para as mulheres. Eles estudam até o fim dos seus dias, às voltas com as novas tecnologias e o processo acelerado de informatização.
O processo de reeducação, que se faz a partir dos 50 anos de idade, recicla para o trabalho, abrangendo inclusive novas funções. O importante, como afirma o professor e escritor Arnaldo Niskier, é não deixar o cidadão alijado das atividades produtivas, pois isso seria mortal.
Trabalha-se no Japão praticamente até o fim da vida, há fortes indicadores de reingresso nas universidades e adultos frequentam com assiduidade cursos de pós-graduação e reciclagem, numa belíssima volta às aulas. Tudo isso convivendo com alterações de grande significado, como a redução das jornadas de trabalho e a ampliação obrigatória do tempo destinado ao descanso e ao lazer, modificando-se a cultura do desprezo por essas atividades.
Havia uma certa lógica na repulsa ao lazer, se estava erigindo uma sociedade obcecada pelo trabalho e pelo aumento da produtividade a qualquer custo.
Todos esses elementos nos dão a convicção de que o Japão aprendeu a prestigiar a chamada educação continuada ou permanente, para tanto empregando mecanismos das modernas tecnologias educacionais, que hoje convivem com a mentalidade de valorização dos recursos humanos sem qualquer limite de idade.
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Nelson Valente é jornalista, professor universitário e escritor. Pesquisador nas áreas de psicanálise, comunicação, educação e semiótica. É mestre em Comunicação e Mercado e doutor em Comunicação e Artes. O autor também é especialista em Legislação Educacional, Psicanálise,Teoria da Comunicação e Tecnologia Educacional e já publicou 16 (dezesseis) livros sobre o ex-presidente Jânio Quadros e outros sobre educação, parapsicologia, psicanálise e semiótica, no total de 68 (sessenta e oito) livros e alguns no prelo. Ex-presidente da Academia Blumenauense de Letras/ALB, Acadêmico. Membro da Sociedade dos Escritores de Blumenau/SEB
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Quando FHC disse que quem se aposenta com menos de 50 anos (ou coisa parecida) é vagabundo, quase foi linchado. Ele não estava de todo errado, mas apenas expressou-se de forma inadequada. O que ele deveria ter dito era que o país que não aproveita a sua mão de obra das pessoas da terceira idade em diante é uma na
ção de fagabundos. Eu acho que não deveria haver previdência social subsidiada pelo governo, para aposentadoria por tempo de serviço, mas sim por incompatibilidade de determinada atividade com a idade do cidadão. Não faz sentido alguém que começou a trabalhar com 18 anos, aposentar-se com 53 (35 de tempo de serviço), em pleno vigor físico para continuar exercendo sua atividade profissional. Por isso, essa questão levantada pelo prof. Nelson Valente é muito oportuna e mostra, de certa forma, porque é que países como o Japão, com tão escassos recursos naturais, conseguem ser mais ricos que o Brasil, com toda essa fartura recebida da natureza.